domingo, março 30, 2008

Legados de uma memória escolar

Impressionante o tanto de gente que apareceu e permaneceu na livraria, hoje à tarde, no lançamento do Vanguarda Pedagógica: o Legado do Ginásio Israelita Brasileiro Scholem Aleichem. Falaram em 500 pessoas, e acredito que muito menos não foi. Um presentão depois de dois anos de reuniões, telefonemas, repasses de textos, captação de recurso, discussões sobre layout, edição do DVD e outros intermináveis detalhes.
Fiquei pensando na força que o livro tem, e conclui que são várias:
- Ele fala de um espaço de educação que foi extremamente prezado pelos que lá conviveram, e que apesar de ter fechado suas portas em 1981, manteve-se como ideal de escola para quem se formou lá.
- Recupera histórias de ousadia política e educacional, fomentada por gente que sabia que formar ia além de teorizar, que o fazer passava por honrar os princípios, que educar para a democracia era uma obrigação inegociável.Anos da ditadura, filhos de sobreviventes do facismo na Europa, muita militância política e cultural.
- Reúne fala de educadores que apontam claramente seu aprendizado com as crianças, e que portanto possuiam uma prática na qual as orelhas e olhos abertos eram o radar de orientação dos rumos de seus cursos.
- Garante o espaço à pluralidade das idéias, permitindo a publicação dos pontos de vista divergentes, prática que a escola sempre estimulou,
- Celebra a arte e a expressão artística como centrais à formação escolar.
- Descreve a relação de um povo com sua tradição de maneira genuína, inovadora e destemida.
- Mantém o espírito do Scholem (o escritor Scholem Aleichem) vivo, quando consegue associar a densidade da história com doses importantes de humor.
Ás vezes me parecia que o livro era muito específico, que talvez não interessasse tanta gente assim. Vi hoje que me enganei, aliás uma grande felicidade foi ter visto minhas referências educacionais já como profissional comparecendo lá no lançamento.
Scholem, querida escola, que bom sentir você por perto...

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terça-feira, março 25, 2008

Boas práticas na escola pública

Notícias boas de ler... Que venham os bons exemplos, o reconhecimento dos esforços...
Está sendo lançado hoje o resultado de uma pesquisa da UNICEF, Redes de Aprendizagem, que destaca o trabalho desenvolvido em 37 municípios como de interesse para a reflexão sobre bons frutos na educação.
Nas palavras de Marie-Pierre Poirier (na Folha de S. Paulo), respresentante da Unicef no Brasil,
A publicação "Redes de Aprendizagem" dirige o foco do nosso olhar para o compromisso essencial e estratégico de todas as redes escolares deste país: garantir o direito de aprender de cada um dos seus meninos e meninas.
Localizadas em todas as regiões do país, em municípios de diferentes tamanhos, as redes públicas estudadas têm em comum tanto a inserção em contextos de vulnerabilidade social quanto os resultados no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) acima da média nacional. Isso significa que, em contextos que não facilitam a aprendizagem de alunos e alunas, essas redes conseguiram resultados acima da média na aprendizagem de leitura e matemática, aliados a bons índices de aprovação.Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O direito de aprender
MARIE-PIERRE POIRIER

Lançamos hoje os resultados de um estudo que buscou identificar boas práticas desenvolvidas por 37 redes municipais de ensino no país

