O uso ético das mídias sociais
O uso da Rede para debate e contrapontos frente a situações polêmicas tem sido de grande riqueza. Quem está há tempos na internet sabe que isso não é novo, mas vai adquirindo ramificações e uma disseminação cada vez mais ampla com a adoção de ferramentas variadas por diversos segmentos da população, como foi o caso dos blogs e como está sendo o caso do Twitter.
No caso da greve na USP, esse fenômeno se repete. Há algumas questões, entretanto, que acho que precisam ser observadas.
A facilidade de produção das mídias digitais, sua publicação e disseminação faz com que nenhuma posição detenha o monopólio da expressão, o que é um ganho valioso para as sociedades democráticas. Antigamente, o "Estado de S. Paulo" dificilmente publicaria no mesmo dia o editorial 'Crise na USP: a peculiar noção do ‘direito sagrado de opinar’ tolhe outros direitos", criticando severamente os mesmos professores que são elogiados, no mesmo dia, por um texto como o do Luis Zanin, "Candido e a Oração aos Moços" . Essa plasticidade de vozes, com os órgãos tradicionais da Mídia reconhecendo e dando espaço para as idéias em confronto, é um dos bons frutos do fortalecimento da Rede.
Por outro lado, essa mesma multiplicidade desafia nossa capacidade de avaliação quanto às imagens que assistimos. Um exemplo disso é a contraposição entre esse vídeo sobre o confronto entre a PM e os manifestantes (que publiquei há dois post atrás) e esse outro, que mostra a tensão entre representantes do Sintusp (Sindicato dos Funcionários) e estudantes querendo entrar em sua unidade.
Ambos os vídeos causam repulsa, e podemos supor que a recusa da violência nos dois casos comprova a complexidade do xadrez político na USP. Por outro lado, se considerarmos a edição ou a criação de situações premeditadas para gravar uma reação de impacto, precisariamos considerar o desejo de manipulação que pode estar embutido nessas mídias.
Cheguei ao segundo vídeo por uma indição do Marcelo Tas no Twitter, outro cenário acirrado desse debate. Ele indicava o link (aliás, vi agora que repetia uma postagem do blog). Agregado ao link, a frase: "Olha a forma "democrática" como atuam os grevistas da USP. PM nesses vagabundos!" A postagem no Twitter rendeu protestos e apoios, e entre outras coisas uma campanha de #unfollow ao Tas, que tem mais de cem mil seguidores. A polêmica no blog também foi intensa, rendendo 169 comentários, e um post posterior do Tas se retratando, arrependido do termo "vagabundos", mas convicto de seu posicionamento.
Hoje, também por outra indicação do Twitter, cheguei à comunidade USP - Universidade de São Paulo no Orkut, que possui 47580 seguidores. Quem é o dono da comunidade? A indicação leva a um perfil de nome Comunidade USP, que por sua vez não nos leva a ninguém. Concluo daí que trata-se de alguém que não quer se identificar. E, portanto, não tem como representar ninguém ao mudar a imagem da comunidade e incluir, em letras garrafais "Alunos da USP contra os Reacionários do Sintusp".
Não sou contra o anonimato na Rede, mas acho questionável a postura ética de um anônimo que faz uso de uma comunidade numerosa para expressar apenas a sua posição pessoal. É possível que seja também a opinião de parte de seu público, mas nenhum deles foi consultado sobre seu desejo de se expressar daquela forma, menos ainda aqueles que discordam desse administrador. Minha crítica seria a mesma se nessa comunidade estivesse estampado "Fora Reitora". O que estamos vendo aqui é o "sequestro" de uma comunidade numerosa de seguidores à serviço de uma única voz do debate. Acho que esse comportamento deveria ser punido pelo Orkut.
Noves fora todos os desgastes que permeiam essas discussões, entendo que elas são abençoados sinais de que vivemos um rico momento de liberdade no país. O que deve nos motivar ainda mais para ficar de olho e não dar espaço a nenhuma armadilha que a venha suprimir.
No caso da greve na USP, esse fenômeno se repete. Há algumas questões, entretanto, que acho que precisam ser observadas.
A facilidade de produção das mídias digitais, sua publicação e disseminação faz com que nenhuma posição detenha o monopólio da expressão, o que é um ganho valioso para as sociedades democráticas. Antigamente, o "Estado de S. Paulo" dificilmente publicaria no mesmo dia o editorial 'Crise na USP: a peculiar noção do ‘direito sagrado de opinar’ tolhe outros direitos", criticando severamente os mesmos professores que são elogiados, no mesmo dia, por um texto como o do Luis Zanin, "Candido e a Oração aos Moços" . Essa plasticidade de vozes, com os órgãos tradicionais da Mídia reconhecendo e dando espaço para as idéias em confronto, é um dos bons frutos do fortalecimento da Rede.
Por outro lado, essa mesma multiplicidade desafia nossa capacidade de avaliação quanto às imagens que assistimos. Um exemplo disso é a contraposição entre esse vídeo sobre o confronto entre a PM e os manifestantes (que publiquei há dois post atrás) e esse outro, que mostra a tensão entre representantes do Sintusp (Sindicato dos Funcionários) e estudantes querendo entrar em sua unidade.
Ambos os vídeos causam repulsa, e podemos supor que a recusa da violência nos dois casos comprova a complexidade do xadrez político na USP. Por outro lado, se considerarmos a edição ou a criação de situações premeditadas para gravar uma reação de impacto, precisariamos considerar o desejo de manipulação que pode estar embutido nessas mídias.
Cheguei ao segundo vídeo por uma indição do Marcelo Tas no Twitter, outro cenário acirrado desse debate. Ele indicava o link (aliás, vi agora que repetia uma postagem do blog). Agregado ao link, a frase: "Olha a forma "democrática" como atuam os grevistas da USP. PM nesses vagabundos!" A postagem no Twitter rendeu protestos e apoios, e entre outras coisas uma campanha de #unfollow ao Tas, que tem mais de cem mil seguidores. A polêmica no blog também foi intensa, rendendo 169 comentários, e um post posterior do Tas se retratando, arrependido do termo "vagabundos", mas convicto de seu posicionamento.
Hoje, também por outra indicação do Twitter, cheguei à comunidade USP - Universidade de São Paulo no Orkut, que possui 47580 seguidores. Quem é o dono da comunidade? A indicação leva a um perfil de nome Comunidade USP, que por sua vez não nos leva a ninguém. Concluo daí que trata-se de alguém que não quer se identificar. E, portanto, não tem como representar ninguém ao mudar a imagem da comunidade e incluir, em letras garrafais "Alunos da USP contra os Reacionários do Sintusp".
Não sou contra o anonimato na Rede, mas acho questionável a postura ética de um anônimo que faz uso de uma comunidade numerosa para expressar apenas a sua posição pessoal. É possível que seja também a opinião de parte de seu público, mas nenhum deles foi consultado sobre seu desejo de se expressar daquela forma, menos ainda aqueles que discordam desse administrador. Minha crítica seria a mesma se nessa comunidade estivesse estampado "Fora Reitora". O que estamos vendo aqui é o "sequestro" de uma comunidade numerosa de seguidores à serviço de uma única voz do debate. Acho que esse comportamento deveria ser punido pelo Orkut.
Noves fora todos os desgastes que permeiam essas discussões, entendo que elas são abençoados sinais de que vivemos um rico momento de liberdade no país. O que deve nos motivar ainda mais para ficar de olho e não dar espaço a nenhuma armadilha que a venha suprimir.