terça-feira, novembro 01, 2011

Subjugados pelo Google e pelo Facebook

O segundo semestre de 2011 poderá ficar marcado, na história da internet, como o momento em que ficou evidente que nossa experiência de Rede está sendo pautada pelas decisões das corporações.
Google e Facebook, dois dos grandes protagonistas desse ato, nem simulam mais o seu pouco caso com as preferências dos usuários. Descontinuar um serviço ou alterá-lo expressivamente tem sido uma prática que já não surpreende mais ninguém, apesar dos protestos e do inconformismo de alguns.
Bom momento, talvez, para que as pessoas tenham claro duas verdades que às vezes permanecem obnubiladas (usei!) pelo lindo apelo marketeiro das empresas de mídia:
1) a "nuvem", esse lugar idílico onde depositamos os nossos textos (inclusive os desse blog), nossas fotos, nossos dados, não constitui um espaço etéreo, um território livre e sem limites, mas as jaulas muito bem cuidadinhas dos servidores das grandes empresas. E, portanto, seus textos, suas fotos,seus vídeos, seus likes, etc, são muito bem usados por essas empresas. E se vocês tem carinho por eles, prepare-se para armazená-los com você, pois nenhum contrato, daqueles que a gente clica no "Aceito" sem ler, impede que a "nuvem" se dissipe e você perca acesso um acervo cultivado ao longo de anos.
2) ao conceito de privacidade na Rede, entendido como um grau de discrição sobre nossa vida que muitas vezes gostaríamos de preservar, nossa imagem, nossas informações, não se pode opor um conceito de "público", como o fazemos na analogia "a casa/a rua". O fórum mais amplo a que temos nossas vidas expostas num Facebook, seja por nossos comentários, links, fotos que postamos ou que outros postam, não constitui um espaço público. Suas regras são determinadas nos escritórios de uma empresa, com objetivos próprios, sem nenhuma representação direta dos usuários.Trata-se de plataformas que fomentam a interação social, que possuem fins lucrativos, que dedicam grande empenho em oferecer-lhe uma experiência gostosa, como de rir das piadas de gente que tem um humor afinado com o teu, ou de sentir-se eficiente ao usar suas ferramentas de busca. O "público" da Rede, nesses casos, possui uma mediação indissociável da lógica "privada" das empresas que oferecem esses serviços.
Já que o Facebook e o Google vão nos ajudando na tarefa de desconstruir as ilusões de uma internet totalmente livre e isenta, pode ser que a primeira boa decisão de ano novo seja procurar um lugar mais seguro para ancorar esse blog. Em algum momento vai chegar a hora do blogspot.

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segunda-feira, abril 25, 2011

Surpreendida por interfaces digitais


Em tempos de variedades de interfaces digitais em todo tipo de equipamento ao nosso redor, a cada momento me deparo com exemplos que reforçam meu apoio à conceituação proposta pelo psicólogo James Wertsch: compreender a ação humana é ser capaz de descrever a relação de "agentes-agindo-com-ferramentas-culturais". Altere uma variável nessa relação e pode ter certeza que uma nova descrição será necessária.
Há alguns meses essa observação foi acionada ao dirigir um carro que, ao invés de possuir o velocimetro tradicional, possui um velocimetro que apresenta os algarismos correspondentes à velocidade do momento.
Não demorou muito para perceber que essa alteração gera um certo conforto mental. Há uma economia de operações quando posso simplesmente comparar o valor indicado nas placas da rua com o do velocimetro digital, sem precisar decodificar a informação indicada pelo movimento do ponteiro vermelho, para então concluir se estou dentro do limite permitido.
Caso estejam bem sinalizadas as vias, poderia arriscar o palpite de que motoristas dirigindo carros com velocimetros digitais (e predispostos a respeitarem as leis de trânsito, evidentemente) terão menos multas.
Recentemente, foi o Ipod Touch que me surpreendeu, por me oferecer uma "ferramenta cultural" diferenciada. Ao ouvir as canções de The Very Best of Sting & The Police , dei de cara com a letra de cada música na tela. Vejo agora, checando na internet, que não é exatamente uma novidade, mas me pegou totalmente de surpresa. Quantas e quantas vezes saímos de nosso caminho para ir atrás da letra de uma canção? Quanto da nossa improvisação já dedicamos à elocubrar sobre qual seria a letra, especialmente se ela estivesse sendo cantada em outro idioma? Quais os ganhos possíveis na aquisição de linguagem escrita e expansão do repertório poético e lexical para os jovens que crescerem tendo essa outra experiência de fruição cultural? Ouvir música, nesse cenário, torna-se uma ação que demanda novas descrições.

