quarta-feira, agosto 25, 2010

Educar na Cultura Digital - apontamentos de um debate instigante

Quem acompanhou o lançamento na Bienal do livro do Grupo de Estudos Educar na Cultura Digital, nova iniciativa do EducaRede, pôde acompanhar uma conversa inspiradíssima entre a Profa. Léa Fagundes e o Prof. André Lemos, um exercício de diálogo e reflexão envolvendo dois grandes pensadores de temas relacionados a cibercultura e à educação.
Como Lemos colocou com muita exatidão,o tema que nos diz respeito, enquanto profissionais, segue sendo o da educação - e ponto. A cultura digital é mais um dos elementos que se coloca na nossa mediação do dia a dia, mas nossa preocupação com um processo educacional de qualidade, com uma formação consistente, é a mesma, ainda que estejamos distantes do uso das tecnologias digitais.
Lemos foca sua atenção no estímulo à capacidade de leitura de seus alunos, entendendo que é preciso atuar para formar um leitor que não se deslumbre com a rapidez dos cliques nos hiperlinks, e possa ter fôlego para um texto mais longo, para uma compreensão do conjunto de idéias expressado por um autor. Nesse sentido, ele aponta a escola (e a Universidade aí incluída) como um espaço contracultural: se a tecnologia que vai se disseminando encaminha para um ritmo acelerado de consumo de conteúdos, uma tendência à fragmentação e à leitura superficial, o papel do educador é fazer o contraponto, convidar à paciência, demandar a leitura aprofundada e reflexiva.
Por outro lado, aponta com clareza alguns incômodos que fazem com que a instituição escolar apareça como estática, inerte diante às mudanças ao seu redor. Lemos fala dos discursos artificializantes que instituem a escola: a disciplina, a ordem, o currículo. Na rapidez das demandas do debate - aliás denunciadas por ele - não foi possível se prolongar nessas idéias, mas fiquei instigada em pensar onde daria essa reflexão sobre a artificialidade dos ritos escolares.
A Profa. Léa reforçou algumas idéias que seria fantástico caso se tornassem senso comum: máquinas e conexão, por si só, não garantem à escola processos educacionais que envolvam cultura digital; conteúdos empacotados digitalmente não promovem, instantaneamente, usos interessantes da Rede na escola.
Falando do conservadorismo da escola, Léa retoma alguns princípios que podemos constatar em vários dos projetos em que ela se envolve. Um deles é o da ruptura com a rigidez da seriação, das fileiras na sala, da homogeneidade das leituras, do professor como o provedor do saber ou das respostas prontas. Léa reforça a necessidade de uma mudança de posicionamento do professor, ao afirmar que é difícil ensinar se agente não se coloca como aprendiz.
A ênfase de Léa ao protagonismo extremado dos alunos - ela apresenta o professor como uma figura mais esmaecida - foi questionada por Lemos. Para ele, é preciso também que os alunos aprendam a ouvir e oferecer atenção a pessoas que muitas vezes tem muito a nos ensinar. É a partir desse exercício que nos colocamos em condição de aprender com falas como a da Prof. Léa, por exemplo.
Ao ser questionada sobre que produtos editoriais seriam adequados a esse fazer educacional, Léa destacou que não acredita em modelos nem em padronizações. Ela pergunta: a que nos levou a padronização ao longo da História? Não pude deixar de pensar na produção de Recursos Educacionais Abertos como um caminho interessante nessa perspectiva.
Todos esses pontos são uma ótima base para o lançamento do Grupo de Estudos. Espero que esse marco se consolide como um espaço de conversa dessa qualidade, e que mantenha-se dialogando com os demais espaços de conversa que povoam a Rede.

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quarta-feira, outubro 15, 2008

Tecnologia na educação em São Paulo: agora vai?

