sexta-feira, novembro 28, 2008

Mil Casmurros, um lançamento inteligente


Bela idéia, esse projeto da Globo, para homenagear o centenário da morte de Machado de Assis. A gravação de D. Casmurro, dividido em mil trechos, para que mil pessoas diferentes possam compor um mosaico de leituras. A iniciativa também é parte do lançamento da minissérie Capitu, que vai ao ar agora em dezembro.
Imaginem que outros desdobramentos interessantes essa solução, que é composta de um conjunto de ferramentas, poderia ter!
O Mil Casmurros está no Twitter. No site da minissérie há uma lousa onde é possível rabiscar. Aposta forte no viral da Rede para popularizar a série antes de lançar a campanha na TV.
Via blog do Tas

Em tempo: estou seca para gravar a leitura mas, claro, nessas horas, a webcam não quer obedecer. Assim que der um jeito nisso, posto aqui o link.

Atualização: resolvido, veja o trecho gravado aqui!

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quinta-feira, novembro 27, 2008

Demonização da internet

Tenho bronca de uma retórica que trata a internet como ferramenta do diabo.
Não é novidade que isso aconteça com diferentes expressões culturais, quando elas aportam algum tipo de modificação comportamental na sociedade. As mudanças estão ligadas, sem dúvida, a uma perda de controle da circulação de informação ou a formas menos aceitas de representação cultural, como era o caso da pintura expressionista, por exemplo, e também do rock and roll.Pouco depois que foi criada a imprensa, a Igreja divulgou o Index Proibitorium - leitura, só as autorizadas, as moralmente edificantes, as que não questionavam a instituição. Sobre a TV então, o quanto já não ouvimos? É a grande culpada pela violência no mundo, pela deterioração dos costumes, pelo emburrecimento das crianças.
Lembro-me que no início dos anos 80, ao lado de um irmão aficcionado pelos joguinhos do Donkey Kong, eu fazia terrorismo, dizendo que ele ia ficar burro como aquele gorila, se não desgrudasse do jogo. Não ficou. Nem eu tornei-me alienada por que assistia novela e gostava de música brega.
É preciso falar com um pouco mais de sofisticação sobre as influências da tecnologia, da cultura e do convívio social na formação das crianças. O artigo de Ethevaldo Siqueira, "Não abandone seu filho sozinho diante da internet", envereda com rapidez para o discurso da conspiração, da Rede que vai pular para fora da tela e esgoelar a criança. Se a internet não existisse, seu texto poderia igualmente se chamar "Não abandone seu filho". Pois é isso que se espera que os pais façam, já que tem o compromisso de educar, e isso significa mostrar-lhe o mundo, orientar-lhe sobre como ele funciona e auxiliá-lo a ter bases próprias para circular autonomamente por aí.
E como sabemos que a mídia adora fazer barulho, aproveitando essa exacerbação do discurso do medo, já está convidado o Valdemar Setzer, professor do IME-USP, grande apregoador do caráter nocivo dos computadores na formação de crianças e jovens, para participar do Roda Viva, na TV-CULTURA. É torcer para que hajam entrevistadores inteligentes por lá.

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quarta-feira, novembro 26, 2008

Saramago e o ato de blogar

Tenho acompanhado o Caderno de Saramago, blog do escritor iniciado em setembro desse ano.
No começo impliquei com o fato dos comentários estarem desabilitados, mas pensando melhor entendi que, uma vez que ele não se disporia a dialogar com os inúmeros comentadores que apareceriam, realmente não há sentido em manter a opção de interação.
Há algo de específico na sua escritura em blog, que seria diferente caso o espaço de publicação fosse uma coluna, fosse impressa ou digital. As marcas de cotidiano presentes em suas postagens provavelmente se perderiam ou ficariam esmaecidas numa coluna com periodicidade marcada e tamanho definido. Saramago sabe que tem audiência, portanto não há que se esperar por uma narrativa excessivamente intimista, a não ser quando sua opção literária for a de narrar a intimidade.
E assim, em meios aos seus vinte e tantos posts publicados a cada mês, ele cotidianamente vai produzindo textos de variadas naturezas:
- reflexões filosóficas sobre a esperança e a utopia, como em Velhos e novos
- leituras e sugestões políticas para o contexto internacional, como em Guantanamo e Novo Capitalismo;
- detalhes sobre negociações que, sim, interessam a leitores, como o processo que levou-o a aceitar a adaptação de Ensaio sobre a Cegueira para o cinema, em Fernando Meireles e Cia;
- uma reminiscência de uma amizade, que nos dá acesso a um texto brilhante,"Do imemorial ou a dança do tempo", de uma personalidade pouco conhecida, Eduardo Lourenço;
- narrativas de uma simplicidade desconcertante, como o pouco caso dos serviços nos aeroportos do Brasil, em Gado.
Em A página infinita da internet contava ontem, um pouco surpreso, que muitos dos presentes a sua coletiva de imprensa dirigiam-lhe questões sobre sua produção no blog. E pergunta:
"Será que, aqui, melhor dito, nos assemelhamos todos? É isto o mais parecido com o poder dos cidadãos? Somos mais companheiros quando escrevemos na Internet? Não tenho respostas, apenas constato as perguntas. E gosto de estar escrevendo aqui agora. Não sei se é mais democrático, sei que me sinto igual ao jovem de cabelo alvoroçado e óculos de aro, que com os seus vinte e poucos anos, me questionava. Seguramente para um blog".
Talvez tenhamos em breve outras contribuições do Saramago sobre a natureza da produção literária que se concretiza no momento de blogar. Tomara.