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quinta-feira, abril 22, 2010

Perdas e danos

Circulou recentemente a notícia que a NING deixará de oferecer seu serviço gratuito de ferramentas para comunidades virtuais, pelo menos da forma como vinha fazendo até hoje. Mais detalhes serão divulgados no dia 4 de maio, mas está explícito o compromisso de não haver suspensão súbita dos serviços, o desejo de oferecer planos com valores aceitáveis para as comunidades educacionais e filantrópicas que quiserem permanecer e, importantíssimo, caminhos para a migração do material que compõem as atuais comunidades. Não se trata, portanto, de um anúncio de apocalipse nas comunidades.
Entretanto, creio que é mais uma ocasião para refletir sobre os destinos de nossa produção na Rede. Alguns de nós já viveram uma situação desse tipo com o ocaso do Geocities. O que perdemos naquela situação? Depende do que possuíamos... No meu caso, páginas de conteúdo produzidas ao longo de alguns anos. Como tenho guardada a URL, tenho acesso a essas páginas pelo Internet Wayback Machine, literalmente, "a máquina do tempo da internet". Mas e quem não tem suas URLs do Geocities? E o que dizer da rede de links e relações que envolviam endereços no Geocities, como saber qual a extensão da perda com esse borramento da memória digital?
Outra situação desse tipo ocorreu quando a Yahoo! resolveu tirar de circulação o serviço de Disco Virtual que oferecia a seus assinantes. Usei durante muitos anos o "Briefcase" do Yahoo!, e devo ter sugerido a muita gente esse serviço como uma possibilidade de backup acessível a partir de qualquer computador com internet. Acredito que resgatei todos os meus arquivos antes da data fatídica de fechamento, mas essa, para mim, foi uma lacuna que ficou.
É preciso enfatizar, quando apresentamos a Internet e os espaços nela disponíveis para quem ainda está chegando, que o cuidado com a sua própria produção é de responsabilidade de cada um. Pode parecer óbvio, mas às vezes esquecemos que o produto digital possui uma natureza material que acarreta certos riscos. No campo educacional, tenho pensado que a criação de alguns espaços oferecidos pelo poder público deveriam ser estimulada, com um compromisso de estabilidade e perenidade que buscasse assegurar o registro da memória dos projetos. Há iniciativas, como o Portal do Professor, do MEC, e as comunidades do Cultura Digital, mantidas pelo Ministério da Cultura. Mas precisamos e podemos ir mais longe. Será que em termos de configuração esses espaços contemplam o que gostaríamos de ter a nossa disposição, em termos de ferramentas? Como casar as interações públicas e a manutenção de alguma privacidade nesses espaços? Qual a abordagem de propriedade intelectual desses espaços, seja na tecnologia utilizada ou na licença dos materiais que as povoam? É preciso que os educadores participem dessas discussões.
É verdade que a memória da educação não tem sido exatamente bem cuidada aqui no país, mesmo antes da era digital. Talvez seja esse um momento interessante de pensarmos nas perdas e danos que esse descaso acarreta.

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Outro post sobre o tema é do Sérgio F. Lima, "3 lições que os professores podem aprender com o NING" , vale à pena ler!

Aliás, nunca é demais complementar: o que disse sobre o Geocities e NING vale perfeitamente para o Blogger, plataforma que dá base e circulação a essas linhas.

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quarta-feira, julho 22, 2009

Blogagem, internet e educação

No ano passado, durante o Webcurrículo, a Renata Aquino convidou a mim e a Bárbara para uma conversa sobre usos de tecnologia na educação.
O podcast com as conversas foi ao ar agora, vejam aqui.
Ouvindo novamente ontem, gostei, achei que abordamos coisas importantes, de uma maneira muito sincera. E agora, tá na Rede!

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quarta-feira, julho 01, 2009

Flickr, Twitter, Blog, Orkut, Youtube: esteja em um, esteja em todos

O vídeo está no Youtube, mas pode ser visto Orkut ou inserido no blog.
A mensagem está no Twitter, mas será lida também no Facebook, ou na barra lateral do blog.
O interesse das diferentes plataformas de Redes Sociais em permitir a integração de conteúdos postados em serviços distintos é uma tendência fortíssima, seja pela oferta de códigos para "incorporar" (chamdos em inglês de "embedded") ou aplicativos que dão acesso e importam a informação (os famosos Widgets).
A novidade de hoje foi a integração entre o Flickr e o Twitter. Até agora, a remissão do Twitter a fotos era feita pelo Twitpic, aplicativo desenvolvido especialmente para isso. A integração com o Flickr é valiosa já que ele é um serviço no qual diversos usuários reúnem as suas fotos. Assim, torna-se desnecessário levar a foto ao Twitpic, se você vai integrá-la a seu acervo no Flickr depois.
Vejam aqui um tutorial sobre como integrar as fotos do Flickr ao Twitter.

