Perdas e danos
Circulou recentemente a notícia que a NING deixará de oferecer seu serviço gratuito de ferramentas para comunidades virtuais, pelo menos da forma como vinha fazendo até hoje. Mais detalhes serão divulgados no dia 4 de maio, mas está explícito o compromisso de não haver suspensão súbita dos serviços, o desejo de oferecer planos com valores aceitáveis para as comunidades educacionais e filantrópicas que quiserem permanecer e, importantíssimo, caminhos para a migração do material que compõem as atuais comunidades. Não se trata, portanto, de um anúncio de apocalipse nas comunidades.
Entretanto, creio que é mais uma ocasião para refletir sobre os destinos de nossa produção na Rede. Alguns de nós já viveram uma situação desse tipo com o ocaso do Geocities. O que perdemos naquela situação? Depende do que possuíamos... No meu caso, páginas de conteúdo produzidas ao longo de alguns anos. Como tenho guardada a URL, tenho acesso a essas páginas pelo Internet Wayback Machine, literalmente, "a máquina do tempo da internet". Mas e quem não tem suas URLs do Geocities? E o que dizer da rede de links e relações que envolviam endereços no Geocities, como saber qual a extensão da perda com esse borramento da memória digital?
Outra situação desse tipo ocorreu quando a Yahoo! resolveu tirar de circulação o serviço de Disco Virtual que oferecia a seus assinantes. Usei durante muitos anos o "Briefcase" do Yahoo!, e devo ter sugerido a muita gente esse serviço como uma possibilidade de backup acessível a partir de qualquer computador com internet. Acredito que resgatei todos os meus arquivos antes da data fatídica de fechamento, mas essa, para mim, foi uma lacuna que ficou.
É preciso enfatizar, quando apresentamos a Internet e os espaços nela disponíveis para quem ainda está chegando, que o cuidado com a sua própria produção é de responsabilidade de cada um. Pode parecer óbvio, mas às vezes esquecemos que o produto digital possui uma natureza material que acarreta certos riscos. No campo educacional, tenho pensado que a criação de alguns espaços oferecidos pelo poder público deveriam ser estimulada, com um compromisso de estabilidade e perenidade que buscasse assegurar o registro da memória dos projetos. Há iniciativas, como o Portal do Professor, do MEC, e as comunidades do Cultura Digital, mantidas pelo Ministério da Cultura. Mas precisamos e podemos ir mais longe. Será que em termos de configuração esses espaços contemplam o que gostaríamos de ter a nossa disposição, em termos de ferramentas? Como casar as interações públicas e a manutenção de alguma privacidade nesses espaços? Qual a abordagem de propriedade intelectual desses espaços, seja na tecnologia utilizada ou na licença dos materiais que as povoam? É preciso que os educadores participem dessas discussões.
É verdade que a memória da educação não tem sido exatamente bem cuidada aqui no país, mesmo antes da era digital. Talvez seja esse um momento interessante de pensarmos nas perdas e danos que esse descaso acarreta.
- x - x - x - x -
Outro post sobre o tema é do Sérgio F. Lima, "3 lições que os professores podem aprender com o NING" , vale à pena ler!
Aliás, nunca é demais complementar: o que disse sobre o Geocities e NING vale perfeitamente para o Blogger, plataforma que dá base e circulação a essas linhas.
Entretanto, creio que é mais uma ocasião para refletir sobre os destinos de nossa produção na Rede. Alguns de nós já viveram uma situação desse tipo com o ocaso do Geocities. O que perdemos naquela situação? Depende do que possuíamos... No meu caso, páginas de conteúdo produzidas ao longo de alguns anos. Como tenho guardada a URL, tenho acesso a essas páginas pelo Internet Wayback Machine, literalmente, "a máquina do tempo da internet". Mas e quem não tem suas URLs do Geocities? E o que dizer da rede de links e relações que envolviam endereços no Geocities, como saber qual a extensão da perda com esse borramento da memória digital?
Outra situação desse tipo ocorreu quando a Yahoo! resolveu tirar de circulação o serviço de Disco Virtual que oferecia a seus assinantes. Usei durante muitos anos o "Briefcase" do Yahoo!, e devo ter sugerido a muita gente esse serviço como uma possibilidade de backup acessível a partir de qualquer computador com internet. Acredito que resgatei todos os meus arquivos antes da data fatídica de fechamento, mas essa, para mim, foi uma lacuna que ficou.
É preciso enfatizar, quando apresentamos a Internet e os espaços nela disponíveis para quem ainda está chegando, que o cuidado com a sua própria produção é de responsabilidade de cada um. Pode parecer óbvio, mas às vezes esquecemos que o produto digital possui uma natureza material que acarreta certos riscos. No campo educacional, tenho pensado que a criação de alguns espaços oferecidos pelo poder público deveriam ser estimulada, com um compromisso de estabilidade e perenidade que buscasse assegurar o registro da memória dos projetos. Há iniciativas, como o Portal do Professor, do MEC, e as comunidades do Cultura Digital, mantidas pelo Ministério da Cultura. Mas precisamos e podemos ir mais longe. Será que em termos de configuração esses espaços contemplam o que gostaríamos de ter a nossa disposição, em termos de ferramentas? Como casar as interações públicas e a manutenção de alguma privacidade nesses espaços? Qual a abordagem de propriedade intelectual desses espaços, seja na tecnologia utilizada ou na licença dos materiais que as povoam? É preciso que os educadores participem dessas discussões.