EM 1940, apenas 21% dos brasileiros em idade escolar estavam na escola, segundo o IBGE. Em 1960, foi atingida a marca, ainda muito baixa, de 31% de crianças e adolescentes na escola. Em 1998, alcançamos 86% e, oito anos depois, chegamos próximos da universalização do acesso, com 98% das crianças de sete a 14 anos na escola. Como o país avançou nessa área!
No entanto, a cada passo, novos desafios se apresentam. Não podemos cruzar os braços diante das 660 mil crianças brasileiras ainda fora da escola -essa é a tradução em números absolutos dos 2% que parecem tão pouco. Não podemos também fechar os olhos para os milhões de alunos e alunas das escolas públicas submetidos à lógica perversa da repetência, da evasão e do abandono.
A quase universalização do acesso colocou na pauta a qualidade da educação. Não é suficiente apenas abrir vagas e garantir matrícula para as crianças e adolescentes. Uma vez na escola, cada um deles tem o direito de permanecer estudando, de se desenvolver, de aprender e de concluir toda a educação básica na idade certa.
Nós do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) escolhemos o "aprender" como tema central para nossa atuação no Brasil em 2008. O entendimento da aprendizagem como direito está presente na pauta das mais importantes articulações e mobilizações em torno da educação e cada vez mais direciona as políticas públicas nos três níveis de governo.
Como contribuição para esse esforço, o Unicef, a Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), o Ministério da Educação e o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) lançam hoje os resultados de um estudo que buscou identificar boas práticas desenvolvidas por 37 redes municipais de ensino no país.
A publicação "Redes de Aprendizagem" dirige o foco do nosso olhar para o compromisso essencial e estratégico de todas as redes escolares deste país: garantir o direito de aprender de cada um dos seus meninos e meninas.
Localizadas em todas as regiões do país, em municípios de diferentes tamanhos, as redes públicas estudadas têm em comum tanto a inserção em contextos de vulnerabilidade social quanto os resultados no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) acima da média nacional. Isso significa que, em contextos que não facilitam a aprendizagem de alunos e alunas, essas redes conseguiram resultados acima da média na aprendizagem de leitura e matemática, aliados a bons índices de aprovação.
Quais as diretrizes, quais as práticas, que tipo de atitudes inspiram e mobilizam os atores educacionais dessas redes para chegar a tais resultados? São as respostas e reflexões sobre essas questões que apresentamos na publicação.
O estudo aponta dez aspectos considerados responsáveis pela boa aprendizagem pelos atores educacionais entrevistados -gestores municipais, diretores e coordenadores, professores, funcionários, famílias, comunidade e, em especial, alunas e alunos. Destacam-se a valorização do planejamento realizado de maneira coletiva e solidária, a importância da avaliação contínua e cuidadosa e a valorização criativa da leitura como pedra fundamental do aprender. Nenhuma das práticas identificadas é por essência inédita ou inovadora. O que as fortalece é o fato de terem um objetivo comum e indispensável: a garantia do direito de aprender.

A pesquisa contou também com o esforço conjunto da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), do Ministério da Educação e do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).

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Vanguarda Pedagógica


No próximo dia 30/03, a partir das 15h00, haverá o lançamento do Vanguarda Pedagógica: o Legado do Ginásio Israelita Brasileiro Scholem Aleichem.
O livro está lindo, tem textos emocionantes de alunos, professores e diretores do Scholem. Tem gente como Fanny Abramovich, Antonio Dimas, Gisela Wajskop, tem depoimento da Tatiana Belinky e da Dona Ilina, realmente emocionante.
Fiz a introdução, e, junto com outros dedicados seis companheiros, batalhamos muito para esse seminário acontecer em 2006 e agora o livro sair.
Preciso escrever mais sobre o Scholem aqui no blog, é uma experiência tão querida na minha história, é preciso compartilhar.
No domingo, lançaremos na Livraria da Vila da Fradique Coutinho.
Vai ser difícil ter assunto mais importante essa semana!

segunda-feira, março 24, 2008

A consciência da ação

Li nos últimos dias algumas coisas sobre a vida (ou a sobrevivência...)em meio a um dilúvio de informações, em especial me chamou a atenção um post do Juliano sobre Eficiência ou Doença, em que ele fala sobre o surgimento de ferramenta após ferramentas para filtrar e reduzir a sensação de enxurrada. Cria-se novas ferramentas para ocupar ainda mais o nosso tempo ou para que tenhamos mais tempo longe das ferramentas?
Também em meio a uma intensa discussão no blog do Hd sobre "Blogs e midia de massa", li um comentário do Estraviz, em que ele diz: "Eu hoje leio feeds. Nem sei quem tem blog com anúncio ou sem".
Não dá pra perder a dimensão que as as pessoas se apropriam de uma forma específica dessas ferramentas, e a consciência que elas possuem sobre isso altera o seu uso...