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terça-feira, junho 23, 2009

O uso ético das mídias sociais

O uso da Rede para debate e contrapontos frente a situações polêmicas tem sido de grande riqueza. Quem está há tempos na internet sabe que isso não é novo, mas vai adquirindo ramificações e uma disseminação cada vez mais ampla com a adoção de ferramentas variadas por diversos segmentos da população, como foi o caso dos blogs e como está sendo o caso do Twitter.
No caso da greve na USP, esse fenômeno se repete. Há algumas questões, entretanto, que acho que precisam ser observadas.
A facilidade de produção das mídias digitais, sua publicação e disseminação faz com que nenhuma posição detenha o monopólio da expressão, o que é um ganho valioso para as sociedades democráticas. Antigamente, o "Estado de S. Paulo" dificilmente publicaria no mesmo dia o editorial 'Crise na USP: a peculiar noção do ‘direito sagrado de opinar’ tolhe outros direitos", criticando severamente os mesmos professores que são elogiados, no mesmo dia, por um texto como o do Luis Zanin, "Candido e a Oração aos Moços" . Essa plasticidade de vozes, com os órgãos tradicionais da Mídia reconhecendo e dando espaço para as idéias em confronto, é um dos bons frutos do fortalecimento da Rede.
Por outro lado, essa mesma multiplicidade desafia nossa capacidade de avaliação quanto às imagens que assistimos. Um exemplo disso é a contraposição entre esse vídeo sobre o confronto entre a PM e os manifestantes (que publiquei há dois post atrás) e esse outro, que mostra a tensão entre representantes do Sintusp (Sindicato dos Funcionários) e estudantes querendo entrar em sua unidade.

Ambos os vídeos causam repulsa, e podemos supor que a recusa da violência nos dois casos comprova a complexidade do xadrez político na USP. Por outro lado, se considerarmos a edição ou a criação de situações premeditadas para gravar uma reação de impacto, precisariamos considerar o desejo de manipulação que pode estar embutido nessas mídias.
Cheguei ao segundo vídeo por uma indição do Marcelo Tas no Twitter, outro cenário acirrado desse debate. Ele indicava o link (aliás, vi agora que repetia uma postagem do blog). Agregado ao link, a frase: "Olha a forma "democrática" como atuam os grevistas da USP. PM nesses vagabundos!" A postagem no Twitter rendeu protestos e apoios, e entre outras coisas uma campanha de #unfollow ao Tas, que tem mais de cem mil seguidores. A polêmica no blog também foi intensa, rendendo 169 comentários, e um post posterior do Tas se retratando, arrependido do termo "vagabundos", mas convicto de seu posicionamento.
Hoje, também por outra indicação do Twitter, cheguei à comunidade USP - Universidade de São Paulo no Orkut, que possui 47580 seguidores. Quem é o dono da comunidade? A indicação leva a um perfil de nome Comunidade USP, que por sua vez não nos leva a ninguém. Concluo daí que trata-se de alguém que não quer se identificar. E, portanto, não tem como representar ninguém ao mudar a imagem da comunidade e incluir, em letras garrafais "Alunos da USP contra os Reacionários do Sintusp".


Não sou contra o anonimato na Rede, mas acho questionável a postura ética de um anônimo que faz uso de uma comunidade numerosa para expressar apenas a sua posição pessoal. É possível que seja também a opinião de parte de seu público, mas nenhum deles foi consultado sobre seu desejo de se expressar daquela forma, menos ainda aqueles que discordam desse administrador. Minha crítica seria a mesma se nessa comunidade estivesse estampado "Fora Reitora". O que estamos vendo aqui é o "sequestro" de uma comunidade numerosa de seguidores à serviço de uma única voz do debate. Acho que esse comportamento deveria ser punido pelo Orkut.
Noves fora todos os desgastes que permeiam essas discussões, entendo que elas são abençoados sinais de que vivemos um rico momento de liberdade no país. O que deve nos motivar ainda mais para ficar de olho e não dar espaço a nenhuma armadilha que a venha suprimir.

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segunda-feira, maio 25, 2009

A disseminação da sociedade da vigilância

Nessa entrevista com o geógrafo norte-americano Jerome Dobson, leio boas reflexões sobre a tendência "vigilantista" que vai se disseminando ainda mais junto com os equipamentos eletrônicos que facilitam essa tendência. Boa para ajudar na reflexão sobre os avanços da limitação a nossa liberdade de existir e perâmbular incognitos.

Aliás, soube hoje, por esse comentário do Eduardo Ribeiro Augusto ao post do Jaime Balbino num blog do SENAED 2009, sobre Direitos Autorais e EAD, que "o artigo 46, inciso I (da Lei de Direitos Autorais 9610/98) visando a propagação da informação, faculta a reprodução na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publicado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de onde foram transcritos".
Transcrevo aqui então a entrevista feita por Rafael Garcia, publicada na Folha de São Paulo, no dia 24/05/2009.


Big Brother no varejo

Opressão de "1984" é praticada hoje por indivíduos, não pelo Estado, diz geógrafo Jerome Dobson

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O pesadelo imaginado por George Orwel no romance "1984" está se tornando realidade, afirma um dos geógrafos mais reconhecidos dos EUA. No clássico da ficção científica, o ditador Big Brother (grande irmão) exercia controle sobre os cidadãos rastreando-os com câmeras e telas. Isso acontece agora com cada vez mais frequência, mas na vida real não é obra de um tirano autoritário, afirma Jerome Dobson, presidente da Sociedade Geográfica Americana. "O problema agora são os "Little Brothers" (pequenos irmãos)", diz o cientista.
Criador do termo "geoescravidão", Dobson diz que o controle sobre a vida de indivíduos está acontecendo mais no varejo do que no atacado, e o grande culpado é o barateamento dos rastreadores com sistema de localização por satélite, o GPS.
Qualquer um disposto a pagar US$ 40 por mês pode rastrear uma pessoa 24 horas por dia, e, segundo ele, isso trará mudanças sociais profundas, alterando relações entre pais e filhos, maridos e esposas, patrões e empregados. Em entrevista à Folha por telefone, o pesquisador da Universidade do Kansas explica por que acredita que essa nova tecnologia precisa ter um controle de uso mais rígido.



