sábado, dezembro 23, 2017

Um defeito de cor, livro nota 10 de Ana Maria Gonçalves

Tenho implicâncias com listas de leituras obrigatórias, em especial porque nosso sistema educacional tem se prestado a muitos desserviços em nome das extenuantes leituras das obras que "caem no vestibular".
Mas arrisco-me a afirmar: todos os alunos e alunas da escola básica deveriam ler Um defeito de cor antes de terminar o 3o ano do Ensino Médio. Ouçam no vídeo um trecho do prólogo.



Essa linda obra de Ana Maria Gonçalves, publicada em 2010, tem Kehindé como personagem principal e narradora, num texto que se organiza como um relato deixado a seus descendentes. Traz seus anos de menina no Daomé, passando por suas migrações no próprio continente africano, após a tomada das terras da família por guerreiros de um povo das imediações. O aprisionamento na costa do Atlântico, o suplício do navio negreiro. A solidão e a perplexidade com as transformações de sua história, as estratégias para entender e jogar melhor com a perversa condição da escravidão. O tornar-se mulher e a somatória de contradições e violências que populavam a existência das jovens naquela situação. Suas lutas pessoais em busca de liberdade e seu envolvimento em lutas coletivas pelo fim da escravidão. Os contextos dos conflitos políticos em busca pela Independência do Brasil e a dificuldade da população identificada localmente como portuguesa. A convivência entre as lutas políticas regionais contra o Império e as demandas específicas da população cativa.
O olhar de Kehindé, ou Luísa, nome cristão que adotou no Brasil, nos guia pela multiplicidade dos sentimentos: a curiosidade da criança, o fascínio pelas novidades, o desespero e a impotência, a solidariedade e a busca de parcerias. Também ganhamos, com a leitura do romance, mais intimidade com as referências da religião e das culturas dos povos africanos, pois é a partir desse alicerce que Kehindé compreende seu mundo e busca suporte e amparo.
Ana Maria Gonçalves nos traz, com sua narradora, uma sociedade profundamente desigual e violenta, mas que como todas as sociedades é composta de forma complexa: há pessoas rompem com papéis previamente formatados, há alianças inesperadas entre grupos religiosos altamente diversos, há  reviravoltas nos dilemas políticos. Uma obra que nos traz o contexto do século XIX no Brasil, propondo um olhar para a história que foge dos maniqueísmos.
Nesse trecho de abertura que li para o #saraunarede, destaca-se a palavra serendipidade. Não sei o quanto foi casual chegar a Um defeito de cor, já que recebi sugestões calorosas de meu colega Zelão, mestre de capoeira, e vi tantas outras boas referências citá-lo que fui atrás de conhecer. De qualquer maneira, chega num momento necessário. Agrega ao repertório literário da cultura brasileira uma obra que aborda a terrível trajetória da escravidão, vista pela sensibilidade de uma narradora que vivencia esse processo, e que traz um valioso olhar para a vida, para os afetos humanos e para as relações políticas que permeiam as relações no período abordado.
Essa postagem, que deveria ser curta, prolonga-se evidentemente devido a meu grande entusiasmo pelo livro. Trata-se de uma obra também volumosa, mas de uma leitura muito agradável e envolvente. Temos muito a ganhar, como sociedade, ao difundir e refletir sobre Um defeito de cor.

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sábado, março 01, 2008

Edublogosfera

Enriquecer a experiência da vida digital, para quem pretende ir mais longe do que os portais jornalísticos, passa por participar de listas de discussão. E quem acompanha listas sabe o gosto da aprendizagem por influência mútua, do valor que tem uma boa indicação, das relações de admiração e pareceria que podem se desenvolver por lá.
Com esse espírito de portas (e janelas) abertas para ampliar os horizontes da conversa sobre educação e tecnologia, estamos criando (Sérgio Lima, Suzana Gutierrez e eu) uma nova lista, a edublogosfera.
É uma lista aberta e não moderada, para expandir esse tricot que temos tecido sobre tantos temas diferentes, mas que formam quadradinhos da mesma manta: princípios educacionais, ferramentas e seus usos, projetos interessantes, políticas públicas, usos e abusos da mídia, condições de trabalho, eventos na área, enfim...
E o princípio auto-regulação vai imperar, esta é uma das grandes lições da vida em rede.
Quem quiser se aventurar, seja bem-vindo! Veja aqui mais detalhes sobre a edublogosfera.

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