Está difícil não citar aqui as frequentes novidades que envolve tecnologia e educação no Estado de São Paulo, já que a cada dia há uma nova grande notícia.
Então, pra não deixar de registrar, vou citar algumas das últimas medidas da SEE, anunciadas pelo governador José Serra e a secretária Maria Helena Guimarães de Castro:
- 01/10 - Alunos estaduais terão aula sobre pirataria - projeto-piloto, em parceria com a Câmara Americana do Comércio (Amcham)
- 07/10 - Secretaria lança programa de pós-graduação na USP, Unesp e Unicamp para professores estaduais. Serão 16 cursos a distância, via internet; expectativa é atender 110 mil professores da rede já em 2009, em parceria com a USP, Unesp e Unicamp.
- 08/10 - Programa de Formação em Tecnologia para Professores - Secretaria de Estado da Educação e a Intel lançaram nesta quinta-feira, 9, parceria para oferecer a pelo menos cerca de 70 mil professores estaduais cursos de informática.
- 14/10 - E mail grátis para os alunos da Rede Pública. Serviço (5,5 milhões de conta) será oferecido pela Microsoft e faz parte de um programa de tecnologia na educação assinado nesta terça-feira entre a produtora de software e o governador José Serra.
- 15/10 - Secretaria financia com juro zero laptops para professores ( para cerca de 130 mil professores efetivos da rede e professores do Centro Paula Souza).A participação será por adesão.
Gente, tecnologia na educação virou prioridade...

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domingo, setembro 28, 2008

Tempo, tempos, um tema delicado

Estive recentemente conversando sobre idéias centrais da minha tese de doutorado com um grupo bem interessante, que denomina-se Praxis, formado por profissionais aqui de São Paulo que dedicam-se a iniciativas de aproximação entre tecnologias e educação.
Uma das formas que me pareceu interessante para aproximar o meu olhar à ação que se desenrola quando educadores interagem em fóruns foi o construto "agentes-agindo-com-ferramentas-culturais", proposto pelo psicólogo norte-americano James Wertsch. Assim, tanto a mudança dos agentes quanto a mudança das ferramentas culturais leva a uma nova ação a ser descrita (evidentemente é mais complexo que isso, mas fico por aqui nesse momento).
Quando pensamos na interação em fórum, o tema "questões temporais" aparece com muita evidência, pois a criação de um tempo de comunicação diferenciado é um dos diferenciais dessa ferramenta. E isso aparece de muitas formas: dificuldade com o ritmo das mensagens, lentidão de servidor, variedade das expectativas em relação aos frutos de um determinado diálogo. Defendo, portanto, que apropriar-se do fórum demanda superar esse momento de estranhamento, seja obtendo condições de acesso (com frequência e banda), seja logrando assenhorar-se do trato com a ferramenta, seja encontrando-se no grupo.
Um ponto que me chamou a atenção na conversa foi uma certa sensação de que "não há tempo", quer dizer, proporcionar aos cursantes tempo é um "luxo" que não podemos nos permitir. Isso é um problema, pois numa sociedade em que todos os processos são excessivamente acelerados, a impressão de escassez de tempo passa a ditar a orientação que imprimimos a tudo. E há alguns horizontes que não atingiremos pela indução dos processos. Um deles, por exemplo, é o fomento à aprendizagem com autonomia.
Ninguém ensina ninguém a exercitar-se de forma autônoma ditando-lhe o ritmo de seus passos, e, principalmente, impondo-lhe desde o início um ritmo intenso.
Entendo que projetos e cursos necessitam trabalhar dentro de prazos, e diante disso cabe às pessoas se organizarem para segui-los. Entretanto, escamotear as dificuldades de gestão temporal em nome das razões institucionais representa um passo para o insucesso. Ja temos tempo suficiente de experiência para sermos menos ingênuos em relação a esse quesito.

