domingo, novembro 16, 2008

Twitter, twemes e a apropriação das tecnologias

Quando a gente se encanta com uma nova tecnologia ou com um novo conjunto de tecnologias articuladas?
Ao que parece, quando sua existência nos permite usos ainda não cobertos por outras precedentes, ou aperfeiçoamento de propostas já disseminadas. Na semana que termina, fiquei muito instigada com a associação Twitter+Twemes, em situação evidentemente proporcionada pela existência de auditórios com cobertura WIFI e disposição dos organizadores do eventos para transmitir ao vivo suas sessões pela internet.
A coincidência de horário entre a a mesa da noite no simpósio da Associação Brasileira de Pesquisadores de Cibercultura (ABCiber) e o debate com o Jimmy Walles, fundador da Wikipedia, no Centro Cultural São Paulo, obrigou parte do público a optar por um deles. Eu permaneci na PUC, e me dispus, como outros companheiros da audiência, a anotar no Twitter minhas impressões sobre as falas dos participantes. Descobri que havia transmissão online do debate com o Wales diretamente do Centro Cultural, e assim pude rapidamente acompanhar o que estava se passando lá, e tirar minhas próprias conclusões sobre a escolha que havia feito.
Eramos pelo menos quatro pessoas twittando no mesmo auditório. Com a tag #abciber no início da mensagem, pude acompanhar, pelo Twemes, os comentários da Raquel Recuero, do Carlos Nepomuceno e da Adriana Amaral. A Sú Gutierrez escrevia de Porto Alegre, de onde acompanhava a transmissão online da ABCiber. Pouco depois soube pela Raquel que #wikidebate era a tag usada no debate do Wales, e assim passei a acompanhar os comentários de alguns participantes daquele evento.
Foi uma experiência empolgante. A associação dessas ferramentas permite que você acompanhe a fala do palestrantes, mas ao mesmo tempo a reação de outros colegas a essa fala - ou, como diria Bakhtin, a "atitude ativamente responsiva" de outros sujeitos frente a um mesmo enunciado. É um pouco como a conversa paralela na aula ou na sala de cinema, mas que logra existir sem som e com pessoas distantes fisicamente de você. Os comentários, que, aliás, podem ser encontrados no Twemes posteriormente, oferecem a quem quiser, um conjunto de impressões sobre a situação, sejam eles diretamente relacionados às idéias em debates, sejam a aspectos da infra-estrutura ou do comportamento do público.
Na manhã de 3a, por exemplo, houve problemas na transmissão online, e eu, que havia permanecido em casa devido a necessidade de adiantar outros trabalhos, só consegui acompanhar por meio dos comentários. Ao mesmo tempo, conseguimos acionar algumas pessoas no auditório para pedir provdência quanto ao som. Na manhã de 4a, ocupada na sala de aula durante todo o período, a cobertura da Raquel no Twitter foi fundamental para ter mais claro do que se tratava a palestra do Alex Primo, também relacionada a gêneros nos enunciados produzidos na internet, área de interesse da minha pesquisa.
A fala do André Lemos, na noite de 3a, descreveu com muita inteligência aquela cena curiosa, mas que está se tornando frequente: parte dos presentes na audiência, iluminados pela tela do laptop em seu colo, com a atenção esgazeada entre o discurso do painelista e os comentários de seus colegas, ou seja lá que outro atrativo drenando a sua atenção do espaço presente naquele momento. Na verdade, isso é uma imprecisão, pois os demais colegas twiteiros podem ser parte do espaço presente. A atenção é desfocada da voz de um emissor central, detentor legítimo daquele espaço de tempo, para um exercicio de multivocalidade entre a audiência (presente e distante). Não há novidade no desfocar da atenção, que não nasceu com o computador nem com a internet. A novidade é a ânsia por essa partilha de reações coetâneas ao enunciado, e que em algumas situações podem ser de grande valia, e em outras uma atitude compulsiva, que traz mais perdas (como qualidade da escuta) do que ganhos.

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10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Puxa Lilian, li agora seus dois posts e que experiência maravilhosa hem ? Muito legal mesmo...