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terça-feira, novembro 25, 2008

Itajaí debaixo d'água

80% da cidade de Itajaí ficou debaixo d'água, por conta dos temporais dos últimos dias.
Leio no blog do Rogério Christofoletti, que é professor da Univali, relatos mais extensos. Ele, como a maior parte da população, precisou sair da sua casa, quando a água chegou a uns 40 cm do chão.
Segundo o relato, as cenas lembram um pouco o "Ensaio sobre a Cegueira", ou "A Guerra dos Mundos".
É por meio de um blog que algumas famílias estão conseguindo ter notícias de pessoas que se perderam na confusão, ou solicitando aos demais que avisem se encontrarem pessoas desaparecidas.
Aqui, algumas imagens de Itajaí submersa.
Sinto que ainda usamos pouco a Rede para apoiar gente que vive desastres como este. Pode ser desconhecimento meu, talvez precise ir atrás, mas devia haver algo mais a fazer além de mandar os nossos votos de solidariedade.
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Em tempo:
Post do Tiago Dória aponta para vários canais na Rede onde se pode obter informações sobre as zonas afetadas, e da dificuldade das mídias tradicionais de fazerem uso desses canais. Igualmente lembra a ausência de estratégias de uso do celular, por exemplo, para facilitar a troca de informações.

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domingo, novembro 23, 2008

Conversações na Rede

A internet me interessa em especial por ser um espaço de conversações. Esse passo, que vai além da mídia de massa, para mim, faz toda a diferença: não se trata mais de só "receber" as idéias de um articulista num jornal (ou num site, como ainda ocorre), e de reagir individualmente, caso suas posições suscitem uma resposta. Postar na Rede é um convite à conversa: essas são as idéias que tem me ocupado, esses são os links que desencadearam a reflexão, que acham disso tudo, vocês que me lêem? O espaço às reações às minhas idéias é aberto e livre, e em quantos casos já vimos em que o debate que se segue passa a envolver outras vozes e outras questões que se desdobram e se diferenciam das proposições iniciais do enunciante.
Essa descrição faz sentido num modelo de comunicação mediado por blogs ou por listas de discussão, quando não há interferência acentuada do gerenciador do espaço. A natureza multi-polar e multi-direcional e a expectativa assíncrona da conversação referendam essas possibilidades.
As recentes postagens que fiz sobre o Twitter tratam de uma outra modalidade de comunicação. A Raquel Recuero, nesse post, sugeriu que ele seja visto como uma ferramenta de Mensagens Instantâneas Coletivas. Eu agregaria que talvez fosse melhor pensá-las como Mensagens Instantâneas Públicas e Compartilhadas, sem esquecer que só acompanharemos as atualizações de determinada pessoa se a incluirmos na relação daqueles que nos interessa seguir. Assim, é possível que um conjunto de pessoas esteja atualizando seus comentários sobre um tema comum (como foi o caso da ABCiber), mas se eu não as tiver no rol das minhas conexões no Twitter ou não estivermos usando uma TAG comum, acompanharei apenas parte da conversa. O que é bastante natural na nossa comunicação cotidiana, mas suficiente para termos claro que o conceito de "coletivo" pode ser problemático.
Provocada pelo Sérgio, preciso dizer que vejo valor na conversa via Twitter (e estou falando da cobertura de um evento, ou da comunicação sobre uma situação comum vivida por sujeitos em vários espaços), fragmentada, reiterativa, plena de subjetividades e nem sempre focada nas questões centrais de um enunciante. O fato de poder ter acesso às distintas formas de escuta, possibilita que eu possa refinar a minha, confirmar as minhas intuições, ponderar sobre outros olhares que ainda não haviam me ocorrido. A "conversa paralela" é também um canal de esclarecimento de algum ponto que ficou obscuro - o que, aliás, é tão comum em sala de aula, e tão difícil de saber o limite do momento de suspender. Enunciados que nos mobilizam intensamente nos levam a boicotar outras fontes distratoras da atenção - seja a conversa da colega, seja a postagem dos demais twitteiros. Portanto, cabe a cada um saber quando fechar o Twitter.
Ainda sobre conversações, preciso dizer que fico feliz sempre que sinto momentos mais densos de troca na Rede, em que o potencial de interatividade entre os sujeitos conectados se efetiva. Promover conversações não é algo trivial, e mesmo quando as ferramentas estão dadas, são muitos os leitores silenciosos, que por motivos dos mais variados não expressam suas reações às nossas idéias nos espaços abertos para isso. E nem por isso deixaram de interagir com essas idéias, o que nos leva à possibilidade de uma situação dialógica - uma resposta inesperada a um enunciado nosso em um momento futuro, num contexto distinto - sem que houvesse interatividade conosco.
Fico por aqui... já percebi que as conversações na Rede vão render outro post.