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sexta-feira, junho 20, 2008

Portal dos Professores e Banco de Objetos de Aprendizagem

Entraram no ar estes dias duas iniciativas do MEC para dar apoio à prática profissional de educadores. São o Portal do Professor e o Banco Internacional de Objetos Internacionais.
Trata-se de medidas importantes, num momento em que se fala em formação de um número bastante grande de professores. Por outro lado, seria muito bom ver pronunciamentos mais claros sobre o funcionamento do portal, a lógica da avaliação das propostas submetidas e dos objetos que comporão o banco, para ficar mais fácil tanto buscar conteúdos de interesse quanto submeter nossa contribuição pessoal.
Já me inscrevi como usuária do Portal do Professor (não consegui fazer o mesmo no Banco de Objetos, será que há como?). Ao acessar uma sugestão de aula, tenho possibilidade de classificá-la (de 1 a 5 estrelas), comentá-la ou até editá-la, sendo que neste caso eu figuraria como co-autora da aula. Fiz o teste - alterei uma letra de uma palavra e salvei no "espaço individual". Eu apareço como autora da aula, e o outro professor como autor original. A idéia não é ruim. Na era do remix, faz sentido reconhecer as novas autorias a partir de inspiração de experiências anteriores, mas uma mudança tão minúscula não é digna desse prêmio.
Outras possibilidades que gostaria de ver lá: inclusão de palavras-chave nas aulas criadas, que acompanhariaa a relevante prática de tageamento que a Rede tem disseminado. Isso poderia promover a utilização cruzada de ferramentas (delicious, flickr, youtube), além de facilitar muito a pesquisa.O link para o perfil dos demais participantes, pois isso auxiliaria a promover a interação e colaboração. Um perfil onde eu pudesse ver as aulas e materiais que os professores com quem fizesse contato guardaram, e caso percebesse interesse em comum, poderia aventar a possibilidade de um trabalho conjunto.
Muitas coisas ainda a explorar.
Uma questão de princípio para mim não ficou clara: será que não é essa uma grande oportunidade de se promover a filosofia do Creative Commons, de popularizar a idéia de produção compartilhada, e não Copyright? Por que então o renitente © , com todos os direitos reservados ao Ministério da Educação?
Que venham os aperfeiçoamentos, e que venham também os debates entre os professores, para entendermos melhor como fazer um uso interessante desses espaços.

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quinta-feira, maio 15, 2008

Evento na escola sobre comunicação digital

No dia 20/05 vai rolar uma atividade na escola (Vera Cruz) que promete boas conversas. É o Fórum do Ensino Médio, que este ano tem como tema "Comunicação digital: valores e comportamentos". Nessa manhã, reúnem todos os alunos das 3 séries, mais professores, orientadores e direção.
Num primeiro momento, o público divide-se entre duas mesas de debates.
Para uma delas, estão convidados o Juliano Spyers e a Bárbara Dieu (a Bee).
Para a outra, o Hernani Dimantas e a Simoneta Persichetti.
Após as falas dos palestrantes, há perguntas e falas do público.
Na segunda parte da manhã, os dois grupos se misturam e se dividem em grupos menores, para debates.
Como aquecimento, está circulando entre os alunos e professores a versão em português do "A máquina somos nós", esse anúncio da Telefônica Argentina eo texto "Nasce o homem algorítmico", do Silvio Meira.
Na reunião de preparação ontem, nossa sensação é que na esfera do discurso, o conservadorismo da meninada é maior que o nosso... Vamos ver na 3a feira...

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sábado, março 08, 2008

Descobrindo autores

Vez em quando a gente se depara com um autor e se pergunta: gente, mas como é que eu não tinha olhado pra esse sujeito antes? Foi o que aconteceu essa semana quando fui dar atenção a um artigo do Jay Lemke, que já havia acessado e guardado há tempos.
O Lemke, professor da Universidade de Michigan, é físico, e muito conhecido na área de ensino de ciência (e por tanto referências para os meus colegas lá do Lapeq).
Indo atrás do conjunto da obra, descobri que ele tem uma ampla atuação nas pesquisas de cunho sócio-cultural,inclusive reflexão sobre as especificidades dos processos cognitivos mediados pelo uso das novas mídias.
Fiquei fascinada também com os cursos que ele oferece e com os links que saem de lá.
A última ementa apresentada, de 2007, é sobre Letramento e Novas Mídias,com tudo o que isso engloba: ambientes virtuais, games, acessórios móveis, etc.
Objeto do desejo... uma temporada em Michigan nos próximos anos...

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quarta-feira, junho 27, 2007

Parabolicas para um mundo mais belo



Projeto de um artista holandês com crianças de uma "cidade satélite" de Amsterdam.
Da Fox News
Dica da lista do Metareciclagem.

