O homem além da memória
Lendo o neurologista Oliver Sacks, encontro em seu texto "O Marinheiro Perdido":
"Que tipo de vida, se tanto, que tipo de mundo, que tipo de eu podem ser preservados em um homem que perdeu a maior parte de sua memória e, com ela, seu passado e seu ancoradouro no tempo?"
E assim começa a descrição do caso de seu paciente Jimmie, que tinha suas referências de vida congeladas num passado de três décadas atrás, e era incapaz de construir novas referências, de lembrar-se de algo que se passou minutos antes. Ele segue narrando, após uma sessão com Jimmie:
"Eu, de minha parte, estava dilacerado pela emoção - era confrangedor,era absurdo, era imensamento desconcertante pensar naquela vida no limbo, dissolvendo-se.
'Ele está, por assim dizer, isolado em um único momento da existência, com um fosso ou lacuna de esquecimento em toda a sua volta. [...] É um homem sem passado (ou futuro), preso em um momento que não tem sentido e muda constantemente'.(...)
Ele continua sobre suas reflexões de como auxiliá-lo:
'É só conectar' - mas como poderia estabelecer uma conexão, e como nós poderíamos ajudar nisso? Hume escreveu: "posso arriscar-me a afirmar que não passamos de um feixe ou coleção de diferentes sensações que sucedem perpetuamente umas às outras com uma rapidez inconcebível e se encontram em perpétuo fluxo e movimento". Em certo sentido,Jimmie fora reduzido a um ser hummeano (...) uma horrível redução de um homem a meros fluxo e mudança desconexos, incoerentes'.
Sacks escreve então a Luria, em busca de alguma inspiração sobre como tratá-lo. Recebe essa resposta:
"Faça o que sua perspicácia e seu coração sugerirem. Há pouca ou nenhuma esperança de recuperar sua memória. Mas um homem não consiste apenas em memória. Ele tem sentimento, vontade, sensibilidades, existência moral - aspectos sobre os quais a neuropsicologia não pode pronunciar-se. E e ali, além da esfera de uma psicologia impessoal, que você poderá encontrar modos de atingi-lo e mudá-lo. (...) Em termos neuropsicológicos, há pouco ou nada que você possa fazer;mas no que respeita o indivíduo, talvez você possa fazer muito".
O texto está em "O homem que confundiu sua mulher com um chapéu, cap.2.
"Que tipo de vida, se tanto, que tipo de mundo, que tipo de eu podem ser preservados em um homem que perdeu a maior parte de sua memória e, com ela, seu passado e seu ancoradouro no tempo?"
E assim começa a descrição do caso de seu paciente Jimmie, que tinha suas referências de vida congeladas num passado de três décadas atrás, e era incapaz de construir novas referências, de lembrar-se de algo que se passou minutos antes. Ele segue narrando, após uma sessão com Jimmie:
"Eu, de minha parte, estava dilacerado pela emoção - era confrangedor,era absurdo, era imensamento desconcertante pensar naquela vida no limbo, dissolvendo-se.
'Ele está, por assim dizer, isolado em um único momento da existência, com um fosso ou lacuna de esquecimento em toda a sua volta. [...] É um homem sem passado (ou futuro), preso em um momento que não tem sentido e muda constantemente'.(...)
Ele continua sobre suas reflexões de como auxiliá-lo:
'É só conectar' - mas como poderia estabelecer uma conexão, e como nós poderíamos ajudar nisso? Hume escreveu: "posso arriscar-me a afirmar que não passamos de um feixe ou coleção de diferentes sensações que sucedem perpetuamente umas às outras com uma rapidez inconcebível e se encontram em perpétuo fluxo e movimento". Em certo sentido,Jimmie fora reduzido a um ser hummeano (...) uma horrível redução de um homem a meros fluxo e mudança desconexos, incoerentes'.
Sacks escreve então a Luria, em busca de alguma inspiração sobre como tratá-lo. Recebe essa resposta:
"Faça o que sua perspicácia e seu coração sugerirem. Há pouca ou nenhuma esperança de recuperar sua memória. Mas um homem não consiste apenas em memória. Ele tem sentimento, vontade, sensibilidades, existência moral - aspectos sobre os quais a neuropsicologia não pode pronunciar-se. E e ali, além da esfera de uma psicologia impessoal, que você poderá encontrar modos de atingi-lo e mudá-lo. (...) Em termos neuropsicológicos, há pouco ou nada que você possa fazer;mas no que respeita o indivíduo, talvez você possa fazer muito".
O texto está em "O homem que confundiu sua mulher com um chapéu, cap.2.
Etiquetas: conexão, memória, neuropsicologia
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