É verdade que a memória da educação não tem sido exatamente bem cuidada aqui no país, mesmo antes da era digital. Talvez seja esse um momento interessante de pensarmos nas perdas e danos que esse descaso acarreta.
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Outro post sobre o tema é do Sérgio F. Lima, "3 lições que os professores podem aprender com o NING" , vale à pena ler!
Aliás, nunca é demais complementar: o que disse sobre o Geocities e NING vale perfeitamente para o Blogger, plataforma que dá base e circulação a essas linhas.
6 Comments:
Olá Lílian,
Interessantes colocações, o marketing da internet sugere um espaço milagroso, infinito, intocável e gratuito... tal como o marketing das tecnologias sugerem que o computador faz tudo e que não se precisa saber nada para seu uso...
Falácias comerciais, tais como as falácias ideológicas que circulam por aí.
Atraídos pela luz das maravilhas tecnológicas somos mariposas que se perdem.
Também perdi arquivos e produção no geocities e no yahoo... aprendi a manter um bakup das minhas coisas no meu HD e nos DVD que gravo uma vez por ano. E olha que eu não gosto de fazer bakup...
O que lamento, caso ocorra com o NING, não é a perda dos arquivos mas a perda dos contatos, dos endereços. Como toda mudança física, nem sempre divulgamos nossos novos endereços para todos e com isso perdemos nossas possibilidades de diálogos, mesmo que diálogos tardios.
Isso exigirá novos cadastros e novos contatos e nem sempre as pessoas se dispõe a preencher novas fichas com seus e-mails e perfis...
Prefiro que eles, lá no NING, tenham dó dos pequenos usuários, dos educadores e dos serviços filantrópicos.
Abraços
Rodrigo Vieira Ribeiro
Olá Rodrigo,
você acionou a palavra chave: marketing. é preciso poder ir além do ofuscamento, se não queremos ficar reféns!
estou de acordo de que há mais perdas do que arquivos e idéias, por isso mencionei um "borramento da memória digital", que inclui inúmeras relações!
Creio que o NING terá a sabedoria de não por a perder esse fluxo de acessos preciosos que possui.
Mas estamos sim sujeitos às inconstâncias dessas ofertas... Talvez até como em outras situações de nossa vida concreta, que a gente deixa de observar.
bom te ler por aqui
Bela e necessária reflexão, Lilian, sobre a volatilidade da memória virtual.
Esses dias perguntei no Twitter sobre como proteger meus marcadores no Delicious (onde entrei por "sua culpa" há cerca de um ano e já classifiquei quase 1600 páginas) sem o qual minha teia de referências desmoronaria.
Mais instituições deveriam, então, seguir o exemplo da Biblioteca do Congresso na recente "aquisição" do acervo do Twitter. Antes, porém, é preciso que reconheçam a importância das redes sociais como sede da inteligência coletiva.
Olá, Lilian!
Gostei muito do que escreveu. Quero fazer um eco na posição de que é necessário, para o bom desenvolvimento de projetos educativos, o apoio governamental com plataformas que nos assegurem o desenvolvimento e a manutenção de conteúdos.
Um beijinho!
Oi, Lilian!
Me enxergo nas palavras do Rodrigo: "Atraídos pela luz das maravilhas tecnológicas somos mariposas que se perdem."
Aos poucos vou aprendendo, com o Sérgio Lima, com vocês: menos é mais.
Se o Ning deixar de ser gratuito, vou ter que suspender "O Normal tá na rede!" É minha primeira perda...
Ou migrar... mas não tenho nem ideia de como se faz... estou no aguardo...
Bom seria a segurança para o desenvolvimento de nossos projetos nas escolas a partir de iniciativas do MEC...
Se os computadores estão nas escolas, se os professores estão recebendo formação e começando a usar as ferramentas da web nas aulas, é necessário se pensar em "plataformas que nos assegurem o desenvolvimento e a manutenção de conteúdos", como disse a Tati.
Abraços!
Olás,
Pois é, Augusto, talvez seja necessária alguma militância para chegarmos a esse tipo de consciência institucional. Por outro lado, é um momento em que essa negociação demandará pensar se é possível estabelecer critérios de relevância em relação ao que se preserva. Acho que irei ao evento de acervos digitais nessa semana, vamos ver o que dizem por lá.
Tati, Suely, obrigada pelo apoio.
Cada educador que dissemine essa idéia, ajudando a refletir sobre as expectativas que temos do poder público, auxilia a amplificar a voz desse grupo na Rede. Alguma hora a voz chega lá, não é?
abços
Lilian
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