Inovação e inteligência coletiva no Brasil
Presentes inesperados...
Ontem à noite soube que o Cliic 2.0 - Congresso Laboratório de Inovação e Inteligência Coletiva (na PUC-SP) estava sendo transmitido online. O evento tem sequência hoje á noite, e a conversa no twitter está usando a tag #cliic .
A mescla entre acadêmicos e representantes do setor corporativo já estava anunciada, mas não imaginei que as falas conseguissem expressar tão explicitamente o abismo ideológico dessas esferas. Aliás, desculpem a inexatidão, pois o grande responsável por essa clareza não aceitaria o título de acadêmico. Cláudio Prado, coordenador das políticas de Inclusão Digital do Ministério da Cultura durante a gestão do ministro Gilberto Gil, afirmou literalmente; "Eu não sou professor, eu sou hippie, escapei da deformação!"
Sua fala evidentemente destoa da do professor de marketing Ricardo Zanotta, que o antecedeu. Tratando da chamada "economia criativa", Zanotta exalta a criatividade do brasileiro, que conhece de perto - dá exemplos de seu envolvimento com a produção das escolas de samba. Mas para ele, "como nós vivemos no capitalismo, precisa pegar essa criatividade toda e fazer alguma coisa". Ou então das afirmações do professor Antonio Vico Mañas, da área de gestão de inovação, para quem "informação, comunicação e conhecimento - tudo isso se transformou em negócio - em novos negócios...".
O pensamento reflexivo estava bem representado pela Pollyana Ferrari, professora de jornalismo da PUC. Ela mostrou, com situações absolutamente atualizadas - o desastre do vôo 447 da Airfrance - como a mídia tradicional mantém-se surda às vozes da Rede, mesmo num momento de absoluta carência de informações. Para ela, a categoria dos jornalistas, acostumada a atuar sempre como a guardiã da informação e a pioneira em sua difusão, está aterrorizada com a súbita avalanche de informantes, bem mais ágeis em sua capacidade de disseminação de novos elementos para as pautas em evidência e criação de pautas inesperadas.
Reforçando as origens contraculturais da Rede, Cláudio Prado falava como um profeta. O digital é potencialmente subversivo, pela sua plasticidade no que diz respeito à circulação e reutilização. Essa qualidade lhe permite auxiliar na descontrução do monopólio dos Direitos Autorais, um dos principais sustentáculos da economia e da cultura do século XX. Hora, portanto, de olharmos para frente.
O ar profético de Cláudio Prado se acentua ainda quando ele narra as transformações que vê ocorrendo no Brasil. O investimento feito na criação dos Pontos de Cultura ia na linha de promover processos que desencadeassem novas criações a partir do acesso aos recursos digitais, mas com uma política consciente de perda do controle dos resultados pelo Estado. Polêmico, como sempre, mas coerente com a contracultura. Para Prado, a disseminação da banda larga como oferta pública, já em curso (e pelo jeito mais acelerada no Ceará e no Rio de Janeiro), vai atropelar as iniciativas de limitação de acesso e controle do uso. A Lei Azeredo é incômoda e deve ser combatida, mas não parece ser uma preocupação enorme para ele: é uma lei que não tem futuro. Daqui a 5 anos, afirma Cláudio Prado, todo mundo vai ter conexão de banda larga de boa qualidade no Brasil, e isso ocorrerá nas barbas das teles.
A enorme distância entre o Brasil vislumbrado por Prado e o país descrito por Zanatto e Vico Mañas deixa à mostra as sérias contradições que permeiam a gestão dos temas relativos à disseminação das Tecnologias da Informação e Comunicação atualmente. Existe síntese possível entre esses dois universos?
Ontem à noite soube que o Cliic 2.0 - Congresso Laboratório de Inovação e Inteligência Coletiva (na PUC-SP) estava sendo transmitido online. O evento tem sequência hoje á noite, e a conversa no twitter está usando a tag #cliic .
