terça-feira, junho 23, 2009

O uso ético das mídias sociais

O uso da Rede para debate e contrapontos frente a situações polêmicas tem sido de grande riqueza. Quem está há tempos na internet sabe que isso não é novo, mas vai adquirindo ramificações e uma disseminação cada vez mais ampla com a adoção de ferramentas variadas por diversos segmentos da população, como foi o caso dos blogs e como está sendo o caso do Twitter.
No caso da greve na USP, esse fenômeno se repete. Há algumas questões, entretanto, que acho que precisam ser observadas.
A facilidade de produção das mídias digitais, sua publicação e disseminação faz com que nenhuma posição detenha o monopólio da expressão, o que é um ganho valioso para as sociedades democráticas. Antigamente, o "Estado de S. Paulo" dificilmente publicaria no mesmo dia o editorial 'Crise na USP: a peculiar noção do ‘direito sagrado de opinar’ tolhe outros direitos", criticando severamente os mesmos professores que são elogiados, no mesmo dia, por um texto como o do Luis Zanin, "Candido e a Oração aos Moços" . Essa plasticidade de vozes, com os órgãos tradicionais da Mídia reconhecendo e dando espaço para as idéias em confronto, é um dos bons frutos do fortalecimento da Rede.
Por outro lado, essa mesma multiplicidade desafia nossa capacidade de avaliação quanto às imagens que assistimos. Um exemplo disso é a contraposição entre esse vídeo sobre o confronto entre a PM e os manifestantes (que publiquei há dois post atrás) e esse outro, que mostra a tensão entre representantes do Sintusp (Sindicato dos Funcionários) e estudantes querendo entrar em sua unidade.

Ambos os vídeos causam repulsa, e podemos supor que a recusa da violência nos dois casos comprova a complexidade do xadrez político na USP. Por outro lado, se considerarmos a edição ou a criação de situações premeditadas para gravar uma reação de impacto, precisariamos considerar o desejo de manipulação que pode estar embutido nessas mídias.
Cheguei ao segundo vídeo por uma indição do Marcelo Tas no Twitter, outro cenário acirrado desse debate. Ele indicava o link (aliás, vi agora que repetia uma postagem do blog). Agregado ao link, a frase: "Olha a forma "democrática" como atuam os grevistas da USP. PM nesses vagabundos!" A postagem no Twitter rendeu protestos e apoios, e entre outras coisas uma campanha de #unfollow ao Tas, que tem mais de cem mil seguidores. A polêmica no blog também foi intensa, rendendo 169 comentários, e um post posterior do Tas se retratando, arrependido do termo "vagabundos", mas convicto de seu posicionamento.
Hoje, também por outra indicação do Twitter, cheguei à comunidade USP - Universidade de São Paulo no Orkut, que possui 47580 seguidores. Quem é o dono da comunidade? A indicação leva a um perfil de nome Comunidade USP, que por sua vez não nos leva a ninguém. Concluo daí que trata-se de alguém que não quer se identificar. E, portanto, não tem como representar ninguém ao mudar a imagem da comunidade e incluir, em letras garrafais "Alunos da USP contra os Reacionários do Sintusp".


Não sou contra o anonimato na Rede, mas acho questionável a postura ética de um anônimo que faz uso de uma comunidade numerosa para expressar apenas a sua posição pessoal. É possível que seja também a opinião de parte de seu público, mas nenhum deles foi consultado sobre seu desejo de se expressar daquela forma, menos ainda aqueles que discordam desse administrador. Minha crítica seria a mesma se nessa comunidade estivesse estampado "Fora Reitora". O que estamos vendo aqui é o "sequestro" de uma comunidade numerosa de seguidores à serviço de uma única voz do debate. Acho que esse comportamento deveria ser punido pelo Orkut.
Noves fora todos os desgastes que permeiam essas discussões, entendo que elas são abençoados sinais de que vivemos um rico momento de liberdade no país. O que deve nos motivar ainda mais para ficar de olho e não dar espaço a nenhuma armadilha que a venha suprimir.