FOLHA - O historiador Francis Fukuyama defende a ideia de que Orwel disseminou um medo errado em "1984" pois, quando a tecnologia da informação finalmente ganhou corpo com a internet e os celulares, ela trouxe liberdade para os indivíduos, não opressão. O GPS e os rastreadores, agora, são o contrário?
JEROME DOBSON - Há grande diferença entre o Big Brother de George Orwel e aquilo que está acontecendo hoje. Primeiro, o perigo do qual eu falo não é necessariamente hierárquico, imposto pelo governo aos indivíduos. O que estou dizendo é que há muito mais "Little Brothers" mundo afora. A habilidade de uma pessoa vigiar outra não é hierárquica, e abre caminho para vários tipos de relações de poder em que maridos controlam esposas, patrões controlam empregados etc.
O que acontece é que isso é uma forma de vigilância muito muito mais propensa a ser aceita do que propostas anteriores, como o Big Brother. Ela é uma forma muito mais eficiente e apresenta uma ameaça não só à privacidade, mas à liberdade pessoal. É a maior ameaça já experimentada pelos humanos às liberdades individuais.

FOLHA - Que exemplos desse tipo de abuso podem ser mencionados?
DOBSON - Veja o caso de Stacy Peterson, que a imprensa de Illinois [EUA] noticiou. É uma mulher que está desaparecida e seu marido, um policial, alega que ela simplesmente tinha ido embora. Mas descobriram que ele estava usando coordenadas do telefone celular dela para rastreá-la. E ela tinha ficado muito incomodada com isso.
Os amigos disseram que ela tentou se livrar daquele controle, mudando de telefone. Mas ele conseguia sempre usar os números para rastreá-la. O advogado do policial foi questionado num programa de TV e justificou o comportamento de seu cliente dizendo: "Bom, todos os policiais na delegacia estavam fazendo isso". Então, a tecnologia já está aí, em certo sentido. Certamente é uma ferramenta boa contra o crime, mas as pessoas honestas em atividades honestas também estão sob risco de serem observadas e controladas.

FOLHA - O sr. acha que já é hora de criar leis que impeçam a ocorrência de casos como o de Peterson?
DOBSON - Sim. Deveria haver legislação sobre isso. Há muitos casos em que o que está sendo analisado são os requisitos para as autoridades. Um departamento de polícia deve ou não precisar de um mandado para fazer isso? Alguns Estados fazem de um jeito, outros fazem de outro. Isso ainda está sendo aperfeiçoado no sistema legal.

FOLHA - Alguém que não é policial tem acesso a isso hoje? O sr. escreveu em um artigo que é possível monitorar uma pessoa 24 horas por dia pagando US$ 500 anuais.
DOBSON - Esses US$ 500 são o que você paga a um serviço simples. Você entra na internet e consegue achar esses produtos à venda. As taxas que cobram por um chamado Wherify Wireless [vendido como "rastreador de crianças"] são mais ou menos as da assinatura de um telefone celular. Provavelmente você terá de pagar US$ 200 por um aparelho básico, mais a taxa mensal de uns US$ 20.

FOLHA - O sr. diz que um uso benéfico dessa tecnologia é a capacidade de rastrear condenados pela justiça, em vez de prendê-los. Já há muitas experiências com isso?
DOBSON - É usado rotineiramente. O caso mais famoso é o de Martha Stewart, apresentadora de TV. Ela cometeu irregularidades em negociações de sua empresa e foi colocada sob prisão domiciliar. Tinha de usar, então, uma tornozeleira eletrônica com o rastreador.
Algo que tem de ser esclarecido é que quando juízes põem alguém sob esse tipo de confinamento, costumam chamar isso de encarceramento, com o mesmo significado da prisão em uma cela, no sentido jurídico. É uma prisão de extensão maior, mas não é liberdade.