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domingo, novembro 16, 2008

Twitter, twemes e a apropriação das tecnologias

Quando a gente se encanta com uma nova tecnologia ou com um novo conjunto de tecnologias articuladas?
Ao que parece, quando sua existência nos permite usos ainda não cobertos por outras precedentes, ou aperfeiçoamento de propostas já disseminadas. Na semana que termina, fiquei muito instigada com a associação Twitter+Twemes, em situação evidentemente proporcionada pela existência de auditórios com cobertura WIFI e disposição dos organizadores do eventos para transmitir ao vivo suas sessões pela internet.
A coincidência de horário entre a a mesa da noite no simpósio da Associação Brasileira de Pesquisadores de Cibercultura (ABCiber) e o debate com o Jimmy Walles, fundador da Wikipedia, no Centro Cultural São Paulo, obrigou parte do público a optar por um deles. Eu permaneci na PUC, e me dispus, como outros companheiros da audiência, a anotar no Twitter minhas impressões sobre as falas dos participantes. Descobri que havia transmissão online do debate com o Wales diretamente do Centro Cultural, e assim pude rapidamente acompanhar o que estava se passando lá, e tirar minhas próprias conclusões sobre a escolha que havia feito.
Eramos pelo menos quatro pessoas twittando no mesmo auditório. Com a tag #abciber no início da mensagem, pude acompanhar, pelo Twemes, os comentários da Raquel Recuero, do Carlos Nepomuceno e da Adriana Amaral. A Sú Gutierrez escrevia de Porto Alegre, de onde acompanhava a transmissão online da ABCiber. Pouco depois soube pela Raquel que #wikidebate era a tag usada no debate do Wales, e assim passei a acompanhar os comentários de alguns participantes daquele evento.
Foi uma experiência empolgante. A associação dessas ferramentas permite que você acompanhe a fala do palestrantes, mas ao mesmo tempo a reação de outros colegas a essa fala - ou, como diria Bakhtin, a "atitude ativamente responsiva" de outros sujeitos frente a um mesmo enunciado. É um pouco como a conversa paralela na aula ou na sala de cinema, mas que logra existir sem som e com pessoas distantes fisicamente de você. Os comentários, que, aliás, podem ser encontrados no Twemes posteriormente, oferecem a quem quiser, um conjunto de impressões sobre a situação, sejam eles diretamente relacionados às idéias em debates, sejam a aspectos da infra-estrutura ou do comportamento do público.
Na manhã de 3a, por exemplo, houve problemas na transmissão online, e eu, que havia permanecido em casa devido a necessidade de adiantar outros trabalhos, só consegui acompanhar por meio dos comentários. Ao mesmo tempo, conseguimos acionar algumas pessoas no auditório para pedir provdência quanto ao som. Na manhã de 4a, ocupada na sala de aula durante todo o período, a cobertura da Raquel no Twitter foi fundamental para ter mais claro do que se tratava a palestra do Alex Primo, também relacionada a gêneros nos enunciados produzidos na internet, área de interesse da minha pesquisa.
A fala do André Lemos, na noite de 3a, descreveu com muita inteligência aquela cena curiosa, mas que está se tornando frequente: parte dos presentes na audiência, iluminados pela tela do laptop em seu colo, com a atenção esgazeada entre o discurso do painelista e os comentários de seus colegas, ou seja lá que outro atrativo drenando a sua atenção do espaço presente naquele momento. Na verdade, isso é uma imprecisão, pois os demais colegas twiteiros podem ser parte do espaço presente. A atenção é desfocada da voz de um emissor central, detentor legítimo daquele espaço de tempo, para um exercicio de multivocalidade entre a audiência (presente e distante). Não há novidade no desfocar da atenção, que não nasceu com o computador nem com a internet. A novidade é a ânsia por essa partilha de reações coetâneas ao enunciado, e que em algumas situações podem ser de grande valia, e em outras uma atitude compulsiva, que traz mais perdas (como qualidade da escuta) do que ganhos.