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domingo, junho 21, 2009

Jean Charles, não percam

"Jean Charles" vai estréiar nos cinemas no dia 26/06.
Foi uma experiência muito interessante acompanhar a história por trás do filme, o que aconteceu por que o roteiro foi produzido pelo Henrique Goldman e pelo Marcelo Starobinas, meu querido irmão. A batalha por produzir um filme que fizesse jus à memória do Jean Charles de Menezes, mas ao mesmo tempo sem cair numa receita fácil de endeusá-lo ou colocá-lo como mártir. A luta que é conseguir viabilizar a produção de um longa metragem de qualidade, mesmo quando você tem nomes como o do Stephean Frears como um dos produtores. O compromisso de chegar a uma narrativa que, apesar de ser só inspirada em fatos reais, fosse bem recebida pela família do Jean Charles e pelas pessoas próximas a eles.
Essa semana que passou assisti a pré-estréia - o filme é lindo.
Os atores estão bem - o Selton Mello dá conta de fazer um Jean Charles multifacetado, o Luis Miranda é excelente como o primo Alex, a Vanessa Giácomo é uma linda brasileirinha mineira, assustada e impressionada com Londres. A prima de Jean Charles, Patrícia, é interpretada pela própria prima, Patrícia Armani - e segura trabalhar no meio do resto do time. Alguns outros atores foram recrutados entre pessoas que conviviam com o Jean Charles.
O filme mostra também as questões do dia a dia dos brasileiros em Londres, suas aspirações e dificuldades. As cenas da cidade, aliás, são um show de fotografia no cinema, e contribuem com a narrativa do filme ao apontar para a sedução da capital britânica como centro do mundo. As contradições da variedade multicultural e as tensões que permeiam as diferenças também são trabalhadas com delicadeza.
As críticas estão pipocando no jornal, e deixo aqui a indicação de duas que gostei:
a de O Globo, "Jean Charles emociona uma cidade inteira", que descreve a projeção do filme feita no estádio de Gonzaga, para a população da cidade de Jean Charles, e "Emoções bem dosadas", de Isabela Boscov na Veja.
Como disse meu amigo Kobashi na saída do filme, é difícil você se emocionar num filme quando ovcê já sabe o final. Sei que sou suspeita para estar aqui elogiando, mas concordo com ele: os caras conseguiram.
Assistam.

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terça-feira, junho 16, 2009

Contra a PM na USP

Essa manhã resolvi deixar de lado os trabalhos que tinha de corrigir e as atividades que tinha de preparar para ir a USP, universidade que me ofereceu formação na graduação, licenciatura, mestrado e doutorado, para participar de um ato em repúdio a presença da Polícia Militar na Universidade e ao descabido uso da força policial em manifestações na última semana. Seguem três post de voz que fiz no Gengibre, resumindo as falas da professora Marilena Chauí e do professor Antonio Cândido na mesa dessa manhã. Para arrematar, um video do protesto do dia 09.
Contra a PM na USP 1

Contra a PM na USP 2 - Marilena Chauí

Contra a PM na USP 3 - Antonio Cândido


Contra a PM na USP 4 - Marilena Chauí, Maria Vitória Benevides, minhas considerações

PM na USP - 09/06/2009

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quinta-feira, junho 11, 2009

Se você ainda não sabe tudo o que precisa sobre o Twitter


Amanhã, 10/08, às 16h, será lançado o e-livro:

Escrito pelo Juliano Spyers, que já nos ofereceu contribuições como Conectado e a organização de Para entender a internet, o livro é um ótimo guia de orientação para usuários da Rede que não conseguiram simplesmente "subir no bonde" do streaming e entrar na conversa.
O lançamento, ocorrerá no próprio Twitter, e devo estar por lá acompanhando, entre outras coisas por que acompanhei a produção do texto, contando um pouco do uso que faço e dando alguns pitacos na leitura do texto final.