FOLHA - O rastreamento deve ser sempre legal, quando consentido? Um patrão não pode coagir seus funcionários a portar rastreadores?
DOBSON - As pessoas devem negociar para decidir o que é válido para elas. Alguém pode se ver obrigado a usar isso se a alternativa for a demissão. Mas as pessoas se candidatariam a um emprego sabendo disso?
William Herbert, jurista especialista no aspecto legal do rastreamento, fez carreira no sindicalismo e desenvolveu argumentos para defender que isso não seja permitido. Mas eu tenho uma abordagem diferente. Acho que é uma questão que deve ser submetida a uma decisão pensada, tomada pelos próprios trabalhadores. Por exemplo, se um sindicato está negociando um contrato para seus afiliados, será que isso poderia ser posto na mesa como moeda de troca, assim como se faz com salários, jornadas, férias e benefícios de saúde? É algo que tem sido pouco debatido, mas acho que os sindicatos alguma hora vão reconhecer que isso é um custo para eles. Se as empresas acreditam que isso vai torná-las mais eficientes, então elas deveriam estar dispostas a pagar por isso.
Pessoalmente, eu não aceitaria um emprego assim. Insisto muito na minha independência de ação e nunca aceitaria ter de ficar relatando a alguém onde estou e o que estou fazendo, mesmo sem estar fazendo nada errado. Não quero pessoas bisbilhotando minhas coisas e sabendo onde estou. É uma questão de princípios para mim.

FOLHA - O sr. acha que os atentados terroristas de 2001 contribuíram para essa paranoia vigilante?
DOBSON - Sim. Temporariamente, eles alimentaram a tendência das pessoas a aceitar mais restrições. Mas tivemos uma eleição depois disso, e há indícios claros de que as pessoas estão preparadas para retornar aos seus princípios.

FOLHA - Como o sr. começou a se interessar por esse problema?
DOBSON - Estou nesse campo desde 1975. Trabalhei no Laboratório Nacional de Oakridge por 26 anos antes de vir para a Universidade do Kansas. Foi quando eu estava lá que essa nova capacidade de rastreamento se tornou uma questão importante. Na época, um empresário do setor privado foi ao laboratório e me pediu para ajudá-lo a construir um desses sistemas [de vigilância de empregados], mas eu me recusei.

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terça-feira, maio 12, 2009

Por que pratico o Copyfight

Já está na Rede, traduzido para o português, o artigo "Por que pratico o Copyfight", de Cory Doctorow, escritor e articulista de vários jornais e portais. Doctorow é uma das vozes mais atuantes na reflexão sobre o sentido do conceito "direitos autorais" - ou Copyright - nessa época em que a digitalização dos suportes da cultura facilita tremendamente sua replicação e circulação a custos irrelevantes.
O texto me impressionou por sua lucidez. Ele recupera a história do surgimento das tensões ao redor do controle da reprodução de produtos protegidos por copyright, a partir da popularização de tecnologias que facilitam a duplicação e circulação de músicas, textos e imagens. Coisas que vivemos nos anos 70 e 80 aqui no Brasil, época do gravador e da fita-cassete, das máquinas de xerox, do vídeo-cassete. Época em que gravar uma fita de presente para um amigo com suas músicas favoritas, copiadas de vários discos, não era uma atitude suspeita.
Doctorow faz uma associação perfeita entre a forma natural como retomamos e reutilizamos poemas, canções, histórias, trechos de filme, e a dinâmica da cultura que, antes de ser mercado, é uma prática social por meio da qual regulamos nossos sonhos, nossos limites, discutimos nosso passado, contamos a nós mesmos e ao mundo quem somos e quem gostaríamos de ser. Proibir o uso dos versos que constituem nossas memórias e nossos sentimentos, a citação às músicas que marcaram nossa vida, é como proibir o uso pelas nossas células dos nutrientes que consumimos nos alimentos. Ou seja, é pedir o impossível.
A cobrança pelo direito ao uso, à citação, à readaptação e à distribuição dos produtos culturais precisa ser repensada com um olhar atento ao mundo de hoje. Aliás, outro artigo essencial nesse momento foi escrito por Clay Shirky, "Jornais ou pensando o impensável". Ele fala sobre as diferentes posturas de profissionais relacionados ao mundo dos negócios na era da cultura imaterial, nesse período de transformação.
Não é à toa que as traduções dos dois artigos encontram-se no mesmo endereço: eles foram traduzidos em "mutirão", por pessoas ligadas nesse debate e que se sentem à vontade para ler e traduzir do inglês. A iniciativa é do projeto "Adote um parágrafo", capitaneado pelo Juliano Spyers, com a louvável intenção de ampliar o acesso a textos que nos parecem fundamentais para a compreensão dessas questões, eliminando a barreira da língua.
Participar do projeto, traduzindo alguns parágrafos e estando próxima a outras pessoas que, como eu, apostam em outros modelos de licenciamento para produtos culturais, é parte da minha contribuição pelo copyfight.

