domingo, setembro 28, 2008

Tempo, tempos, um tema delicado

Estive recentemente conversando sobre idéias centrais da minha tese de doutorado com um grupo bem interessante, que denomina-se Praxis, formado por profissionais aqui de São Paulo que dedicam-se a iniciativas de aproximação entre tecnologias e educação.
Uma das formas que me pareceu interessante para aproximar o meu olhar à ação que se desenrola quando educadores interagem em fóruns foi o construto "agentes-agindo-com-ferramentas-culturais", proposto pelo psicólogo norte-americano James Wertsch. Assim, tanto a mudança dos agentes quanto a mudança das ferramentas culturais leva a uma nova ação a ser descrita (evidentemente é mais complexo que isso, mas fico por aqui nesse momento).
Quando pensamos na interação em fórum, o tema "questões temporais" aparece com muita evidência, pois a criação de um tempo de comunicação diferenciado é um dos diferenciais dessa ferramenta. E isso aparece de muitas formas: dificuldade com o ritmo das mensagens, lentidão de servidor, variedade das expectativas em relação aos frutos de um determinado diálogo. Defendo, portanto, que apropriar-se do fórum demanda superar esse momento de estranhamento, seja obtendo condições de acesso (com frequência e banda), seja logrando assenhorar-se do trato com a ferramenta, seja encontrando-se no grupo.
Um ponto que me chamou a atenção na conversa foi uma certa sensação de que "não há tempo", quer dizer, proporcionar aos cursantes tempo é um "luxo" que não podemos nos permitir. Isso é um problema, pois numa sociedade em que todos os processos são excessivamente acelerados, a impressão de escassez de tempo passa a ditar a orientação que imprimimos a tudo. E há alguns horizontes que não atingiremos pela indução dos processos. Um deles, por exemplo, é o fomento à aprendizagem com autonomia.
Ninguém ensina ninguém a exercitar-se de forma autônoma ditando-lhe o ritmo de seus passos, e, principalmente, impondo-lhe desde o início um ritmo intenso.
Entendo que projetos e cursos necessitam trabalhar dentro de prazos, e diante disso cabe às pessoas se organizarem para segui-los. Entretanto, escamotear as dificuldades de gestão temporal em nome das razões institucionais representa um passo para o insucesso. Ja temos tempo suficiente de experiência para sermos menos ingênuos em relação a esse quesito.

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sexta-feira, setembro 26, 2008

Visões além da tela: Ensaio sobre a Cegueira

Ontem fui assistir Ensaio sobre a cegueira, o filme de Fernando Meirelles a partir do livro do José Saramago. Eu sou do time que leu e amou o livro, então estava ansiosa para saber se o filme estaria à altura do texto literário.
Gostei muito. Ele não desmonta a prazerosa memória que eu tinha da leitura e, à sua maneira, gera também desconforto e inquietação. A fotografia é primorosa, os atores estão bem, a direção do Meirelles confirma seu bom timing para situações de tensão (como em Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel, que aliás revi recentemente com os alunos).
Agora, uma provocação em especial está dada para quem vive em São Paulo. A cidade está no filme quase que o tempo todo, mas não está no filme, por que ela serve de cenário para um lugar anônimo. A cidade em que se passa o filme pode ser qualquer metrópole do mundo ocidental contemporâneo, e Meirelles brinca com isso ao logo do filme, inundando nossos olhos com referências de grande familiaridade, mas esvaziando-as dos detalhes que poderiam nos garantir que trata-se sim da nossa cidade. É quase uma ousadia, despir a historicidade de uma cidade e depois oferecê-la na tela a seus próprios habitantes.
Pra completar, a trilha sonora é basicamente Uakti, cujo trabalho conversa maravilhosamente com a direção e o ritmo do filme.
Sem mais detalhes para não estragar o prazer de quem ainda não viu.

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quinta-feira, setembro 25, 2008

Possibilidades de uso da web no Ensino Médio

Para quem interessar, vai aqui o artigo que apresentamos no I Seminário WebCurrículo, na PUCSP, sobre algumas iniciativas de uso da internet no Ensino Médio da Escola Vera Cruz.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Um pouco do dia no WebCurrículo

Assisti, essa manhã, a palestra do Prof. Paulo Dias, da Universidade do Minho, chamada
E-mediação das aprendizagens nas comunidades online. Minhas anotações estão aqui.
Foi interessante conhecer o olhar desse professor, que tem proximidades a forma como eu vejo a vida em comunidade.
Sobre os outros momentos do dia:
Da primeira mesa que acompanhei de apresentação de trabalhos, fiquei conhecendo uma pesquisa que pode ser interessante relacionada à formação de professores para docência online, que reúne 13 programas de pós-graduação, cada um dos quais está elaborando um módulo do projeto em ambiente Moodle. Além da elaboração, todos os pesquisadores participam como discentes nos módulos produzidos pelos demais. A Tatiana Claro, orientanda do prof. Marcos Silva, está pesquisando o processo.
Na mesa da tarde fizemos nossa apresentação sobre o trabalho com TIC no Vera Cruz, e as outras duas apresentações foram bem interessantes: um pessoal do Nied apresntou o projeto Time, e a Silene Kuin, que trabalha na FDE, órgão central nas formações de professores da Secretária de Estado da Educação (SP), apresentou algumas observações de seu mestrado, que trabalhou com duas escolas, uma bem sucedida na implementação de TIC e integração ao currículo e outra não.
Na mesa do fim da tarde, gostei da fala do prof. Fernando José de Almeida que pensava nos possíveis paralelos entre as infovias contemporâneas e a estratégia do Império Romano de abrir estradas para consolidar-se.
Prazer paralelo foram vários reencontros com pessoas queridas...