E aproveitando a ocasião, ponho no ar um post que estava em rascunho há quase dois meses - :( - que traz um pouco dos insights do Steven Johnson sobre o Twitter, no artigo que ele escreveu para a Time Magazine no último mês de junho:


"O mais fascinante sobre o Twitter não e o que ele está fazendo conosco. É o que nós estamos fazendo com ele"

Numa discussão com um grupo limitado de pessoas, Twittar pode fazer com que as idéias que circulam naquele ambiente extrapolem o espaço e cheguem a outras pessoas, que passam a poder influenciar a conversa com os seus comentários também. A experiência narrada por Johnson, sobre a conferência Hacking Education, acontecida em março, já foi experimentada por aqui em eventos como o Campus Party ou a transmissão online do Roda Viva. É o que ele está chamando de "2a camada da discussão", que permite ampliar a audiência e ocasionar intepenetração de vozes. Possui também o efeito de potencializar a continuidade da discussão na Rede.
A limitação de caracteres possui um intuito evidente de permitir a circulação de posts a partir de celulares, agregando de forma mais intensa a mobilidade à experiência de interação. Esse caráter de mensagem instântanea e pública dá vazão a uma circulação de micro-textos que cobrem da absoluta subjetividade dos humores individuais às informações de utilidade pública imediata. Essa caracteristica, como bem aponta Johnson, faz com que a fruição do fluxo do Twitter nos brinde com uma mescla que reúne assuntos de esfera pessoal com temas da vida pública da cidade, incluindo detalhes de absoluta irrelevância - por exemplo, o fato que o jornalista X se encontra no aeroporto, para ir ao Rio. Trata-se, portanto da plataforma de comunicação que utiliza com mais propriedade o aspecto flutuante de nossa atenção, apostando na facilidade com que cada usuário descartará de imediato a informação superflua e destacará as relevantes. O descarte, evidentemente, não constitui um anulamento do contato com a informação, que passa a constituir um arquivo de bastidor na memória de cada um.
O Twitter também vai se monstrando uma plataforma muito mais ágil para a atualização do que surge de interessante na Rede, ultrapassando o Google como espaço de disseminação de informação imediata. Para conhecer a história de um determinado tema (dos romanos a um famoso jogador de futebol), os buscadores tradicionais são os indicados. Para saber do que está se falando dele nesse exato momento, o lugar é o Twitter.

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segunda-feira, junho 08, 2009

Educadores nos sites de colocação profissional?

Estimulada pelo convite da Sam Hiraishi e pelo post do Tecnocracia, fica aqui um comentário sobre sites de colocação profissional.
Minha experiência com "colocação profissional" possui um olhar de muita dúvida.
Uma vez, durante um intervalo profissional entre um trabalho e outro, tive curiosidade de ir conversar com um consultor de uma dessas empresas de recrutamento. Ele mostrou interesse pelo meu currículo, e sugeriu que eu participasse das atividades de qualificação para os processos seletivos, pelo valor módico de R$1200,00. Meu currículo, então, passaria a compor o banco da empresa, podendo por lá permanecer pelo prazo de um ano.
Evidentemente entendi que encontraria uso melhor para esse dinheiro e continuei minha vida profissional utilizando o networking pessoal, como sempre fiz.
Acho que educadores não se vêem muito apostando suas fichas em sites de colocação.
Observando agora o Monster Brasil, a primeira questão que me saltou aos olhos foi a existência da categoria "treinamento/instrução". Quem trabalha com educação não se identifica com essa terminologia.
Por outro lado, gostei de ver a seção "carreira", que objetivamente oferece alguns textos que sim podem dar apoio a quem está procurando trabalho. E a idéia de manter a rede de contatos no próprio portal, como no Linkedin, é essencial nesse momento.
Seria extremamente confortável encontrar espaço para a busca de educadores em sites de colocação profissional. Quem sabe essa nova empreitada toma para si o desafio de contemplar melhor os profissionais dessa área.