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quarta-feira, abril 29, 2009

Correndo atrás do próprio rabo

Nessas últimas semanas, muitas pessoas proximas andaram me perguntando sobre o Twitter. A midia é braba quando se trata de buscar novos assuntos, e a capa das revistas semanais nos últimos anos registraram as diversas ondas de disseminaçao das redes sociais: teve a temporada do Orkut, do Second Life, dos blogs, e assim por diante.
Quem está na Rede acompanha o surgimento dos diferentes aplicativos e espaços de interação e vai aderindo a eles, na medida dos usos que faz, das facilidades que encontra nas novas propostas e da simpatia que toma pelas funcionalidades, layout ou mesmo capital social reunido em cada plataforma.
Quem utiliza de forma mais funcional – correio eletrônico para trabalho e amigos, sites de busca para demandas do dia a dia, leitura de noticias e entretenimento, vive um bombardeio de noticias sobre as redes sociais, “contaminado”pelo entusiasmo da fala da mídia. Acaba ficando dificil, afinal, entender do que se trata.
Há algo suspeito no fato da Mídia celebrar cada novo grande funil de pageviews que surge na Rede, pois de certa maneira isso constitui uma forma de auto-promoção. A questão é que esse “canibalismo” de novidades acaba gerando muita desinformação. Ouvi outro dia, por exemplo, que os fóruns de discussão já ficaram para trás, pois a conversa, hoje, acontece nos blogs. Muita gente acha que o Orkut, só por que já está por aqui há alguns anos, perdeu sua popularidade. As comparações do Twitter com o MSN ou mesmo com o próprio Orkut são utilizadas indiscriminadamente.
Minha preocupação não é que nos tornemos todos amplamente versados na natureza das ferramentas de comunicação na internet. Sou contra um discurso que apregoa a adesão absoluta a todas as novidades tecnológicas como sinal de avanço da civilização e melhoria das perspectivas de vida na Terra. Isso é uma falácia. O desserviço que o “hype” da mídia presta (para usar um pouco de jargão) é consumir o tempo e as energias de quem poderia estar se dedicando a aperfeiçoar o seu trabalho com o enlevo em surfar na onda de toda e qualquer novidade. No caso dos educadores, principalmente, suspeito que estariamos melhor se houvesse menos preocupação de estar em toda parte.

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sexta-feira, abril 17, 2009

Twittando no Roda viva: Carlos Guilherme Mota

Nessa segunda-feira, 20/4, o programa Roda Viva, da TV Cultura, terá como entrevistado o historiador Carlos Guilherme Mota. Vou participar do programa comentando no Twitter.
Tenho acompanhado essa iniciativa da Tv Cultura desde o início, aliás já postei aqui e anunciei a entrevista do Prof. Setzer, programa memorável, em que a conversa paralela no Twitter foi riquíssima.
Para quem nunca acompanhou essa experiência de transmisão participativa, recomendo a experiência. A gravação do programa é feita às 18h30 e transmitida online, com pelo chat e cobertura pelo twitter. Às 22h00 vai ao ar na TV.
Quem quiser acompanhar, deve seguir a palavra chave #rodaviva.
Eu, no twitter, sou liliansta.

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quarta-feira, abril 15, 2009

"O liberalismo do Estado liberal" - online na USP

Dica para os interessados em história:
"O liberalismo do Estado liberal: os modelos de governança na Europa Ocidental oitocentista" é um curso que será ministrado pelo prof. Antonio Manuel Hespanha, da Universidade Nova de Lisboa nos dias 16 e 17 de abril de 2009, a partir das 14h, no Instituto de Estudos Brasileiros da USP (IEB).
O curso lotou. A boa notícia é que haverá transmissão on-line pelo site da IPTV/ USP.
Devo acompanhar e comentar no Twitter, meu login é liliansta e a palavra chave será #Hespanha.

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segunda-feira, abril 13, 2009

A diferenças das postagens em cada espaço da Rede

Na conversa com o George Siemens no The Hub, no último dia 03, apareceu novamente a observação sobre a natureza distinta das postagens, dependendo da ferramenta de publicação.
Siemens contava que, via Twitter, mais elementos de seu cotidiano circulam na Rede, como o episódio de suas compras em Sao Paulo, já que suas malas não chegaram e ele estava apenas com a roupa do corpo.
Lembrei de conversa recente com a Su Gutierrez na lista Edublogosfera. As discussões mais profundas tem rolado com mais facilidade no fórum do que em nossos blogs. Segundo a Sú, tem a ver com a preocupação maior que temos com a forma como nos expressamos nas postagens, a busca de clareza, coerência, correção do texto, qualidade da informação ou da reflexão que estamos expondo.
Essas demandas ocorrem também quando postamos em fóruns, mas com certeza há menos correções na hora de enviar. Ninguém se liga tanto se errou na digitação, se a frase saiu truncada, se a mensagem ficou telegráfica. Aliás, como muitas vezes nossa mensagem é resposta de outra com o mesmo tema, ou retomada de um assunto que sabemos que pertence ao repertório recente do conjunto de leitores, podemos escrever sem precisar contextualizar.
Volto às considerações sobre o quanto as capacidades, limitações e formas de circulação possibilitadas por cada ferramenta influenciam na nossa forma de expressar. O flash do momento, que é a cara do Twitter, presta-se perfeitamente para extravazar situações que não se prestariam a uma postagem. Como comunicação rápida para muitos, aliás, ocupa um espaço interessante.
Há uma questão direta de definição da audiência nesse paralelo entre escrever no fórum ou escrever no blog. Ainda que os fóruns tenham muitos participantes, criamos nossa idéia de comunidade leitora partir da dinâmica das conversas ao longo do tempo. No espaço do blog, essa noção é muito mais difusa, e talvez nos obrigue a "por roupa de domingo" na hora de postar.
E vamos dar sequência a essa conversa, afinal ter clareza da natureza desses espaços e dessas ações deve nos auxiliar a usá-las melhor.
-.-.-.-.-.-.-

Aliás, vejo que a Sú, nesse post, traz uma boa provocação para o adensamento da conversa nos comentários do blog, ao invés da lista. Certo, Sú, vamos verificar se isso contribui para a ampliação da conversa.