sexta-feira, setembro 19, 2008

WebCurrículo na PUC - decisões sobre a participação

Segunda-feira próxima começa na PUC-SP um seminário chamado Web Currículo ( e continua na 3a f, ao longo do dia).
Eu apresentarei na 2af às 14h, junto com meus colegas Eduardo Mancebo e Solange Wagner Locatelli , um trabalho a que demos o nome "O uso de ferramentas da Web no Ensino Médio da Escola Vera Cruz". Falaremos, em linha geral, como tem sido a orientação para a inserção de tecnologia no cotidiano da sala de aula, e relataremos quatro exemplos concretos de uso das TIC acompanhando os conteúdos curriculares dessas séries.
A decisão de participar desse seminário com um texto coletivo e falando do trabalho que venho desenvolvendo com os alunos (e que vejo meus colegas desenvolverem) foi curiosa, pois eu poderia também me inscrever com um texto sobre a tese, recém terminada. Mas entendi que o desafio do seminário era ampliar o repertório das aplicações práticas e pensar sobre elas, e resolvi investir em mobilizar a equipe para olharmos para nossa prática.
Já colhi resultados dessa decisão mesmo antes do trabalho ser aceito: o texto foi bem recebido na escola, e acho que deflagramos um processo que terá desdobramentos, o convite a olhar para uma prática que encontra pouco tempo para formalizar-se, mas que pode render coisas importantes para o coletivo se observarmos mais e trocarmos mais.
Por outro lado, vi entre os trabalhos selecionados muitas abordagens teóricas, em especial sobre formação docente, e estou curiosa para conhecer essas pessoas e suas idéias, descobrir se dialogam com a minha produção teórica, enfim, fazer novas conexões.
O programa do Seminário está aqui no site e das mesas pode ser encontrado aqui.

quinta-feira, setembro 18, 2008

"A riqueza das Redes" na midiateca online do IEA

Descobri que o Instituto de Estudos Avançados da USP colocou online uma coleção respeitável de vídeos e áudios, sem decupagem, das conferências e debates que ocorreram lá.
Estão separados por temas, e acredito que haja muita coisa interessante.
Fico feliz por ser essa atitude do IEA, instituição pela qual tenho um carinho especial, pelos anos de trabalho conjunto na época em que eu coordenava o Educar na Sociedade da Informação.
Aliás acredito que nossas iniciativas no Educar, de transmitir ao vivo as aulas e disponibilizar todo o nosso material na rede influenciou esse movimento de compartilhamento dos demais materiais lá produzidos. Ou, no mínimo, ajudou a dar um bom treino ao pessoal técnico.
Entre outros, estão lá os vídeos do ciclo "A riqueza das Redes", uma série de debates ao redor da obra do Yochai Benkler, que aconteceu em 2007.

terça-feira, setembro 16, 2008

O mercado e a inovação tecnológica na educação

Já há alguns meses eu havia lido um artigo do professor mexicano Guillermo Orozco Gómez, que se chama "Podemos ser mais criativos ao adotar a inovação tecnológica na educação?", e deixei para blogar com mais calma, achando que encontraria o momento para me alongar nas reflexões. Isso não aconteceu, mas já que eu voltei ao artigo hoje, provocada por uma discussão que tem rolado na Edublogosfera, vai aqui um trecho que me pareceu valioso, pela clareza com que ele trata sobre as limitações do mercado como motor das transformações educacionais:
"A problemática central aqui é a seguinte: por que uma perspectiva de livre mercado não é uma boa forma de se aproximar da inovação? Para responder a essa pergunta, a posição de Martín-Barbero (1998) resulta especialmente interessante e provocativa. Ele se questiona: o que é aquilo que o mercado não consegue fazer, ainda que se considere que seus simulacros sejam bons? E ele responde: em primeiro lugar, o mercado não conseguiu “sedimentar tradições” porque tudo o que é produzido evapora no ar, já que a tendência estrutural do mercado para generalizar e acelerar a obsolescência não traz apenas conseqüências para as coisas, os produtos enquanto tal, mas também para os modos e as instituições. Em segundo lugar, o “mercado não conseguiu criar laços sociais entre os sujeitos sociais” (Martín-Barbero,1998: 15) uma vez o mercado opera anonimamente segundo as lógicas de valor que representam somente trocas formais.
O que se revela preciso é a constituição de verdadeiros processos de construção e comunicação de sentido entre os sujeitos. E a respeito disso, Martín-Barbero enfatiza: ainda que essas trocas formais gerem algumas associações motivadas pelas promessas oferecidas pelos produtos e serviços para o consumidor, tais promessas geram satisfação ou frustração mas nunca sentido enquanto tal. E eis talvez a convicção maior de Martín-Barbero ao afirmar, em terceiro lugar, que o mercado é incapaz de gerar o que se chama de “inovação social”, já
que esse tipo de inovação supõe diferenças e solidariedades não-funcionais que implicam dissidências e resistências, enquanto o mercado “trabalha unicamente com lucros e perdas” (idem:16)".