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sexta-feira, abril 13, 2007

Celular Amordaçado


Boa esta coluna do Pedro Dória, em que ele fala das limitações de um aparelho tão disseminado como o celular, mas que não vai agregando novas funções quase óbvias porque não são de interesse comercial das operadoras de serviço. Isso já me chamava a atenção em relação ao número - se você não quiser se dar ao trabalho de avisar o mundo que seu número mudou, está impedido de procurar outra operadora, mais competitiva ou que adote alguma tecnologia que passe a te interessar mais. A ferramenta pode mais, o mercado não se interessa, e o usuário fica refém... Belo exemplo de que só a disseminação de tecnologia não dá conta de entender sua apropriação pela sociedade.

"Não faz muito, meu celular andou reclamando que não tinha mais espaço de memória para armazenar mensagens de texto. Estava entupido. Para receber o que estavam me enviando, seria preciso apagar outras. É coisa que sempre fiz com alguma freqüência, ir apagando o que era só cotidiano, ir mantendo o tinha por importante.

Só que não dava mais. Tudo o que sobrara me era caro. Aqueles recados que foram vindo ao longo do ano, que marcaram de uma forma ou de outra um período atribulado. Queria guardar como guardamos cartas, cartões postais, e-mails. Conectei o celular ao computador por Bluetooth. Vasculhei os diretórios abertos: estava lá o de fotos, o de filmes. O de mensagens de texto, não.

Vasculhei os menus do aparelho. Cada um. Nenhuma pista de como exportar as mensagens. Tentei reenviá-las, uma por uma, como se fossem e-mail. Não funcionou. A única maneira de salvar os trinta e poucos rabiscos de texto improvisados seria abrir uma por uma e digitar num processador de texto ao computador.

As mensagens foram apagadas. Num só comando. E ficou cá uma certa amargura para com o aparelho celular".

O artigo continua...

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quarta-feira, abril 11, 2007

Linda obra de engenharia, mas poderá o OLPC mudar o mundo?

Vai aí do Paul Lamb, post no Smart Mobs sobre o "Um Laptop por Criança", OLPC, como é conhecido em inglês.
Cita um outro artigo na Spectrum, que pergunta: "Nicholas Negroponte's $100 laptop is a sweet piece of engineering. But can it really change the world?"
Estou realmente na expectativa para ver o que vem pela frente com este projeto. Confesso que fico me segurando para não malhar, pois minha tendência é pensar na frouxidão com que tudo isso vai se dando, projeto pedagógico não evidenciado, pouco envolvimento dos professores, nenhuma clareza em relação à suporte, etc. É uma certa cultura do espontaneísmo que e incomoda: de o livro na mão que o aluno aprende a ler. Educação é mais do que isso.
Em todo caso, talvez minha intuição esteja equivocada, e a grande quantidade de máquinas circulando na mão da meninada realmente venha a ampliar as possibilidades de criação. Tomara.
De qualquer jeito, fiquei feliz em saber que há um pessoal na Faculdade Cásper Líbero, entre eles o Sérgio Amadeu, que está começando a discutir mais profundamente as implicações comunicacionais da distribuição de OLPCs. Pensar, estudar, pesquisar, isso tudo ajuda muito...

"There is an excellent article in IEEE Spectrum about the One Laptop Per Child $100 computer and the effort to distribute 100 million of these laptops in the developing world over the next several years. The scope of the project is amazing..."By any standard, the numbers are enormous: 100 million laptops is double the number produced annually throughout the world today. Simply meeting that target would almost surely cause global shortages of liquid-crystal displays and other key components."

The engineering in the laptop is supposed to be stunning, including a switchable grey to color screen viewable in direct sunlight, manual battery charging capabilities, low power requirements in the 3 Watt range (standard laptops require 30 Watts on average), and a battery charge of up to 25 hours. The user interface is also receiving great praise, along with features that allow the device to serve as a game console, home theatre, e-book, and more. The laptop is wireless and can connect with others to create a wireless mesh network.

I love the fact that these devices will likely be dolled out directly to kids themselves, and perhaps leapfrog beauracratic interferences by educational and other institutions. It will no doubt be an interesting experiment in techno-democracy and individualized learning. At the same time, one wonders how these devices will be maintained and supported for repairs, upgrades, etc.? Also wondering if, by the time they come fully on line, cell phone and other cheaper mobile device technology will make them obsolete???

Gotta ask also, WHY WE AREN'T LOOKING AT LOW COST COMPUTING FOR THE MANY THIRD WORLD NEIGHBORHOODS IN THE DEVELOPED WORLD TOO???"

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