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sábado, abril 04, 2009

Projetos exemplares


Eu já era fã dos trabalhos da Gládis Leal e da Marli Fiorentin, mas ouvi-las falando sobre sua experiência e contando o que valorizam em seu trabalho no dia a dia é uma lição de foco, preocupação com o público alvo e compreensão do real potencial das ferramentas selecionadas.
O blog Vidas Secas: da ficção à realidade, pilotado pela Marli em 2005, surgiu a partir da observação das angústias locais num ano de forte estiagem. Esses jovens, de Nova Bassano, na região de Caxias do Sul, foram então conhecer o legado cultural produzido a partir de uma outra seca, muito distante, há muito tempo atrás. E a partir da literatura, do cinema, do desenho, da pintura, da escrita, puderam pensar em suas histórias de uma forma diferente.
O Palavra Aberta, da Gládis, partiu de vídeos produzidos no programa Conexão XXI, que aborda questões críticas para a vida social a partir da voz dos próprios jovens. A intenção da Gládis, que participou também na produção dos programas, era torná-los acessíveis a um número muito maior de pessoas e criar situações de reflexão conjunta sobre esses temas, reunindo alunos e professores de diversas localidades. Há pelo menos dez estados do Brasil que já participaram das conversas do Palavra Aberta.
Esse são só dois dos projetos que as duas tem para contar. O reconhecimento que tem recebido, com prêmios nacionais e internacionais, são um estímulo para outros educadores as tomarem como inspiração.

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sábado, março 28, 2009

O potencial de aprendizagem das Comunidades Virtuais - Interdidática 2009

Essa semana há Interdidática (1 - 3 de abril), no Palácio das Convenções do Anhembi.
Na 4a feira,às 17h20, falo sobre "O potencial de aprendizagem das Comunidades Virtuais".
O programa está bem interessante, seja nas palestras do fórum (veja aqui) ou dos seminários (aqui)
Sensação de ser um peixe minúsculo, ao lado de grandes nomes: George Siemens,Lizbeth Goodman, Léa Fagundes, Eduardo Chaves, Guiomar Namo de Mello, Beth Biancocini, entre outros.
Bom ter por perto gente com quem tenho trocado nos últimos anos, como a Gládis Leal, Marli Fiorentin, Ezequiel Menta e Mary Grace Martins.
Será que consigo ir contando ao longo da semana?

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sexta-feira, março 27, 2009

Para entender a internet

Para Entender a Internet


Foi lançado, na semana passada o ¨Para entender a internet" livro disponível online, gratuito, organizado pelo Juliano Spyers, um pequeno dicionário de grande ajuda nesse universo de tantas novidades e jargão próprio.

Esses são os temas que você vai encontrar por lá:

Noções: beta, capital social / Whuffie, cauda longa, co-working, cultura do remix, cyberpunk, ética hacker, interatividade, metodologias ágeis, rede social, viral, Web 2.0

Práticas: blog, bridge-blogger, comunidades de prática, consumer-to-consumer (C2C), Creative Commons, fotografia digital, jogos eletrônicos, jornalismo colaborativo, micro-blogging, mobile, Open Space / Barcamp, peer-to-peer (P2P), podcast, propaganda online, wiki

Desafios: brecha digital / exclusão digital, cyberbullying , ecologia digital, Lei Azeredo, Lei Eleitoral e internet, lixo eletrônico, pirataria, privacidade, spam, voluntariado em rede

Cada tema foi abordado, de forma suscinta, por algum autor que pensa e vivencia a Rede, e portanto fala evidentemente com conhecimento de causa, mas de uma forma sintética e numa linguagem acessível.

Ainda não consegui olhar com calma. Mas é bom saber que o material já está à disposição, chega pra suprir uma grande lacuna.

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quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Ainda o Twitter - instantes de expressão

Muita gente tem escrito coisas sobre o Twitter, que vão de impressões pessoais sobre o uso e a conveniência de acompanhar outras pessoas (vejam alguns posts, entre milhares: esse meu, um do Nepô e um do Sérgio), seja considerações acadêmicas sobre o papel que a ferramenta tem assumido. Nesse último quesito, ouvi a apresentação da Raquel Recuero sobre algumas conclusões de uma pesquisa que ela vem desenvolvendo.
Entendo que muitas pessoas se incomodem com a avalanche de informação, e nesse sentido, a sensação de submersão no streaming do Twitter não ajuda nem um pouco. Não é exatamente o meu caso, sou usuária ocasional (tipo algumas vezes por semana) e, sabendo que muita água rolou por lá, tenho completa despreocupação de entrar na correnteza do exato momento do login.
Em meio às variadas reflexões, acho que faltou identificar uma face que me interessa. Há uma contribuição que acrescenta às relações na Rede um tipo de conhecimento sobre o outro que não obrigatoriamente se faz presente na blogagem ou em fóruns. Isso vai do gosto musical ao tipo de programa no fim de semana, à sensação de descontração de quem mora na praia, às preferências culinárias e etílicas.
Acho que esses instantes de expressão absolutamente aleatórios possuem uma função importante no estabelecimento de relações mediadas pela Rede. Recuperam alguns matizes humanos de nosso dia a dia que a virtualização do contato sonega.

