Conversas ficam muitas vezes ressoando na nossa mente dias após a sua concretização. E nós continuamos dialogando com elas, respondendo interiormente, pensando no que faltou dizer.
Os enunciados daquela sessão da defesa de tese têm me acompanhado, o que me parece excelente, pois assim poderei, ao longo do tempo, olhá-los com atenção e compreender que transformações eles podem trazer para a forma como tenho analisado as interações em fórum.
Uma das questões era relativa a idéia de "negociação de significados" no processo de "produção de sentido". Esse deve ser um dos temas mais complexos do trabalho, parece bastante impalpável e muitos vezes indiscernível.
Pergunta o membro da banca: será que é adequado falar em "negociação de significados"?
Não deu para abordar essa questão naquela tarde, eram inúmeras as colocações e a hora bem avançada.
O que me ocorreu, depois, é que, naquele exato momento, estavamos negociando o significado da palavra "negociar". Isso só é possível se considerarmos correta a observação de Vigostski, relativa ao caráter mutante do significado da palavra.
Se entendermos que sim, o significado da palavra não é estático, mas depende sempre de sua história para um coletivo, depende de quem a pronuncia, para quem a dirige, em que momento e contexto, com que tom, podemos então reconhecer que na comunicação é sempre necessária uma busca da "estabilidade" do signficado da palavra.
Negociar, nesse sentido, é marcar os limites e as condições para que a palavra possa ser compreendida. Como nas demais negociações, é preciso ceder, reformular, encontrar um terreno comum de reconhecimento.
Essa é uma rotina que incorporamos com tanta naturalidade que só ocasionalmente nos damos conta dela.
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