Quando a gente se encanta com uma nova tecnologia ou com um novo conjunto de tecnologias articuladas?
Ao que parece, quando sua existência nos permite usos ainda não cobertos por outras precedentes, ou aperfeiçoamento de propostas já disseminadas. Na semana que termina, fiquei muito instigada com a associação Twitter+Twemes, em situação evidentemente proporcionada pela existência de auditórios com cobertura WIFI e disposição dos organizadores do eventos para transmitir ao vivo suas sessões pela internet.
A coincidência de horário entre a a mesa da noite no simpósio da Associação Brasileira de Pesquisadores de Cibercultura (ABCiber) e o debate com o Jimmy Walles, fundador da Wikipedia, no Centro Cultural São Paulo, obrigou parte do público a optar por um deles. Eu permaneci na PUC, e me dispus, como outros companheiros da audiência, a anotar no Twitter minhas impressões sobre as falas dos participantes. Descobri que havia transmissão online do debate com o Wales diretamente do Centro Cultural, e assim pude rapidamente acompanhar o que estava se passando lá, e tirar minhas próprias conclusões sobre a escolha que havia feito.
Eramos pelo menos quatro pessoas twittando no mesmo auditório. Com a tag
#abciber no início da mensagem, pude acompanhar, pelo Twemes, os comentários da
Raquel Recuero, do
Carlos Nepomuceno e da
Adriana Amaral. A Sú Gutierrez escrevia de Porto Alegre, de onde acompanhava a transmissão online da ABCiber. Pouco depois soube pela Raquel que
#wikidebate era a tag usada no debate do Wales, e assim passei a acompanhar os comentários de alguns participantes daquele evento.
Foi uma experiência empolgante. A associação dessas ferramentas permite que você acompanhe a fala do palestrantes, mas ao mesmo tempo a reação de outros colegas a essa fala - ou, como diria Bakhtin, a "atitude ativamente responsiva" de outros sujeitos frente a um mesmo enunciado. É um pouco como a conversa paralela na aula ou na sala de cinema, mas que logra existir sem som e com pessoas distantes fisicamente de você. Os comentários, que, aliás, podem ser encontrados no Twemes posteriormente, oferecem a quem quiser, um conjunto de impressões sobre a situação, sejam eles diretamente relacionados às idéias em debates, sejam a aspectos da infra-estrutura ou do comportamento do público.
Na manhã de 3a, por exemplo, houve problemas na transmissão online, e eu, que havia permanecido em casa devido a necessidade de adiantar outros trabalhos, só consegui acompanhar por meio dos comentários. Ao mesmo tempo, conseguimos acionar algumas pessoas no auditório para pedir provdência quanto ao som. Na manhã de 4a, ocupada na sala de aula durante todo o período, a cobertura da Raquel no Twitter foi fundamental para ter mais claro do que se tratava a
palestra do Alex Primo, também relacionada a gêneros nos enunciados produzidos na internet, área de interesse da minha pesquisa.
A fala do
André Lemos, na noite de 3a, descreveu com muita inteligência aquela cena curiosa, mas que está se tornando frequente: parte dos presentes na audiência, iluminados pela tela do laptop em seu colo, com a atenção esgazeada entre o discurso do painelista e os comentários de seus colegas, ou seja lá que outro atrativo drenando a sua atenção do espaço presente naquele momento. Na verdade, isso é uma imprecisão, pois os demais colegas twiteiros podem ser parte do espaço presente. A atenção é desfocada da voz de um emissor central, detentor legítimo daquele espaço de tempo, para um exercicio de multivocalidade entre a audiência (presente e distante). Não há novidade no desfocar da atenção, que não nasceu com o computador nem com a internet. A novidade é a ânsia por essa partilha de reações coetâneas ao enunciado, e que em algumas situações podem ser de grande valia, e em outras uma atitude compulsiva, que traz mais perdas (como qualidade da escuta) do que ganhos.
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