segunda-feira, setembro 15, 2008

Eça de Queiroz - um século XIX tão atual

Ando encantada com a leitura do A Cidade e as Serras, do Eça de Queiroz, por sugestão da minha colega Cristiane Siniscalchi. O livro descreve,com vivacidade, uma relação de fascínio e fastio de um abastado herdeiro português que vive de rendas em Paris. Fascínio pela infindável fruição cultural, a abundante produção de literatura e filosofia, o contato cada vez mais estreito com o que há de melhor em todos os cantos do planeta, o conforto de estar servido pelas mais variadas inovações tecnológicas, como a eletricidade, o fonógrafo, o telégrafo, enfim, o que havia de mais recente em invenções na Europa. Fastio, por que aos poucos o personagem vai mergulhando numa inapetência total frente à tanta fartura, insuficiente para trazer-lhe alguma mobilização existencial.
Como há muito não lia Eça de Queiroz, tinha me esquecido da qualidade de sua prosa, e agora igualmente me delicio com a própria literatura, com passagens antológicas, e com o paralelo que ela pode propiciar entre o final do XIX e o período que estamos vivendo.
Recomendo com veemência.

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terça-feira, setembro 09, 2008

Blog no Stoa

A partir de hoje, as postagens desse blog aparecerão também no post do Stoa. Pra quem não sabe, o STOA é uma rede social de alunos, professores, ex-alunos (e funcionários?) da USP.

sábado, setembro 06, 2008

O poder de organizar sem organizações

A semana foi boa de leituras, e tive a sorte de chegar a três obras bem instigantes.
Um delas foi o Here comes everybody: the power of organizing without organizations, do Clay Shirky. Já tinha lido sobre o lançamento, mas encomendei o livro por sugestão do prof. Imre Simon, que estará na banca da minha defesa de tese e sugeriu essa leitura como inspiração. Ele acertou, pois o Shirky está tratando das formas como o uso das tecnologias da informação e comunicação alteram as articulações sociais e proporcionam oportunidades diferenciadas de ação conjunta. E isso realmente me interessa, pois um movimento importante do meu estudo é olhar para o que muda na ação humana de acordo com as "ferramentas culturais" utilizadas, como propõe o James Wertsch. E celulares, fóruns, msn, videos, etc, são todos ferramentas culturais.
Segue um trecho do livro do Shirky:
"Here's where our native talent for group action meets our new tools. Tools that provide simple ways of creating groups lead to new groups, lot's of new groups, and not just more groups, but more kinds of groups. (...) We now have communication tools that are flexible enough to match our social capabilities, and we are witnessing a rise of news ways of coordinating action that take advantage of that change. These communication tools have been given many names, all variations of one theme: "social software", "social media", "social computing" and so on... Though there are some distinctions between these labels, the core idea is the same: we are living in the middle of a remarkable increase in our ability to share, to cooperate with one another, and to take collective action, all outside the framework of traditional institutions and organizations".p.20

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sexta-feira, setembro 05, 2008

Conectivismo e Conhecimento Conectivo

Começa na próxima semana um megacurso online,Connectivism and Connective Knowledge.
George Siemens e Stephan Downes, os dois mentores do curso, são figuras centrais no pensamento sobre aprendizagem na Rede. Até o momento, há cerca de 1600 pessoas do mundo inteiro inscritas para participar.
Quem quiser saber algo sobre a idéia de conectivismo, essa postagem do Siemens é o caminho.
Estou curiosa com a experiência, pois entendo que ao participar, além das leituras, debates e boas propostas que poderei encontrar também contribuirei, seja na participação nas atividades do curso ou na difusão das idéias que circularão lá, nesse blog ou nos demais meios em que deixo as minhas pistas na Rede.
O uso de um tag específico, por exemplo, ajudará os organizadores a acompanhar e mapear o fluxo internacional de postagem dos participantes, e, portanto, ter idéia da ramificação dos debates que semearam. A idéia é a multiplicação dos espaços de debate, traduções de alguns materiais, enfim, disseminação das idéias.
Quem tiver interesse em participar, acho que ainda está em tempo.

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