Carlos Guilherme Mota no Roda Viva
Adorei acompanhar ao vivo e twittar a entrevista com o professor Carlos Guilherme Mota no Roda Viva.
Foi uma ótima entrevista. Houve uma boa combinação entre entrevistadores com perguntas e comentários inteligentes e um entrevistado que abordou todas as questões, embasando sua fala na tradição historiográfica mas ao mesmo tempo posicionando-se, sem se esconder na erudição.
Mostrou-se positivo em relação às perspectivas de mudanças, ao começar dizendo que não há nada "impossível"na História, vide eventos como a derrocada da URSS, a bomba de Hiroshima, a eleição de Lula ou de Obama. Mas recupera com igual consciência as "permanências" do conservadorismo: ainda estamos às voltas com os estamentos oligárquicos da primeira República, não há, nem na ação de Lula, nem no que insinua Obama, a desmontagem de um "Estado autocrático burguês".
Ao longo da revista, Mota cita e mostra a relevância da pesquisa histórica, sua e de seus colegas, lembrando quão pouca leitura há nas falas de exaltação do exemplo bolivariano, o parco conhecimento sobre figuras no pensamento brasileiro, a necessidade de se estressar que é preciso estudar, conhecer, divulgar História, se temos qualquer intenção de alcan;carmos uma sociedade mais madura.
Provocado a nomear figuras na história do Brasil que teriam tido condições de romper com o nosso "capitalismo senzaleiro", falou de Frei Caneca, Cipriano Barata, Silva Jardim como "jacobinos"em potencial. Retomou, depois, apontando Florestan Fernandes como outros desses ¨jacobinos", que marcou posição quanto aos destinos da cooptação de quem chega ao poder no Brasi, ao declarar que deixaria o PT caso o governo Lula se mimetizasse ao status quo. E, nesse sentido, falou da falta de radicalismo dos governos FHC e Lula: falta ir à raiz. E essa atuação esquiva, essa busca de "eterna conciliação", dá vazão a um continuo apagamento da memória.
Após tantas citações aos autores clássicos, como Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda, Raimundo Faoro, Paulo Freire, Darci Ribeiro, Celso Furtado, entre outros, é inevitável a pergunta:
não se fazem mais historiadores como antigamente? Mota contesta: a produção historiográfica, hoje, é abundante e densa, muitos estudos relevantes, tratando comcompeteência de temas espinhosos e fulcrais à sociedade brasileira. A questão hoje é outra: qual o lugar da Universidade na vida política e cultural do país? O que está calando a Universidade no Brasil?
Até a produção didática recebe elogios de sua parte, e mais uma vez estou de acordo: já foi o tempo de rejeitar, como conjunto, o livro didático, especialmente pelo fato dele ser apontado como tendencioso (e esquerdista). O mercado do livro didático se encaixa nas demandas do PNLE - isso implica em parâmetros, avaliações, peneira. Mota contextualiza a lacuna que a escola ainda não dá conta de cumprir: trata-se de um serviço que dobrou de tamanho em duas décadas, e evidentemente ainda não deu conta de absorver o contigente humano necessário para dar connta dessa tarefa. E, entre outros motivos, dada a remuneração pouco atrativa dos professores, a fragilidade de sua formação e sua más condições de trabalho. Superar essa lacuna demanda, segundo ele, um tanto de jacobinismo.
Tomara que entrevistas como essa possam inspirar novas ousadias,
Sobre cobrir via twitter, foi uma experiência interessante, em especial por que, dada a data e horário, havia poucas pessoas postando, então foi possível acompanhar os comentários e escrever os meus sem para isso me distrair demais da propria entrevista. Reitero que há ganhos em acompanhar, via twitter, o termômetro da recepção das idéias apresentadas. Essa conversa entre poucos rendeu alguns novos contatos, gente que possui temas de interesse próximos aos meus e que posta comentários de qualidade. Outra observação legal é o que foi retwittado, isso é, replicado em postagens dos demais. A retwittagem aponta o valor de um comentário e pode nos ajudar a perceber o quanto nossa escuta está aguçada nas sutilezas de um discurso.