A mescla entre acadêmicos e representantes do setor corporativo já estava anunciada, mas não imaginei que as falas conseguissem expressar tão explicitamente o abismo ideológico dessas esferas. Aliás, desculpem a inexatidão, pois o grande responsável por essa clareza não aceitaria o título de acadêmico. Cláudio Prado, coordenador das políticas de Inclusão Digital do Ministério da Cultura durante a gestão do ministro Gilberto Gil, afirmou literalmente; "Eu não sou professor, eu sou hippie, escapei da deformação!"
Sua fala evidentemente destoa da do professor de marketing Ricardo Zanotta, que o antecedeu. Tratando da chamada "economia criativa", Zanotta exalta a criatividade do brasileiro, que conhece de perto - dá exemplos de seu envolvimento com a produção das escolas de samba. Mas para ele, "como nós vivemos no capitalismo, precisa pegar essa criatividade toda e fazer alguma coisa". Ou então das afirmações do professor Antonio Vico Mañas, da área de gestão de inovação, para quem "informação, comunicação e conhecimento - tudo isso se transformou em negócio - em novos negócios...".
O pensamento reflexivo estava bem representado pela Pollyana Ferrari, professora de jornalismo da PUC. Ela mostrou, com situações absolutamente atualizadas - o desastre do vôo 447 da Airfrance - como a mídia tradicional mantém-se surda às vozes da Rede, mesmo num momento de absoluta carência de informações. Para ela, a categoria dos jornalistas, acostumada a atuar sempre como a guardiã da informação e a pioneira em sua difusão, está aterrorizada com a súbita avalanche de informantes, bem mais ágeis em sua capacidade de disseminação de novos elementos para as pautas em evidência e criação de pautas inesperadas.
Reforçando as origens contraculturais da Rede, Cláudio Prado falava como um profeta. O digital é potencialmente subversivo, pela sua plasticidade no que diz respeito à circulação e reutilização. Essa qualidade lhe permite auxiliar na descontrução do monopólio dos Direitos Autorais, um dos principais sustentáculos da economia e da cultura do século XX. Hora, portanto, de olharmos para frente.
O ar profético de Cláudio Prado se acentua ainda quando ele narra as transformações que vê ocorrendo no Brasil. O investimento feito na criação dos Pontos de Cultura ia na linha de promover processos que desencadeassem novas criações a partir do acesso aos recursos digitais, mas com uma política consciente de perda do controle dos resultados pelo Estado. Polêmico, como sempre, mas coerente com a contracultura. Para Prado, a disseminação da banda larga como oferta pública, já em curso (e pelo jeito mais acelerada no Ceará e no Rio de Janeiro), vai atropelar as iniciativas de limitação de acesso e controle do uso. A Lei Azeredo é incômoda e deve ser combatida, mas não parece ser uma preocupação enorme para ele: é uma lei que não tem futuro. Daqui a 5 anos, afirma Cláudio Prado, todo mundo vai ter conexão de banda larga de boa qualidade no Brasil, e isso ocorrerá nas barbas das teles.
A enorme distância entre o Brasil vislumbrado por Prado e o país descrito por Zanatto e Vico Mañas deixa à mostra as sérias contradições que permeiam a gestão dos temas relativos à disseminação das Tecnologias da Informação e Comunicação atualmente. Existe síntese possível entre esses dois universos?
Etiquetas: evento
2 Comments:
Opa Lilian!
É este filtro analítico dos blogues que me faz simplesmente ignorar o twitter.
Eu prefiro a reflexão decantada e não a descrição ejaculada em tempo real :-)
Oi companheiro...
que bom te ler por aqui...
engraçado, em parte é preciso reconhecer que produzir reflexivamente toma mais tempo que fazer anotações esparsas (como no twitter). por outros lado, enquantto estou ocupada me comunicando por lá, passa o tempo, e aí é que não dá mesmo...
Mas pra não dizer que dei o braço a torcer, mais uma vez foram ricas as conversas e contatos que passei a ter ou retomei por que estava comentando o Cliic no Twitter, o que reforça o meu ponto que não é só hype, mas uma ferramenta que me permite possibilidades que não estão contempladas no chat, na blogagem, nas listas etc.
abços
Enviar um comentário
<< Home