Motivação de professores
Recebo muitas vezes pedidos de textos para serem usados em reuniões de professores, com o foco na motivação da equipe. É um pedido difícil de se atender, já que não é simples oferecer palavras genéricas para grupos cujo contexto eu desconheço. Seria necessário encontrar algo que pudesse ser comum às angústias de qualquer professor, independente de sua história pessoal, do perfil da escola em que ele leciona, do número de turmas e de alunos com quem trabalha, da especificidade de sua matéria, do diálogo possível entre ele, seus colegas e seus alunos, envolvendo as decisões necessárias para que uma escola possa se tornar um espaço de aprendizagem para todos.
Na abertura das atividades de 2010, tivemos na escola a visita do Prof. Lino de Macedo, docente de psicologia do desenvolvimento do Instituto de Psicologia da USP. O tema da conversa era "Disciplina no Ensino Médio", e reproduzo aqui algumas das idéias que ele trouxe na sua fala:
- A palavra "disciplina" tem a ver com "dizer" - daí o termo "discípulo", que corresponde a alguém que segue o que um outro diz. Daí a importância de pensarmos, na escola, em "quem diz"/"o que é dito"/"a quem diz".
- Numa época de supervalorização do "o que é dito", ou seja, o império dos conteúdos, parece que o adequado é suspender qualquer contribuição mais pessoal de "quem diz", em nome da eficiência e do programa. Prestar atenção a "a quem se diz", então, parece missão impossível... são tantos os alunos, tantas as demandas, tão escasso o tempo... Acrescento aqui uma observação minha: "quem diz", numa situação de aprendizagem, só consegue escuta e só pode aprender também quando está disposto a olhar, a ouvir e a dialogar com "a quem diz". Nossa falta de motivação, muitas vezes, tem um grande componente de solidão. E nossos alunos podem ser grandes companheiros, se estivermos abertos a conhecê-los e a ouvi-los.
- A ênfase na produção intelectual, separada da valorização da contribuição para o coletivo e do comportamento ético,esvazia iniciativas que apostam num fazer compartilhado, situação na qual aprendem tanto alunos quanto professores.
Lembro que quando comecei a trabalhar como professora, um coordenador a quem admiro muito fez um elogio que me surpreendeu. Ele estava muito satisfeito pelo fato de eu já ter conseguido criar vínculo com os alunos após um mês de aula - e "dando matéria"! Eu achei graça - não me passava pela cabeça que a minha ligação com aqueles jovens pudesse se estabelecer sem passar pelo objeto de estudo (em meu caso,a História). E até hoje tenho claro que tenho um lugar específico na comunidade escolar, que exerço com muito gosto, pois ensinar história é para mim um caminho para aprender história - seja pelas leituras a que tenho que me lançar, seja pelas perguntas inesperadas da turma, ou dos debates que enveredam por caminhos imprevisíveis. Acho que há muitos outros ensinamentos na minha relação com os alunos, além do conhecimento de História. Mas tenho convicção que nada disso existiria se o conteúdo do curso fosse esvaziado.
Por outro lado, as palavras do Prof. Lino deixaram suas marcas nas minhas decisões de começo de ano. Sim, vou fugir das tentações de maximizar o conteúdo, e apostar na capacidade dos alunos de correrem atrás, quando sentirem que não lembram tão bem assim aqueles temas que optei por não revisar. A aposta é de ir adiante e buscar ampliar os horizontes conectada nas questões que os mobilizam por que dizem respeito às suas vidas - e também à minha. Investirei na minha sensibilidade para identificar, para as minhas turmas, o que afinal é realmente essencial em termos de conteúdo. E de resto, procurarei privilegiar estratégias didáticas que contem com a minha contribuição, mas que dêem ênfase ao envolvimento dos alunos com o trabalho.
"Os adolescentes estão solitários e infelizes", disse o Prof. Lino. Nossa abertura, a dos adultos educadores que estão a seu lado todos os dias, talvez seja um passo importante para reencontrar a nossa própria motivação para ensinar e aprender em nosso cotidiano como professores.
Na abertura das atividades de 2010, tivemos na escola a visita do Prof. Lino de Macedo, docente de psicologia do desenvolvimento do Instituto de Psicologia da USP. O tema da conversa era "Disciplina no Ensino Médio", e reproduzo aqui algumas das idéias que ele trouxe na sua fala:
- A palavra "disciplina" tem a ver com "dizer" - daí o termo "discípulo", que corresponde a alguém que segue o que um outro diz. Daí a importância de pensarmos, na escola, em "quem diz"/"o que é dito"/"a quem diz".
- Numa época de supervalorização do "o que é dito", ou seja, o império dos conteúdos, parece que o adequado é suspender qualquer contribuição mais pessoal de "quem diz", em nome da eficiência e do programa. Prestar atenção a "a quem se diz", então, parece missão impossível... são tantos os alunos, tantas as demandas, tão escasso o tempo... Acrescento aqui uma observação minha: "quem diz", numa situação de aprendizagem, só consegue escuta e só pode aprender também quando está disposto a olhar, a ouvir e a dialogar com "a quem diz". Nossa falta de motivação, muitas vezes, tem um grande componente de solidão. E nossos alunos podem ser grandes companheiros, se estivermos abertos a conhecê-los e a ouvi-los.
- A ênfase na produção intelectual, separada da valorização da contribuição para o coletivo e do comportamento ético,esvazia iniciativas que apostam num fazer compartilhado, situação na qual aprendem tanto alunos quanto professores.
Lembro que quando comecei a trabalhar como professora, um coordenador a quem admiro muito fez um elogio que me surpreendeu. Ele estava muito satisfeito pelo fato de eu já ter conseguido criar vínculo com os alunos após um mês de aula - e "dando matéria"! Eu achei graça - não me passava pela cabeça que a minha ligação com aqueles jovens pudesse se estabelecer sem passar pelo objeto de estudo (em meu caso,a História). E até hoje tenho claro que tenho um lugar específico na comunidade escolar, que exerço com muito gosto, pois ensinar história é para mim um caminho para aprender história - seja pelas leituras a que tenho que me lançar, seja pelas perguntas inesperadas da turma, ou dos debates que enveredam por caminhos imprevisíveis. Acho que há muitos outros ensinamentos na minha relação com os alunos, além do conhecimento de História. Mas tenho convicção que nada disso existiria se o conteúdo do curso fosse esvaziado.
Por outro lado, as palavras do Prof. Lino deixaram suas marcas nas minhas decisões de começo de ano. Sim, vou fugir das tentações de maximizar o conteúdo, e apostar na capacidade dos alunos de correrem atrás, quando sentirem que não lembram tão bem assim aqueles temas que optei por não revisar. A aposta é de ir adiante e buscar ampliar os horizontes conectada nas questões que os mobilizam por que dizem respeito às suas vidas - e também à minha. Investirei na minha sensibilidade para identificar, para as minhas turmas, o que afinal é realmente essencial em termos de conteúdo. E de resto, procurarei privilegiar estratégias didáticas que contem com a minha contribuição, mas que dêem ênfase ao envolvimento dos alunos com o trabalho.
"Os adolescentes estão solitários e infelizes", disse o Prof. Lino. Nossa abertura, a dos adultos educadores que estão a seu lado todos os dias, talvez seja um passo importante para reencontrar a nossa própria motivação para ensinar e aprender em nosso cotidiano como professores.
1 Comments:
muito bom, Lilian. também voltar ao seu blog.
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