Eu tentei me conectar um dos dias aqui no Japão, acho que na terça, mas não consegui. Mas voc6e acabou de me dizer que treça foi realmente problemátioc né ? A questão dos horários também não ajudou muito, pois 13 horas de diferença fica complicado. As palestras começavam muito tarde aqui.

Um beijo e espero poder participar da próxima.

Lys

4:20 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ah ! Eu acho que a Ale Okada está organiznado um workshop. Quando eu souber de mais detalhes te aviso tá bom ?

mais beijocas
Lys

4:21 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Lilian, tudo bem?

Nâo vivi a parte de ver de fora, mas o que acontecia dentro da sala + o twitter e até postei sobre isso.

Acredito que vamos acertar a mão das coberturas....Interessante saber que para você foi útil, pois eu senti uma certa repetição, ainda mais que havia o vídeo, que acabou caindo.

Gostei muito da sua apresentação e foi conhecer seu trabalho,

um abraço,

Nepomuceno

6:48 da tarde  
Blogger Lilian said...

Olás,
Lys, realmente a 3a foi o momento mais caótico, eu acabei desistindo de acompanhar. Avise se souber do workshop da Alexandra...
Nepomuceno, será que a repetição não é inevitável? agora, imagine para quem não estava lá e só acompanhou pelo Twitter - repetição pode ser sinal de ênfase em um ponto.
Também gostei desse encontro na Abciber, aliás, ainda tenho umas dicas de bibliografia que pretendo te passar!
abços

12:03 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Opa Lilian!

Muito legal sua reflexão/descrição do uso do Twitter.

Uma pergunta (meio rabugenta e meio curiosa) é se a discussão de algo em tempo real é sempre produtiva?

Há tempo para que a s idéias decantem o suficiente para uma discussão?

As conversas paralelas (metáfora que você usou) podem ser produtivas, muitas vezes não!

Como distinguir um caso do outro, ou como você disse, como separar a compulsão pelo imediato de uma conversação distribuída de um envento?

bjs

7:07 da manhã  
Blogger raquel said...

Oi! :D

Adorei ver que tens um blog! Eu não sabia (#shame on me#). Já está nos meus feeds! :D

Bj

8:40 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

saudade de ti

12:37 da tarde  
Blogger Lilian said...

Ôpa Sérgio,
bela discussão! numa primeira resposta rápida, te digo que depende da conversa... e depois, voltando pra SP e pensando melhor, escrevo mais sobre isso...
Raquel,bem-vinda, eu que não sabia que divulgo tão mal o blog...
Anne, bom te ver por aqui, saudade de ti também...
abços de uma praia com chuva...
Lilian

5:36 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Excelente post!

Cheguei aqui graças a um comentário do Sérgio.

Sou um entusiasta do twitter, mas não o vejo como uma ferramenta para cubrir eventos. Para isso há coisas como o Cover It Live usado pela maffalda.net para cobrir o #Descolagem 3.

O microblogging é uma algaravia, é o calor das ágoras gregas multiplicadas por 100 graças à tecnologia. Ele é um espaço para a manifestação espontânea.

Torna-se necessário aprender tanto a não alimentar inutilmente a algaravia (sob o custo de não ser mais seguido pelas pessoas) e a filtrar rapidamente o que é e o que não é relevante.

Além disso nossa mente acostumada a trabalhar com atenção concentrada deve desenvolver uma nova capacidade multitarefa e multithread, ou seja, pensar em várias coisas ao mesmo tempo e, se possível obsrvar vários aspectos de cada coisa ao mesmo tempo.

11:54 da manhã  
Blogger Lilian said...

Oi Roney,
coisa boa, a Rede, que acaba nos colocando em contato.
estou feliz da vida que você, o Sérgio, a Tati e outros cobriram o descolagem, eu queria ir, mas não rolou.
Ainda não conheço o Cover It Live, vou atrás.
Vc tem razão sobre a "algaravia" do Twitter (gostei do termo), como na Rede falo menos que fora dela, acho que não aborreço quem me segue. E tenho sido cuidadosa para não ser seguidora de uma multidão (o que é correto, no meu caso, também para o Friend Feeds).
Tenho curiosidade sobre essa forma de estar no mundo, focada em múltiplos foco. Isso dá um belo tema de pesquisa.
abço
Lilian

2:09 da tarde  

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