O mercado e a inovação tecnológica na educação
Já há alguns meses eu havia lido um artigo do professor mexicano Guillermo Orozco Gómez, que se chama "Podemos ser mais criativos ao adotar a inovação tecnológica na educação?", e deixei para blogar com mais calma, achando que encontraria o momento para me alongar nas reflexões. Isso não aconteceu, mas já que eu voltei ao artigo hoje, provocada por uma discussão que tem rolado na Edublogosfera, vai aqui um trecho que me pareceu valioso, pela clareza com que ele trata sobre as limitações do mercado como motor das transformações educacionais:
"A problemática central aqui é a seguinte: por que uma perspectiva de livre mercado não é uma boa forma de se aproximar da inovação? Para responder a essa pergunta, a posição de Martín-Barbero (1998) resulta especialmente interessante e provocativa. Ele se questiona: o que é aquilo que o mercado não consegue fazer, ainda que se considere que seus simulacros sejam bons? E ele responde: em primeiro lugar, o mercado não conseguiu “sedimentar tradições” porque tudo o que é produzido evapora no ar, já que a tendência estrutural do mercado para generalizar e acelerar a obsolescência não traz apenas conseqüências para as coisas, os produtos enquanto tal, mas também para os modos e as instituições. Em segundo lugar, o “mercado não conseguiu criar laços sociais entre os sujeitos sociais” (Martín-Barbero,1998: 15) uma vez o mercado opera anonimamente segundo as lógicas de valor que representam somente trocas formais.
O que se revela preciso é a constituição de verdadeiros processos de construção e comunicação de sentido entre os sujeitos. E a respeito disso, Martín-Barbero enfatiza: ainda que essas trocas formais gerem algumas associações motivadas pelas promessas oferecidas pelos produtos e serviços para o consumidor, tais promessas geram satisfação ou frustração mas nunca sentido enquanto tal. E eis talvez a convicção maior de Martín-Barbero ao afirmar, em terceiro lugar, que o mercado é incapaz de gerar o que se chama de “inovação social”, já
que esse tipo de inovação supõe diferenças e solidariedades não-funcionais que implicam dissidências e resistências, enquanto o mercado “trabalha unicamente com lucros e perdas” (idem:16)".
"A problemática central aqui é a seguinte: por que uma perspectiva de livre mercado não é uma boa forma de se aproximar da inovação? Para responder a essa pergunta, a posição de Martín-Barbero (1998) resulta especialmente interessante e provocativa. Ele se questiona: o que é aquilo que o mercado não consegue fazer, ainda que se considere que seus simulacros sejam bons? E ele responde: em primeiro lugar, o mercado não conseguiu “sedimentar tradições” porque tudo o que é produzido evapora no ar, já que a tendência estrutural do mercado para generalizar e acelerar a obsolescência não traz apenas conseqüências para as coisas, os produtos enquanto tal, mas também para os modos e as instituições. Em segundo lugar, o “mercado não conseguiu criar laços sociais entre os sujeitos sociais” (Martín-Barbero,1998: 15) uma vez o mercado opera anonimamente segundo as lógicas de valor que representam somente trocas formais.
O que se revela preciso é a constituição de verdadeiros processos de construção e comunicação de sentido entre os sujeitos. E a respeito disso, Martín-Barbero enfatiza: ainda que essas trocas formais gerem algumas associações motivadas pelas promessas oferecidas pelos produtos e serviços para o consumidor, tais promessas geram satisfação ou frustração mas nunca sentido enquanto tal. E eis talvez a convicção maior de Martín-Barbero ao afirmar, em terceiro lugar, que o mercado é incapaz de gerar o que se chama de “inovação social”, já
que esse tipo de inovação supõe diferenças e solidariedades não-funcionais que implicam dissidências e resistências, enquanto o mercado “trabalha unicamente com lucros e perdas” (idem:16)".
2 Comments:
Lilian,
Interessante, mas não é esse mesmo mercado que tem nos proporcionado ferramentas que tem intensificado conexões, comunidades de prática? Não é este mesmo mercado que nos dá a chance de dar outros rumos à sala de aula? Nossa, quando vejo como a minha visão de práticas pedagógicas mudou desde que me inseri no meio digital...Não me entenda mal. Sei que há que se manter o olhar crítico, o foco social, a construção sadia das relações humanas e do saber, mas o que vivemos agora não é a possibilidade de realmente transformarmos modelos educacionais por meio de conexões inimagináveis com outros povos, da notícia em primeira mão via twitter, da multiperspectiva tão mais acessível atualmente? Talvez seja apenas ingênua ou sonhadora...
O que você acha?
Carla, eu acho que essas transformações que vc menciona desenvolveram-se até um momento sem a mão do mercado. Afinal, a internet tem uma história militar/universitária antes de ser apropriada pelo mercado. E as mesmas ferramentas que intensificam a conexão são pré- mercado.
Será que a gente poderia dizer que a grande entrada do mercado na produção de hardware, programas, serviços e infra-estrutura tem sido crítica para intensificar essas oportunidades? É aí que vem o lado ambíguo, pois ao mesmo tempo que põe à disposição novos produtos - o que resolve parte das nossas demandas digitais - te obriga a "fidelizar-se" como usuário (e num limite, consumidor) de outros.
E aí entra a questão de pensarmos a educação em sua escala mais ampla: é cabível acreditarmos que essa lógica de mercado, que orienta o nascimento e morte de alguns hardwares, programas e serviços, tem condições de pautar a orientação da inovação tecnológica abstendo-se de garantir seus próprios interesses?
Veja o caso da infra-estrutura, por exemplo: as operadoras de telefonia só estão ampliando sua área de cobertura e só criaram um compromisso de fornecimento de conexão com banda larga para muitas áreas do Brasil, até hoje relegadas, devido a uma enorme pressão governamental. Assim, se dependessemos só do mercado, essa cobertura não chegaria nunca...
abços
Lilian
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