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terça-feira, junho 02, 2009

Inovação e inteligência coletiva no Brasil

Presentes inesperados...
Ontem à noite soube que o Cliic 2.0 - Congresso Laboratório de Inovação e Inteligência Coletiva (na PUC-SP) estava sendo transmitido online. O evento tem sequência hoje á noite, e a conversa no twitter está usando a tag #cliic .
A mescla entre acadêmicos e representantes do setor corporativo já estava anunciada, mas não imaginei que as falas conseguissem expressar tão explicitamente o abismo ideológico dessas esferas. Aliás, desculpem a inexatidão, pois o grande responsável por essa clareza não aceitaria o título de acadêmico. Cláudio Prado, coordenador das políticas de Inclusão Digital do Ministério da Cultura durante a gestão do ministro Gilberto Gil, afirmou literalmente; "Eu não sou professor, eu sou hippie, escapei da deformação!"
Sua fala evidentemente destoa da do professor de marketing Ricardo Zanotta, que o antecedeu. Tratando da chamada "economia criativa", Zanotta exalta a criatividade do brasileiro, que conhece de perto - dá exemplos de seu envolvimento com a produção das escolas de samba. Mas para ele, "como nós vivemos no capitalismo, precisa pegar essa criatividade toda e fazer alguma coisa". Ou então das afirmações do professor Antonio Vico Mañas, da área de gestão de inovação, para quem "informação, comunicação e conhecimento - tudo isso se transformou em negócio - em novos negócios...".
O pensamento reflexivo estava bem representado pela Pollyana Ferrari, professora de jornalismo da PUC. Ela mostrou, com situações absolutamente atualizadas - o desastre do vôo 447 da Airfrance - como a mídia tradicional mantém-se surda às vozes da Rede, mesmo num momento de absoluta carência de informações. Para ela, a categoria dos jornalistas, acostumada a atuar sempre como a guardiã da informação e a pioneira em sua difusão, está aterrorizada com a súbita avalanche de informantes, bem mais ágeis em sua capacidade de disseminação de novos elementos para as pautas em evidência e criação de pautas inesperadas.
Reforçando as origens contraculturais da Rede, Cláudio Prado falava como um profeta. O digital é potencialmente subversivo, pela sua plasticidade no que diz respeito à circulação e reutilização. Essa qualidade lhe permite auxiliar na descontrução do monopólio dos Direitos Autorais, um dos principais sustentáculos da economia e da cultura do século XX. Hora, portanto, de olharmos para frente.
O ar profético de Cláudio Prado se acentua ainda quando ele narra as transformações que vê ocorrendo no Brasil. O investimento feito na criação dos Pontos de Cultura ia na linha de promover processos que desencadeassem novas criações a partir do acesso aos recursos digitais, mas com uma política consciente de perda do controle dos resultados pelo Estado. Polêmico, como sempre, mas coerente com a contracultura. Para Prado, a disseminação da banda larga como oferta pública, já em curso (e pelo jeito mais acelerada no Ceará e no Rio de Janeiro), vai atropelar as iniciativas de limitação de acesso e controle do uso. A Lei Azeredo é incômoda e deve ser combatida, mas não parece ser uma preocupação enorme para ele: é uma lei que não tem futuro. Daqui a 5 anos, afirma Cláudio Prado, todo mundo vai ter conexão de banda larga de boa qualidade no Brasil, e isso ocorrerá nas barbas das teles.
A enorme distância entre o Brasil vislumbrado por Prado e o país descrito por Zanatto e Vico Mañas deixa à mostra as sérias contradições que permeiam a gestão dos temas relativos à disseminação das Tecnologias da Informação e Comunicação atualmente. Existe síntese possível entre esses dois universos?

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