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terça-feira, dezembro 09, 2008

Wifi para todos no Campus da USP

Boa notícia hoje foi que o Campus da USP - SP - Cidade Universitária terá uma cobertura de internet sem fio gratuita para qualquer usuário de notebook ou celular que esteja em suas dependências externas (curioso testar em que limite funcionará dentro de auditórios e salas de aula também).
Curiosidade: quem manterá essa cobertura é a Nokia, e o Campus da USP foi eleito numa pesquisa feita na loja da Nokia no bairro dos Jardins. Aliás, a duração da experiência será de um ano - e quero ver depois a Universidade não dar continuidade ao acesso, muito esquisito obter essa facilidade e depois perdê-la.
Notícia veiculada pelo Everton.

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sexta-feira, dezembro 05, 2008

O engajamento dos alunos por Michael Wesch

Gosto muito dos videos produzidos pelos alunos do Michael Wesch, professor de etnografia da Universidade Estadual do Kansas. Todo mundo deve se lembrar dos clássicos "The Machine is Us/Using us" (versão em português aqui) e "A vision of students today".
Vejam uma recente entrevista com Wesch, em que ele fala sobre anti-ensino e sobre como envolver os alunos. Ainda não vi versão em português, se alguém tiver o tempo para legendar...

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quinta-feira, novembro 27, 2008

Demonização da internet

Tenho bronca de uma retórica que trata a internet como ferramenta do diabo.
Não é novidade que isso aconteça com diferentes expressões culturais, quando elas aportam algum tipo de modificação comportamental na sociedade. As mudanças estão ligadas, sem dúvida, a uma perda de controle da circulação de informação ou a formas menos aceitas de representação cultural, como era o caso da pintura expressionista, por exemplo, e também do rock and roll.Pouco depois que foi criada a imprensa, a Igreja divulgou o Index Proibitorium - leitura, só as autorizadas, as moralmente edificantes, as que não questionavam a instituição. Sobre a TV então, o quanto já não ouvimos? É a grande culpada pela violência no mundo, pela deterioração dos costumes, pelo emburrecimento das crianças.
Lembro-me que no início dos anos 80, ao lado de um irmão aficcionado pelos joguinhos do Donkey Kong, eu fazia terrorismo, dizendo que ele ia ficar burro como aquele gorila, se não desgrudasse do jogo. Não ficou. Nem eu tornei-me alienada por que assistia novela e gostava de música brega.
É preciso falar com um pouco mais de sofisticação sobre as influências da tecnologia, da cultura e do convívio social na formação das crianças. O artigo de Ethevaldo Siqueira, "Não abandone seu filho sozinho diante da internet", envereda com rapidez para o discurso da conspiração, da Rede que vai pular para fora da tela e esgoelar a criança. Se a internet não existisse, seu texto poderia igualmente se chamar "Não abandone seu filho". Pois é isso que se espera que os pais façam, já que tem o compromisso de educar, e isso significa mostrar-lhe o mundo, orientar-lhe sobre como ele funciona e auxiliá-lo a ter bases próprias para circular autonomamente por aí.
E como sabemos que a mídia adora fazer barulho, aproveitando essa exacerbação do discurso do medo, já está convidado o Valdemar Setzer, professor do IME-USP, grande apregoador do caráter nocivo dos computadores na formação de crianças e jovens, para participar do Roda Viva, na TV-CULTURA. É torcer para que hajam entrevistadores inteligentes por lá.

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quinta-feira, novembro 06, 2008

Cibercultura em debate

E na próxima semana, de 10 a 13 de novembro, teremos na PUC-SP o II Simpósio da ABCIBER - Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultural. Várias conferências e painéis temáticos interessantes.
Algumas figuras de referência: Rogério da Costa, Sérgio Amadeu, Lúcia Santaela, Marcos Palácios, Lucréssia Ferrara, André Lemos, Sueli Fragoso, Alex Primo, Raquel Recuero, Gilson Schwartz, Marcos Silva, Alexandra Okada... Muitos outros nomes, que talvez eu devesse mencionar aqui, mas ainda não conheço o trabalho.
Eu participo, na segunda-feira às 16h30, do Painel IV - Educação na Cibercultura II: Dialogia e dicotomia, com um artigo chamado Diálogos no ciberespaço: interação de professores num fórum de discussão. O texto já está disponível no site, gostei dessa antecipação.
A programação dos painéis e alguns textos podem ser acessados aqui.

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