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quarta-feira, novembro 12, 2008

Twitter durante a Abciber

Tenho muitas coisas a dizer sobre os debates na ABCIBER, que estão sendo muito ricos. Como esperava, acabei conhecendo outros pesquisadores cujo trabalho não conhecia, e que agora posso incluir como referências que vale à pena acompanhar (e já cito, de cara, o Theóphilo Rifiotis, da UFSC, e o Henrique Antoun, da UFRJ.
Agora, uma experiência marcante tem sido a conversa paralela no Twitter ao longo das sessões, cujo resultado coletivo pode ser acompanhado no Twemes (#abciber). Pra quem não sabe, o Twemes é uma ferramenta capaz de trazer numa só página as postagens de todos os autores que estão escrevendo no Twitter e que agregam uma tag comum no início de sua mensagem (#qualquercoisa).
Na 2a à noite, assisti à sessão com o laptop no colo, acompanhando as palestras (boas!), os comentários da Raquel Recuero, do Carlos Nepomuceno,da Adriana Amaral, entradas da Su Gutierrez (que assistia de Porto Alegre, e já blogou sobre isso). Ao mesmo tempo, estava de olho na transmissão do evento com o Jimmy Wales no Centro Cultural São Paulo, e, a partir de um momento, na cobertura dos twiteiros daquele evento (#wikidebate).O milagre da multiplicação dos espaços e das atenções.
Na 3a, assisti com apenas um simples bloquinho no colo e uma caneta na mão, e anotei muitas coisas, especialmente durante a fala do André Lemos.
Foram experiências muito diferentes, e não há dúvida que a qualidade da atenção dedicada à segunda noite foi muito maior. Mas quero entender melhor, ainda, os ganhos dos múltiplos focos que pude ter na primeira, que são verdadeiros e concretos.

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quinta-feira, novembro 06, 2008

Cibercultura em debate

E na próxima semana, de 10 a 13 de novembro, teremos na PUC-SP o II Simpósio da ABCIBER - Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultural. Várias conferências e painéis temáticos interessantes.
Algumas figuras de referência: Rogério da Costa, Sérgio Amadeu, Lúcia Santaela, Marcos Palácios, Lucréssia Ferrara, André Lemos, Sueli Fragoso, Alex Primo, Raquel Recuero, Gilson Schwartz, Marcos Silva, Alexandra Okada... Muitos outros nomes, que talvez eu devesse mencionar aqui, mas ainda não conheço o trabalho.
Eu participo, na segunda-feira às 16h30, do Painel IV - Educação na Cibercultura II: Dialogia e dicotomia, com um artigo chamado Diálogos no ciberespaço: interação de professores num fórum de discussão. O texto já está disponível no site, gostei dessa antecipação.
A programação dos painéis e alguns textos podem ser acessados aqui.

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domingo, novembro 02, 2008

Além das Redes de Colaboração

Muitas leituras para colocar em dia...
Ainda está difícil, mas estamos na luta.
Uma delas são alguns dos artigos que foram publicados no livro Além das Redes de Colaboração: internet, diversidade cultural e tecnologias do poder, organizado pelo Nelson Pretto e pelo Sérgio Amadeu.
São vários autores trabalhando o tema, gente que merece atenção.

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