Janelas
O céu azul prometia um lindíssimo final de semana, perfeito para ir acampar nas montanhas. Era nisso que eu pensava enquanto punha as últimas coisas no carro, feliz em retomar essas viagens, agora que as crianças já estão um pouco mais crescidas.
Não havíamos chegado nem à esquina quando ouvi a vinheta dos filmes da Disney vindo do banco de trás. Meu alerta soou: já? Era pra dar tempo de ver todo o filme, explicou a minha filha, feliz com a novidade de poder assistir DVD no banco de trás. Sob protestos ela aceitou usar os fones de ouvido, sugestão do meu marido, o que gerou um certo rebuliço entre os irmãos, cabo pra lá, cabo pra cá, plug que não encaixa direito.
Mais algumas quadras e uma nova fonte de incômodo: a moça do GPS. Por que tinhamos que ficar ouvindo aquela desconhecida sugerindo que entrássemos à direita quando o nosso rotineiro caminho para a estrada contradizia essa instrução? Para quê aquele GPS àquela hora? Tive de aceitar que talvez precisassemos de seus serviços para localizar o ponto de encontro com os amigos. Como isso nos tomaria pelo menos uma hora e meia, insisti para zerar o volume daquela geringonça, afinal quando precisássemos daqueles conselhos poderíamos tirar o "mute". E pus pra tocar, feliz, um CD de música.
Na parada, uma nova surpresa. Volto do banheiro e vejos as crianças aboletadas ao redor da mesa, jogando Angry Birds no IPad trazido por um de nossos amigos. Falei da minha estranheza sobre essa invasão de novos personagens nas nossas viagens, os adereços eletrônicos com filmes, games e quetais. É uma tendência inevitável, justificou o dono do IPad, achando meio passadista o meu incômodo com essas novidades.
O final de semana estava lindo, as seis barracas foram confortavelmente montadas num lugar com uma vista incrível, a criançada se esbaldou juntando gravetos para a fogueirinha da noite, o por do sol na Pedra do Baú foi absolutamente deslumbrante. Meus incomôdos com os eletrônicos ficaram por aí, mas não os do meu amigo do IPad, que virou mexeu estava às turras com o filho, para que ele guardasse o Nintendo DS.
As férias chegaram algumas semanas depois, e dessa vez estavamos a caminho do litoral, para uma temporada de praia na casa dos avós. O DVD e o GPS providencialmente ficaram esquecidos em São Paulo. Lá pelas tantas minha filha se lamentou: "Mãe, não tenho nada pra fazer..." Respondi com toda a convicção de viajante de muitas décadas: "Olha pela janela, filha".
Quantas viagens são possíveis quando a gente aprende a simplesmente olhar pela janela desprogramada do vidro do carro!
Não havíamos chegado nem à esquina quando ouvi a vinheta dos filmes da Disney vindo do banco de trás. Meu alerta soou: já? Era pra dar tempo de ver todo o filme, explicou a minha filha, feliz com a novidade de poder assistir DVD no banco de trás. Sob protestos ela aceitou usar os fones de ouvido, sugestão do meu marido, o que gerou um certo rebuliço entre os irmãos, cabo pra lá, cabo pra cá, plug que não encaixa direito.
Mais algumas quadras e uma nova fonte de incômodo: a moça do GPS. Por que tinhamos que ficar ouvindo aquela desconhecida sugerindo que entrássemos à direita quando o nosso rotineiro caminho para a estrada contradizia essa instrução? Para quê aquele GPS àquela hora? Tive de aceitar que talvez precisassemos de seus serviços para localizar o ponto de encontro com os amigos. Como isso nos tomaria pelo menos uma hora e meia, insisti para zerar o volume daquela geringonça, afinal quando precisássemos daqueles conselhos poderíamos tirar o "mute". E pus pra tocar, feliz, um CD de música.
Na parada, uma nova surpresa. Volto do banheiro e vejos as crianças aboletadas ao redor da mesa, jogando Angry Birds no IPad trazido por um de nossos amigos. Falei da minha estranheza sobre essa invasão de novos personagens nas nossas viagens, os adereços eletrônicos com filmes, games e quetais. É uma tendência inevitável, justificou o dono do IPad, achando meio passadista o meu incômodo com essas novidades.
O final de semana estava lindo, as seis barracas foram confortavelmente montadas num lugar com uma vista incrível, a criançada se esbaldou juntando gravetos para a fogueirinha da noite, o por do sol na Pedra do Baú foi absolutamente deslumbrante. Meus incomôdos com os eletrônicos ficaram por aí, mas não os do meu amigo do IPad, que virou mexeu estava às turras com o filho, para que ele guardasse o Nintendo DS.
As férias chegaram algumas semanas depois, e dessa vez estavamos a caminho do litoral, para uma temporada de praia na casa dos avós. O DVD e o GPS providencialmente ficaram esquecidos em São Paulo. Lá pelas tantas minha filha se lamentou: "Mãe, não tenho nada pra fazer..." Respondi com toda a convicção de viajante de muitas décadas: "Olha pela janela, filha".
Quantas viagens são possíveis quando a gente aprende a simplesmente olhar pela janela desprogramada do vidro do carro!
5 Comments:
Lilian, estou gostando muito do que vc anda escrevendo. Estas viagens ficam tão dentro da gente. Não esqueço que foi no carro, criança que aprendi o que o silêncio poderia oferecer. Aprendi ali a habitar meu mundo de dentro, e como ele foi agitado a partir de então....saudades da castelo branco, do vento forte, do jacaré do meio da estrada, do homem do rabo de cavalo, da velha q tinha bigodes, da casa de chocolate e de tantos outros seres que me habitaram .bj paula
Êêê querida, que bom que vc anda perto aqui do blog...
Amar as janelas não programadas e os silêncios internos é uma postura de resistência...
Eu ando grande militante da resistência ultimamente...
abços e vamos nos ver!
Lilian
Gostei disso Lilian: "Amar as janelas não programadas e os silêncios internos" Nada como este vento arejado dos blogues :-)
Sérgio, ventos arejados combinam bem com estradas!!! Saudades!
Que legal, Lilian!
Apesar de toda tecnologia disponível nada é mais bonito e saudável do que viajar e apreciar a paisagem pela janela do carro!
Adorei seu post! Beijos,
Jô
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