Uso pedagógico dos jogos da Copa em escolas do Brasil
Num artigo chamado "Futebol na escola dá samba? Uso pedagógico dos jogos da Copa em escolas do Brasil negligencia particularidades da mídia e do ensino", que saiu na Folha de S. Paulo ontem, a professora Graça Setton aponta alguma questões a se pensar neste casamento entre mídia e ambiente escolar.
Convidada para auxiliar na formulação de um material didático utilizasse a Copa do Mundo como tema gerador para o trabalho com outros conteúdos na escola, Graça questiona esta tendência fácil de colocar a escola à reboque dos assuntos centrais da mídia, e à toque de caixa, como sempre.
A proposta teria vindo do ministro Fernando Haddad, que se encantou com um projeto na Argentina, que permitirá que as crianças assistam as partidas na escola e em paralelo promoverá o estudo, em diversas disciplinas. Afirma Graça:
"Pouco sabemos sobre esse projeto. Segundo matérias da Folha e do "La Nación", 30 mil escolas primárias e secundárias da rede pública e privada da Argentina irão receber um exemplar da publicação "A Mídia e o Mundial de Futebol da Alemanha 2006". Trata-se de um caderno de atividades, com 48 páginas, dirigidas a docentes das disciplinas de geografia, história e língua.Esse caderno foi financiado pela embaixada da Alemanha na Argentina e elaborado por profissionais do programa "Escola e Mídia", do Ministério da Educação local".
Ou seja, trata-se, de hoje para amanhã, criar uma versão brasileira para esta proposta Argentina, sem sequer levar em consideração que deveria haver um programa sendo desenvolvido na escola, que teria que ceder espaço para esta novidade. Isso é uma tradição curiosa aqui no Brasil: invade-se o espaço escolar com qualquer outro evento que destrua uma proposta pensada e em processo de realização pelos professores sem o menor constrangimento.O subtexto disso é muito claro: não há proposta nem programa nos espaços educacionais. Qualquer projeto que chegue lá oferecendo suas estratégias e conteúdos pode ser implementado a qualquer momento, e os professores ainda deveriam agradecer por não precisarem gastar seu tempo planejando!
Acho interessante a ponderação que ela faz sobre os cuidados a se propor a aliança Mídia & Escola:
"Não podemos esquecer que, para cumprir seu papel, a escola precisa selecionar e reestruturar os saberes. Precisa desenvolver métodos de transposição didática dos conteúdos, pois a transmissão não é direta. Precisa se armar de dispositivos mediadores da aprendizagem. Dessa feita, a escola é produtora de categorias do pensamento e criadora de formas de pensar originais que lhes dão certa particularidade".
Não pensem, por isso, que a autora é purista ou interessada em manter a TV à kilometros de distância da escola:
"Estou convencida de que a produção midiática revela-se interessante pedagogicamente, porque se trata de um discurso sobre a realidade. Juntamente com os discursos científico, religioso e/ou humanista, entre outros, ela compõe a narrativa da contemporaneidade. Trazer para o campo da educação o imaginário da cultura da mídia é ampliar o universo da escola. É oferecer um espaço de crítica para um dos discursos mais legitimados da atualidade. É uma oportunidade de desmistificar o mundo ilusório das realizações, é a possibilidade de politizar os conteúdos, é historicizar comportamentos e práticas sociais".
Acho que esta é uma discussão que precisa ser feita.
Convidada para auxiliar na formulação de um material didático utilizasse a Copa do Mundo como tema gerador para o trabalho com outros conteúdos na escola, Graça questiona esta tendência fácil de colocar a escola à reboque dos assuntos centrais da mídia, e à toque de caixa, como sempre.
A proposta teria vindo do ministro Fernando Haddad, que se encantou com um projeto na Argentina, que permitirá que as crianças assistam as partidas na escola e em paralelo promoverá o estudo, em diversas disciplinas. Afirma Graça:
"Pouco sabemos sobre esse projeto. Segundo matérias da Folha e do "La Nación", 30 mil escolas primárias e secundárias da rede pública e privada da Argentina irão receber um exemplar da publicação "A Mídia e o Mundial de Futebol da Alemanha 2006". Trata-se de um caderno de atividades, com 48 páginas, dirigidas a docentes das disciplinas de geografia, história e língua.Esse caderno foi financiado pela embaixada da Alemanha na Argentina e elaborado por profissionais do programa "Escola e Mídia", do Ministério da Educação local".
Ou seja, trata-se, de hoje para amanhã, criar uma versão brasileira para esta proposta Argentina, sem sequer levar em consideração que deveria haver um programa sendo desenvolvido na escola, que teria que ceder espaço para esta novidade. Isso é uma tradição curiosa aqui no Brasil: invade-se o espaço escolar com qualquer outro evento que destrua uma proposta pensada e em processo de realização pelos professores sem o menor constrangimento.O subtexto disso é muito claro: não há proposta nem programa nos espaços educacionais. Qualquer projeto que chegue lá oferecendo suas estratégias e conteúdos pode ser implementado a qualquer momento, e os professores ainda deveriam agradecer por não precisarem gastar seu tempo planejando!
Acho interessante a ponderação que ela faz sobre os cuidados a se propor a aliança Mídia & Escola:
"Não podemos esquecer que, para cumprir seu papel, a escola precisa selecionar e reestruturar os saberes. Precisa desenvolver métodos de transposição didática dos conteúdos, pois a transmissão não é direta. Precisa se armar de dispositivos mediadores da aprendizagem. Dessa feita, a escola é produtora de categorias do pensamento e criadora de formas de pensar originais que lhes dão certa particularidade".
Não pensem, por isso, que a autora é purista ou interessada em manter a TV à kilometros de distância da escola:
"Estou convencida de que a produção midiática revela-se interessante pedagogicamente, porque se trata de um discurso sobre a realidade. Juntamente com os discursos científico, religioso e/ou humanista, entre outros, ela compõe a narrativa da contemporaneidade. Trazer para o campo da educação o imaginário da cultura da mídia é ampliar o universo da escola. É oferecer um espaço de crítica para um dos discursos mais legitimados da atualidade. É uma oportunidade de desmistificar o mundo ilusório das realizações, é a possibilidade de politizar os conteúdos, é historicizar comportamentos e práticas sociais".
Acho que esta é uma discussão que precisa ser feita.
1 Comments:
É isso aí, vale à pena a escola conversar sobre estas coisas que estão enraízadas na nossa cultura! Coisas que nos fazem bem e nos fazem mal, coisas que mostram muito sobre como funciona a sociedade brasileira. Agora, será que só em ano de copa? E encima da hora?
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