Foi uma ótima entrevista. Houve uma boa combinação entre entrevistadores com perguntas e comentários inteligentes e um entrevistado que abordou todas as questões, embasando sua fala na tradição historiográfica mas ao mesmo tempo posicionando-se, sem se esconder na erudição.
Mostrou-se positivo em relação às perspectivas de mudanças, ao começar dizendo que não há nada "impossível"na História, vide eventos como a derrocada da URSS, a bomba de Hiroshima, a eleição de Lula ou de Obama. Mas recupera com igual consciência as "permanências" do conservadorismo: ainda estamos às voltas com os estamentos oligárquicos da primeira República, não há, nem na ação de Lula, nem no que insinua Obama, a desmontagem de um "Estado autocrático burguês".
Ao longo da revista, Mota cita e mostra a relevância da pesquisa histórica, sua e de seus colegas, lembrando quão pouca leitura há nas falas de exaltação do exemplo bolivariano, o parco conhecimento sobre figuras no pensamento brasileiro, a necessidade de se estressar que é preciso estudar, conhecer, divulgar História, se temos qualquer intenção de alcan;carmos uma sociedade mais madura.
Provocado a nomear figuras na história do Brasil que teriam tido condições de romper com o nosso "capitalismo senzaleiro", falou de Frei Caneca, Cipriano Barata, Silva Jardim como "jacobinos"em potencial. Retomou, depois, apontando Florestan Fernandes como outros desses ¨jacobinos", que marcou posição quanto aos destinos da cooptação de quem chega ao poder no Brasi, ao declarar que deixaria o PT caso o governo Lula se mimetizasse ao status quo. E, nesse sentido, falou da falta de radicalismo dos governos FHC e Lula: falta ir à raiz. E essa atuação esquiva, essa busca de "eterna conciliação", dá vazão a um continuo apagamento da memória.
Após tantas citações aos autores clássicos, como Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda, Raimundo Faoro, Paulo Freire, Darci Ribeiro, Celso Furtado, entre outros, é inevitável a pergunta:
não se fazem mais historiadores como antigamente? Mota contesta: a produção historiográfica, hoje, é abundante e densa, muitos estudos relevantes, tratando comcompeteência de temas espinhosos e fulcrais à sociedade brasileira. A questão hoje é outra: qual o lugar da Universidade na vida política e cultural do país? O que está calando a Universidade no Brasil?
Até a produção didática recebe elogios de sua parte, e mais uma vez estou de acordo: já foi o tempo de rejeitar, como conjunto, o livro didático, especialmente pelo fato dele ser apontado como tendencioso (e esquerdista). O mercado do livro didático se encaixa nas demandas do PNLE - isso implica em parâmetros, avaliações, peneira. Mota contextualiza a lacuna que a escola ainda não dá conta de cumprir: trata-se de um serviço que dobrou de tamanho em duas décadas, e evidentemente ainda não deu conta de absorver o contigente humano necessário para dar connta dessa tarefa. E, entre outros motivos, dada a remuneração pouco atrativa dos professores, a fragilidade de sua formação e sua más condições de trabalho. Superar essa lacuna demanda, segundo ele, um tanto de jacobinismo.
Tomara que entrevistas como essa possam inspirar novas ousadias,
Sobre cobrir via twitter, foi uma experiência interessante, em especial por que, dada a data e horário, havia poucas pessoas postando, então foi possível acompanhar os comentários e escrever os meus sem para isso me distrair demais da propria entrevista. Reitero que há ganhos em acompanhar, via twitter, o termômetro da recepção das idéias apresentadas. Essa conversa entre poucos rendeu alguns novos contatos, gente que possui temas de interesse próximos aos meus e que posta comentários de qualidade. Outra observação legal é o que foi retwittado, isso é, replicado em postagens dos demais. A retwittagem aponta o valor de um comentário e pode nos ajudar a perceber o quanto nossa escuta está aguçada nas sutilezas de um discurso.
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