sexta-feira, março 21, 2008

Com a palavra, os professores

Fiquei sabendo do Grupo de Sábado por um post que circulou na lista da pós-graduação da FE-USP.
Trata-se de um grupo de professores do Ensino Fundamental e Médio e alguns acadêmicos que se reúnem para debater questões da educação.
Isso é algo que vejo com alguma freqüência, mas esse coletivo se dispõe a falar sobre educação escolar na voz do professor da Rede Pública estadual, o que é algo pouco usual. Há um movimento de organizar-se para poder fazerem-se ouvidos pela Secretaria da Educação, que é pródiga em críticas e em soluções "relâmpago" para as dificuldades do sistema escolar, mas extremamente tímida quando o assunto é diálogo. Isso não é privilégio desse ou daquele secretário, mas de um sistema que não se pensa sistemicamente.
É possível que haja ações emergenciais necessárias? Muito provavelmente.
Mas quando vai se estabelecer uma política de ação paralela à emergencial, que investirá na construção dos canais de comunicação que permitam agilidade no trabalho coletivo de todos os envolvidos? Quando promoverá ações de gestão do conhecimento para o intercâmbio das boas experiências e o debate sobre as más?

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quarta-feira, março 19, 2008

Sobre comunidades e sentido

Ando com comunidades virtuais na cabeça, ossos do ofício e hora de fechar um ciclo de reflexões. Sigo as instruções do mestre Bakhtin, que nos ensina que é a "expressão que organiza o discurso interior", e não o contrário...
Um ciclo tem começo, meio e fim. No mundo das idéias, é difícil falar em fim. E, de novo, lembro-me do mestre, que explica que um enunciado nunca é um episódio isolado, mas apenas um elo na cadeia dos que o precederam e dos que o sucederão. E, como um permanente diálogo, as idéias vão ganhando outras entonações, outras formatos, inspirando outras idéias, mudam, mas não ficam restritas ao momento de sua expressão...
As comunidades, da mesma maneira, vivem este fenômeno da emergência, ascensão e queda, evidentemente nos ritmos mais variáveis que dê para imaginar. A sua maneira, também é difícil falar em fim, pois o aprendizado daquele coletivo lança-se na rede nas novas esferas de colaboração de cada membro. Elas se desfazem, se desorganizam, e se mesclam na organização de outras, que permanecerão ativas e operantes enquanto houver sentido na sua ação em comum.
Então, é difícil pensar que numa comunidade que ganhe vida por um desejo externo as pessoas que participam delas. Não há comunidade sem razão de ser, e se uma pessoa é convidada a participar de uma situação de interação que não lhe mobiliza ou para a qual ela não está disponível no momento, ela não permanecerá, a não ser que não tenha opção.
Hoje a internet está mais marcada pelas redes sociais, nas quais as comunidades temáticas são apenas uma das opções de nó. E nas redes sociais, também a permanência e atividade nas comunidades obedecem esse raciocínio.
Congregar pessoas no ciberespaço deve dar muito dinheiro. É por isso que todos os dias chegam tantos convites para participar de tantos espaços, de compartilhar tantos serviços. O segredo, pelo jeito, não é congregar, é manter a "tensão irredutível" que garante essa presença. Em outras palavras, não perder a "razão de ser".
Mas como todos os processos são dinâmicos, é preciso que a razão da existência possa também se renovar.
E para fechar esse ciclo, volta a minha mente o mestre Bakhtin, que diz que a significação da palavra só se dá a conhecer à luz da interação verbal entre dois sujeitos. Quem ignora isso, diz ele, age como quem quisesse acender uma lâmpada depois de terem cortado a corrente.

