sábado, abril 26, 2014

Fazer sentido é inovar

O evento da ComKids nesse abril de 2014 teve como tema central a Inovação. Essa é uma palavrinha coringa, que cabe em muitos lugares, mas às vezes diz muito pouco. O Hélio Ziskind, músico e um dos palestrantes, deu uma definição que gostei: ”Inovar é fazer sentido”. Acho que por isso me identifiquei muito com a fala da palestra de abertura, de Chiqui Gonzales, ministra da cultura e inovação de Santa Fé.
Chiqui Gonzales traz sua enorme experiência como educadora para nos apresentar algumas ideias fundamentais para quem trabalha com crianças. Ela sai desse olhar da infância enquanto simples etapa da vida, e valoriza o olhar que a percebe como momento fundamental da constituição de cada um e do coletivo da sociedade. Um período em que se vive a memória coletiva no próprio corpo, por meio dos cuidados que se recebe, pelos cheiros, sons e sabores, pelas formas, símbolos e modos de se fazer que dão contorno à vida. Por esse motivo, ela enfatiza: não estamos falando “da crianças”, estamos falando “desta criança”.
 Esse é o princípio possível para garantir que estamos estabelecendo comunicação, e não simplesmente falando “para” as crianças. É preciso falar “com” as crianças, se verdadeiramente queremos tê-las como parte do diálogo, e não só como receptoras de nossas ideias. Isso se aplica também à produção de cultural voltada às crianças: a obra que faz a diferença na vida da criança é aquela que dialoga com ela, não aquela que espera apenas que se repita depois o que está dito lá. Esse é o segredo, me parece, dos desenhos, filme, livros e canções que são classificados para o público infantil, mas mobilizam também os adultos. São obras inteligentes, e por não menosprezarem a capacidade de entendimento das crianças também conseguem tocar o prazer de criança que continuamos carregando por toda nossa vida.
   Sim, porque trazemos conosco essa intensidade das experiências dos primeiros anos, em que viver é sinônimo de se apropriar das coisas, conhecer as formas, texturas, cores, cheiros e sons, perguntar-se um milhão de coisas, imaginar outro milhão de respostas, expressar essas perguntas e respostas em nossos desenhos, em nossas brincadeiras, em nossas histórias. Época dos primeiros desafios para refinar a coordenação motora, desenvolver linguagens, estabelecer relações, ter contato o mundo concreto e o com mundo dos sentimentos. Nunca paramos de fazer todas essas coisas. Se por um lado a cultura do mundo jovem e adulto vai adquirindo novas formas, novos temas, outras complexidades, e nos permitindo experiências que estão distantes das possibilidades de fruição da criança, quanto mais criança pudemos ser – fantasiosos, imaginativos, investigativos, expressivos – mais recursos teremos agregado à trama que nos tece e com a qual podemos contar para viver as situações variadas com as quais nos deparamos em todas as idades.
    Todas essas falas estão materializadas nas ações culturais desenvolvidos por Chiqui na Argentina. Os Parques Multilinguísticos que ajudou a criar tem nomes como Tríptico de la Infancia (integrado por El Jardín de los Niños, La Granja de la Infancia y La Isla de los Inventos, em Rosário, e Tríptico de la Imaginación (compuesto por El Molino Fábrica Cultural, La Redonda Arte y Vida Cotidiana y La Esquina Encendida), em Santa Fe. Tem atividades abertas para todas as idades, sempre com entrada franca. Em Santa Fe, no ano passado, esses espaços sediaram um Congresso de Crianças entre 4 a 14 anos, com o tema Falemos de Felicidade, reunindo cerca de 6000 participantes.
     Saí muito contente pelo reencontro com reflexões que tiveram presença marcante nos primeiros tempos de minha atuação na educação. Quase como se fosse uma primeira infância profissional – as propostas didáticas no Externato Oswaldo Aranha, a Constituinte com os alunos, a leitura de Januz Korzack – experiências constitutivas, valores que permanecem. A fala de Chiqui Gonzales faz muito sentido.

Chiqui no TED Buenos Aires, em 2012

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