Saramago e o ato de blogar
Tenho acompanhado o Caderno de Saramago, blog do escritor iniciado em setembro desse ano.
No começo impliquei com o fato dos comentários estarem desabilitados, mas pensando melhor entendi que, uma vez que ele não se disporia a dialogar com os inúmeros comentadores que apareceriam, realmente não há sentido em manter a opção de interação.
Há algo de específico na sua escritura em blog, que seria diferente caso o espaço de publicação fosse uma coluna, fosse impressa ou digital. As marcas de cotidiano presentes em suas postagens provavelmente se perderiam ou ficariam esmaecidas numa coluna com periodicidade marcada e tamanho definido. Saramago sabe que tem audiência, portanto não há que se esperar por uma narrativa excessivamente intimista, a não ser quando sua opção literária for a de narrar a intimidade.
E assim, em meios aos seus vinte e tantos posts publicados a cada mês, ele cotidianamente vai produzindo textos de variadas naturezas:
- reflexões filosóficas sobre a esperança e a utopia, como em Velhos e novos
- leituras e sugestões políticas para o contexto internacional, como em Guantanamo e Novo Capitalismo;
- detalhes sobre negociações que, sim, interessam a leitores, como o processo que levou-o a aceitar a adaptação de Ensaio sobre a Cegueira para o cinema, em Fernando Meireles e Cia;
- uma reminiscência de uma amizade, que nos dá acesso a um texto brilhante,"Do imemorial ou a dança do tempo", de uma personalidade pouco conhecida, Eduardo Lourenço;
- narrativas de uma simplicidade desconcertante, como o pouco caso dos serviços nos aeroportos do Brasil, em Gado.
Em A página infinita da internet contava ontem, um pouco surpreso, que muitos dos presentes a sua coletiva de imprensa dirigiam-lhe questões sobre sua produção no blog. E pergunta:
"Será que, aqui, melhor dito, nos assemelhamos todos? É isto o mais parecido com o poder dos cidadãos? Somos mais companheiros quando escrevemos na Internet? Não tenho respostas, apenas constato as perguntas. E gosto de estar escrevendo aqui agora. Não sei se é mais democrático, sei que me sinto igual ao jovem de cabelo alvoroçado e óculos de aro, que com os seus vinte e poucos anos, me questionava. Seguramente para um blog".
Talvez tenhamos em breve outras contribuições do Saramago sobre a natureza da produção literária que se concretiza no momento de blogar. Tomara.
No começo impliquei com o fato dos comentários estarem desabilitados, mas pensando melhor entendi que, uma vez que ele não se disporia a dialogar com os inúmeros comentadores que apareceriam, realmente não há sentido em manter a opção de interação.
Há algo de específico na sua escritura em blog, que seria diferente caso o espaço de publicação fosse uma coluna, fosse impressa ou digital. As marcas de cotidiano presentes em suas postagens provavelmente se perderiam ou ficariam esmaecidas numa coluna com periodicidade marcada e tamanho definido. Saramago sabe que tem audiência, portanto não há que se esperar por uma narrativa excessivamente intimista, a não ser quando sua opção literária for a de narrar a intimidade.
E assim, em meios aos seus vinte e tantos posts publicados a cada mês, ele cotidianamente vai produzindo textos de variadas naturezas:
- reflexões filosóficas sobre a esperança e a utopia, como em Velhos e novos
- leituras e sugestões políticas para o contexto internacional, como em Guantanamo e Novo Capitalismo;
- detalhes sobre negociações que, sim, interessam a leitores, como o processo que levou-o a aceitar a adaptação de Ensaio sobre a Cegueira para o cinema, em Fernando Meireles e Cia;
- uma reminiscência de uma amizade, que nos dá acesso a um texto brilhante,"Do imemorial ou a dança do tempo", de uma personalidade pouco conhecida, Eduardo Lourenço;
- narrativas de uma simplicidade desconcertante, como o pouco caso dos serviços nos aeroportos do Brasil, em Gado.
Em A página infinita da internet contava ontem, um pouco surpreso, que muitos dos presentes a sua coletiva de imprensa dirigiam-lhe questões sobre sua produção no blog. E pergunta:
"Será que, aqui, melhor dito, nos assemelhamos todos? É isto o mais parecido com o poder dos cidadãos? Somos mais companheiros quando escrevemos na Internet? Não tenho respostas, apenas constato as perguntas. E gosto de estar escrevendo aqui agora. Não sei se é mais democrático, sei que me sinto igual ao jovem de cabelo alvoroçado e óculos de aro, que com os seus vinte e poucos anos, me questionava. Seguramente para um blog".
Talvez tenhamos em breve outras contribuições do Saramago sobre a natureza da produção literária que se concretiza no momento de blogar. Tomara.
Etiquetas: blog, gêneros, literatura, saramago
2 Comments:
Oi, Lilian
Adorei encontrar aqui Saramago. Soube do blog pelo jornal, mas sabe aquela pilha de periódicos que separamos para ler depois e o dia nunca chega? Pois é, sem tempo e trabalho acumulado!
Também acho que, algumas vezes, ficamos olhando para o nosso umbigo.
Concordo quando você diz que poderíamos ajudar. A prática da cidadania é fundamenta e precisamos repensar nossas atitudes.
Abraços.
Oi Fátima,
Pois é, e como se acumulam as coisas para ler...
Ontem ao escrever o post percebi uma coisa: o Google Reader pode servir para mais coisas, além de para nos avisar do que de novo foi postado. Foi muito mais fácil encontrar os posts que eu queria linkar pelo Reader do que no próprio blog, cujos arquivos são organizados por mês.
Vc usa? Compartilhar links por lá tem sido uma experiência muito rica também.
abço
Lilian
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