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sábado, março 08, 2008

Descobrindo autores

Vez em quando a gente se depara com um autor e se pergunta: gente, mas como é que eu não tinha olhado pra esse sujeito antes? Foi o que aconteceu essa semana quando fui dar atenção a um artigo do Jay Lemke, que já havia acessado e guardado há tempos.
O Lemke, professor da Universidade de Michigan, é físico, e muito conhecido na área de ensino de ciência (e por tanto referências para os meus colegas lá do Lapeq).
Indo atrás do conjunto da obra, descobri que ele tem uma ampla atuação nas pesquisas de cunho sócio-cultural,inclusive reflexão sobre as especificidades dos processos cognitivos mediados pelo uso das novas mídias.
Fiquei fascinada também com os cursos que ele oferece e com os links que saem de lá.
A última ementa apresentada, de 2007, é sobre Letramento e Novas Mídias,com tudo o que isso engloba: ambientes virtuais, games, acessórios móveis, etc.
Objeto do desejo... uma temporada em Michigan nos próximos anos...

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quarta-feira, março 05, 2008

Arre arrogância

Uma coisa que tem me cansado nos últimos tempos é a força das generalizações com a qual temos que conviver. Uma dificuldade enorme de evocar a singularidade, de olhar as diferenças.
Professores, como todo mundo sabe, são os donos da verdade, autoritários, arrogantes, acomodados, corporativos e insensíveis às realidades de seus alunos.
Já os médicos, está provado, são também mestres da insensibilidade e arrogância... além da frieza, como poderia ser de outro jeito?
Os jornalistas, desculpem, são sabidamente arrogantes, superficiais por ofício, de uma ignorância constrangedora...
Alunos, é claro, são incorrígiveis vagais, desinteressados e preguiçosos, pra não dizer (não contem pra ninguém) ... arrogantes.
Pais são auto-centrados, cegos aos defeitos dos filhos, cegos às necessidades dos filhos, autoritários ou pusilânimes, e, no fundo, no fundo, arrogantes...
Deus do céu... acho que o mundo não tem jeito...
Ou tomamos um banho de generosidade, ou vamos viver em permanente guerra - no seio da nossa própria arrogância.

terça-feira, março 04, 2008

Recursos Educacionais Livres

A UNESCO aestá publicando o relatório "Open Educational Resources: The Way Forward".
São as conclusões de um fórum que reuniu uns 600 participantes, durante dois anos, debatendo sobre o potencial, as dificuldades e as prioridades a serem trabalhadas na difusão de Recursos Educacionais Livres.
A idéia é pensar nos materiais que cada educador cria como um produto a ser disponibilizado para outros educadores usarem diretamente ou se inspirarem para a criação de novos conteúdos. A licença desses materiais seria alguma das opções em Creative Commons, para permitir o uso e orientar as formas de citação, os limites de transformação, a proibição da comercialização, etc.
Participei do processo e foi uma experiência muito interessante. Vejam detalhes no arquivo abaixo.
Mais informações sobre a proposta e outras oportunidades nessa área podem ser vistas neste wiki do projeto.


Read this doc on Scribd: OER Way Forward

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sábado, março 01, 2008

Edublogosfera

Enriquecer a experiência da vida digital, para quem pretende ir mais longe do que os portais jornalísticos, passa por participar de listas de discussão. E quem acompanha listas sabe o gosto da aprendizagem por influência mútua, do valor que tem uma boa indicação, das relações de admiração e pareceria que podem se desenvolver por lá.
Com esse espírito de portas (e janelas) abertas para ampliar os horizontes da conversa sobre educação e tecnologia, estamos criando (Sérgio Lima, Suzana Gutierrez e eu) uma nova lista, a edublogosfera.
É uma lista aberta e não moderada, para expandir esse tricot que temos tecido sobre tantos temas diferentes, mas que formam quadradinhos da mesma manta: princípios educacionais, ferramentas e seus usos, projetos interessantes, políticas públicas, usos e abusos da mídia, condições de trabalho, eventos na área, enfim...
E o princípio auto-regulação vai imperar, esta é uma das grandes lições da vida em rede.
Quem quiser se aventurar, seja bem-vindo! Veja aqui mais detalhes sobre a edublogosfera.

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